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Alagações: muita conversa, poucas atitudes


                                                                    Alagações: muita conversa,  poucas atitudes - Gente de Opinião


                                                                  Prof. Edilson Lobo do Nascimento
 

Pelo menos três fontes, subsidiadas de alguma maneira por informações calçadas na realidade, estão sendo veiculadas desde o início da semana, e tem provocado uma certa aflição ao povo de Rondônia, em especial à população de Porto Velho.

Os blogueiros Carlos Henrique do blog do Cha, Telma Monteiro que possui um blog com preocupações ambientalistas ligado ao movimento Energia e Sustentabilidade e o Grupo de Gestão Integrada (GGI) que integra representantes de órgãos tanto na esfera federal quanto estadual, ligados a fiscalização e segurança, todos em suas respectivas matérias, traziam uma preocupação: o rompimento das barragens do complexo Santo Antônio/Jirau.

Carlos Henrique, com base em informações segundo ele, de técnicos pertencentes ao Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Indam), faz um alerta catastrofista. Caso rompam-se as barragens, e isto é uma possibilidade, os impactos teriam efeitos de um tsunami, destruindo nada menos que 30% da cidade de Porto Velho, podendo causar a morte de 50 mil pessoas.

A ativista social Telma Monteiro é mais cautelosa, mas ressalta em seu blog, que o excesso de água nos reservatórios de ambas as usinas, principalmente a de Jirau, pode se romper caso não haja controle do nível do reservatório da usina de Santo Antônio.

Já o procurador e corregedor-geral de Justiça de Rondônia, Odiney de Paula, por ocasião da reunião do GGI, ocorrida em 17 de fevereiro do corrente, apesar de admitir que o momento é bastante preocupante pela situação que se vive com os alagamentos, se limitou a repassar o que colheu das assessorias de Santo Antônio e Jirau. A primeira tratou de  dizer que tudo é boato e Jirau diz tabalhar dentro dos parâmetros normais.

Observando essa conjuntura deveras preocupante,  podemos avocar duas máximas populares, bem adequadas ao momento. Uma de acautelamento e outra de desconfiança, ou como queiram, de eterna vigilância. Ou seja, caldo de galinha e prudência nunca faz mal a ninguém, bem como seguro morreu de velho e desconfiado até hoje ainda vive.

Se é verdade que não devemos criar pânico na população com notícias “bombásticas”, sobre pena de criarmos um clima de tensão e medo que em nada contribuem para manter a tranquilidade das pessoas. Também não temos nenhuma razão para acreditarmos nas informações vindas dos representantes das usinas em questão. Afinal de contas, mentiu-se tanto, antes e durante a construção dessas usinas, omitindo-se informações e atropelando-se laudos, perícias e relatórios técnicos, com o único intuito de fazer valer os interesses econômicos das empresas envolvidas, dos lobistas e políticos beneficiários com os esquemas desses empreendimentos, tanto os ligados ao legislativos, quanto os do executivo, tudo com o beneplácito da Presidência da República.

No trajeto das obras, logo no início, mudou -se a localização das instalações da usina de Jirau, para 9,2 km abaixo do que seria a original, sobre os protestos e liminares do MPF e MPE e ficou tudo por isso mesmo. Uma obra cuja licença para suas instalações já tinha sido aprovada com local definido e por questões meramente baseados em redução de custos, vê alterada sua localização, sem nenhuma preocupação com os impactos que poderiam  causar ao meio, sobre as vistas grossas do governo. Há algo de muito estranho, omissões e muita sujeira jogada para debaixo do tapete em tudo isso.

Já mais recentemente, foi autorizado o alteamento de 80 cm do reservatório de Santo Antônio, o que possibilitará a instalação de mais seis turbinas. Certamente uma modificação deste porte, não tem como não influenciar os impactos a serem causados ao meio ambiente. Nenhuma ação por parte das autoridades, exigindo algum estudo prévio, sobre os desdobramentos que podem advir com esse alteamento. Mais uma vez, a retórica se restringiu, ao âmbito das questões econômicas. Do quanto poderia ser ou não ser economizado, ou otimizado em termos de recursos.

Essa é a dura realidade na qual fomos forjado a conviver e tolerar. Os governos e o grande capital engendram os seus mega projetos. Carreiam para lá somas absurdas de dinheiro. O Estado se endivida até o pescoço para criar a infra-estrutura necessário, subsidia o que for necessário com uma benevolência quase franciscana. Atropelam o que se constituem em obstáculos, usando e abusando de mecanismos legais e imorais. Pior, a sociedade nunca é chamada a participar ou emitir a sua opinião. Quando o faz é somente para legitimar os pacotes já prontos e encaixotados.

Ao final, se algo porventura dê errado, aí sim, todos serão chamados a socializar os prejuízos e arcar com as consequências por tomadas de decisões arbitrárias e irresponsáveis sob as imposições do maistream econômico e político.

Seria extremamente oportuno , uma atitude de maior compromisso e um gesto de respeito à população do nosso Estado, se as instituições fiscalizadoras, reguladoras, etc, bem como entidades técnicas sem fins lucrativos e profissionais especializados na área, profundos conhecedores das questões que envolvem as usinas de Jirau e Santo Antônio, (se é que existem informações nesses níveis), pudessem vir a público e esclarecer à todos, sem subterfúgios, de forma clara e objetiva,  qual a real situação que estamos vivendo em relação aos possíveis alagamentos e se verdadeiramente existem riscos e em que medida isso pode ocorrer. Os colegas professores e professoras da UNIR que prestaram os seus serviços técnicos e que muito provavelmente detém informações de que nós não dispomos,   prestariam um grande serviço à comunidade ao deixa-la melhor informada. A população mais tranquilizada e mais confiante agradeceria.

Para encerrar, ressabiado com tantas mazelas e tragédias provocadas pela negligência, pela ganância e insensibilidade dos homens, só nos resta avocar mais uma máxima: “gato escaldado tem medo de água fria...”

Edilson Lobo do Nascimento

Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR

edilobo@bol.com.br

 

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