Domingo, 27 de janeiro de 2013 - 06h31
Por Marli Gonçalves
Começaremos já interrompendo as nossas transmissões para verificar em qual tomada ligar, qual padrão. Os internacionais? Ou será no nosso mesmo, todo nosso, brasileirinho, particular e original? Tomada de plugue, de pino, redonda ou achatada? Pior, se vai vir ou não com fio terra, expressão que em si já apavora quase metade da população, a masculina, e que confesso que nunca a entendi muito bem; não alcancei, digamos, tal dimensão de grossura. Adianto que a esta altura é inútil se preocupar, já que no escuro ninguém vê nada, só sente
Exatamente o que parece estar acontecendo aqui na política de nossa pátria santa. Ninguém vê mais nada e nada de mais, e a impressão é que as coisas estão sendo feitas no escuro, na maciota, nas negociações, por entre névoas. Que apagão que nada! Liguem as luzes para que a maquiagem dos números e contas públicas não saia torta - maquiagem no escuro é uma roubada. Fica toda borrada.
Valhei-nos, lanternas, velas, palitos de fósforo, lampiões, tochas e luzinhas de LED de todas as cores! Valhei-nos! Janeiro dá passagem ao mês de fevereiro na avenida, e os blocos já estão nas ruas - e não são os blocos de pré-sal, que esse Zinho aí anda esquecido no enredo. E porque essa música que soa nos faz - aos que estão alertas - lembrar daquela velha analogia, a da galinha, do ovo, de contar com os dois não sei onde. Contenha-se.
No mundo real, aquele que a gente acorda cedo para ir trabalhar, ou se está lento, ou vagaroso, periclitante. Primeiro, porque era o verão, as posses de prefeitos, as chuvas, a chapinha do cabelo, a preguiça, e aí para que começar uma coisa tão próxima do Carnaval? Produção, que é produção mesmo, novos negócios, aquecimento econômico, dinheiro circulando, gente comprando, neca de pitibiriba.
No acender das luzes desse próximo mês os-que-tinham-ido voltarão para nos assombrar lá no mundo imaginário, lá no Planalto Central, naqueles prédios de enormes corredores internos e que parecem uma cuia dividida. Lá retornarão ao poder os (poupe-me de nomeá-los, por favor) novosvelhos, que manterão a iluminação do abajur lilás e da luz vermelha na porta - e lá não é bem um estúdio de gravação.
Lá, onde não tem apagão, não sinhô, seus pessimistas de plantão, imprensa ignara! Lá onde se decidem as nossas coisas. Onde eles estão se juntando num bolinho só, para fazer a tal base de sustentação. A massa pobre, que vai pra batedeira, nem preciso descrever, não?
Lá. Onde baixam nossas contas de luz, mas é o dinheiro público que vai pagar a parte restante da bondade. Entendeu? Lá onde baixam uma energia e elevarão a outra, que também tem impacto direto e enorme na inflação, na alta dos preços que não param de subir nem no escuro.
Lá onde a chefe é maquiada para aparecer bonita e simpática no quadradinho mágico da sala de todos os brasileiros, anunciando que a luz não será apagada e poderá ser paga. O que, portanto, não precisa ser muito inteligente para ver, poderá fazer aumentar o consumo. Mas lá garantem que, como Deus é brasileiro, encherá os reservatórios, afastando - fiquem sossegados, Mãe Dilmah dos Lobões sabe das coisas!- o perigo de faltar luz, de apagões, de apaguinhos. Inclusive na Copa. E nas Olimpíadas.
O pibinho vai crescer forte. Lula, finalmente iluminado, poderá saber mais das coisas, senão lendo, talvez ouvindo a rádio no box do chuveiro, de água quente, para cozinhar nosso galo em banho-maria. Estranho, reparou que agora ele só aparece sempre pelos cantos, como se estivesse à espreita de algo, esperando algo, como um chamado; que algo dê errado para ele palpitar; que apareça mais algum inimigo para ele controlar, exterminar, jurar, como fez com o DEM, como fez com a oposição.
A valsa até que transcorreria sem deslizes, já que a essas coisas todas, no fundo no fundo estamos até acostumados.
O que perturba, novidade, pelo menos do meu ponto de vista, é que também se está apagando a iluminação que vinha dos cérebros nacionais, as ideias luminosas, a energia para modificar o percurso. Que cabeças outrora pensantes e olhos outrora atentos estão se acomodando no escuro, saindo à luz do dia apenas em bandos para atacar os rebanhos dispersos à procura de um pastor, que no caso não seria um cão.
Nem um clarão. Fiat Lux!
São Paulo, 2013. O poste já está instalado.
Marli Gonçalves é jornalista - - Não podemos tocar a energia e nem vê-la, mas é ela que forma e molda tudo o que conhecemos. É bom lembrar que ela não se perde nem se cria; apenas se transforma.
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