Segunda-feira, 25 de julho de 2022 - 13h53
Reflexões e mudanças de comportamento caminham
juntas, sempre! E falar sobre o dia 25 de julho, no qual se comemora o Dia
Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, é fundamental
para nós, pessoas nascidas na América, principalmente na parte considerada
latina.
Há mais duas comemorações que são conectadas a esse
mesmo dia: Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, data
sancionada pela Lei nº 12.987/2014 (mais informações: https://bit.ly/3B6R98Y).
Tereza de Benguela foi líder em um quilombo durante
20 anos e representa um capítulo que estava invisibilizado na história das
mulheres que compõem a resistência ao domínio de povos conquistadores, em sua
maioria vindos da Europa. Hoje, os estudos sobre essas mulheres e suas
vivências fazem parte do arcabouço que fundamenta um termo cunhado por Lélia
Gonzalez: FEMINISMO AFRO-LATINO-AMERICANO.
Nessa hora, imagino que muitas pessoas pensam:
“Puxa, feminismo?!”.
Então vamos lá: feminismo não é ser contra o mundo
e queimar tudo, mas ser uma pessoa consciente. Veja que escrevi – pessoa – que
acredita na equidade entre todas as pessoas e, por isso, apoia, dialoga com
mulheres e defende os direitos delas, direitos esses que nos têm sido negados
há séculos, em todo o mundo.
“De acordo com a Associação de Mujeres Afro, na
América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas (54% da população) se
identificam como negras. E tanto no Brasil quanto fora, esse grupo é o que mais
sofre com as desigualdades socioeconômicas e raciais.” - Dados mapeados pelo SIPAD.
Eu, enquanto mulher negra da periferia de São
Paulo, vivenciei desde pequena o quanto ser marginalizada causa impactos
profundos em nossa autoestima, nas nossas expectativas e nos nossos sonhos.
Muitas vezes, quando estava na escola pública, os educadores nos motivaram a
persistir e superar barreiras – sim, na minha época encontrei várias pessoas
educadoras que acreditavam, assim como Paulo Freire, na educação
transformadora. Nas ruas, por outro lado, termos como “negrinha”, “mulatinha”,
entre outros, demonstravam como era a leitura da sociedade em relação a uma
menina negra, que morava em uma casa feita com porão, porque já era sabido que
haveria enchente por estarmos em área de charco, e esse tipo de região era um
dos lugares disponibilizadas a preços populares, no extinto plano habitacional
do Banco Nacional da Habitação (BNH).
Ainda hoje, a casa com porão existe, as enchentes
pararam há algumas décadas, e o rio, que tinha até peixinhos, virou um grande
lixão com água a céu aberto. Eu mudei de casa, mas ainda moro perto. Quase
todos os meus familiares, mais novos que eu, estudaram na mesma escola, e pude
acompanhar de perto quanto a qualidade e o empenho em mudar a realidade pela
educação declinaram, e como todas as pessoas envolvidas nesse processo estão
cansadas. Essa realidade se estende por todos os países de nosso continente, as
Américas da linha do Equador, e para baixo dela, vêm apresentando declínio em
todas as áreas: educação, saúde, alimentação, qualidade de vida, entre outros.
Envelhecemos, temos menos crianças e a renda per capita cai mês a mês,
frente ao aumento de impostos e dos insumos que precisamos para viver.
No meio de tudo isso, há ações “salvacionistas” que
tentam criar alguma equidade, entidades internacionais enviam recursos, e
grandes grupos estrangeiros aqui instalados fazem ações que hoje estão ganhando
um novo nome: ESG de transformação. No entanto, quando vamos aos territórios onde
a grande maioria da população “dorme”, porque viver é outra história,
encontramos aumento na fome, ausência de estrutura básica como saneamento e
boas escolas, e não há empregabilidade nem manutenção de renda para uma vida
digna. Ou seja, se a verba parar de chegar, se a empresa sair do território,
todos voltam a passar fome e não há outras perspectivas.
Falar dessas datas em um mês em que tantos
movimentos celebram sua relevância é fundamental para garantir que não haja
apagamento histórico, afinal, sem memória, não mudamos o futuro. Eu mesma estou
apoiando o Pacto pela Equidade Racial. Por meio dele, teremos um encontro de
mulheres pretas no dia 30 de julho, em São Paulo, homenageando escritoras
brasileiras, a partir da obra de Maria Firmino, e vamos registrar tudo para
manter a memória viva.
Mas trago aqui algumas perguntas para sua reflexão:
sua empresa organiza ou pensa em organizar grupos de leitura para conhecer
obras brasileiras, conhecer as histórias invisibilizadas de pessoas escritoras
ou de outras frentes artístico-culturais brasileiras? Pensa em organizar
excursões para museus como o Museu Afro Brasil, que fica no Parque do
Ibirapuera, no coração de São Paulo, com as famílias das pessoas colaboradoras
para criar novos repertórios e ampliar as discussões sobre o que realmente é
incluir a diversidade? Há, ainda, o Museu da Pessoa, entre outros que atuam
nesse resgate e recebem poucos visitantes e pouquíssimos apoiadores.
Pensam em realizar algum tipo de atividade
periódica para falar da história dos povos originários, que ocupavam o lugar
onde sua empresa está? E sobre a história dos antepassados das pessoas colaboradoras?
Conhecem quilombos, ocupações indígenas ou de movimentos pela terra, que
produzem muitas vezes o próprio alimento, hortas familiares, entre outras, que
poderiam ser parceiras em alimentar as pessoas na empresa e ampliar o acesso a
recursos sustentáveis no território? Sabem se há abrigos que podem apoiar com
doações e com presença, para o exercício da escuta ativa? Sabem se há entidades
que apoiam pessoas refugiadas e como podem somar esforços? Se há comunidades
que possuem associações de bairro com atividades de aprendizagem em moldes da
educação popular de Freire?
Datas como 25 de julho precisam ser incluídas nos
calendários das ações anuais, com atividades periódicas e contínuas que
culminam na celebração, para que haja a valorização real do que estamos
construindo. Garantir que a história sirva de guia para um novo futuro é
fundamental, e todas as pessoas são parte dessa construção, concorda?!
*Samanta
Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, agência
de live marketing – uma@nbpress.com
Sobre a um.a
Com mais de 26 anos, a um.a #diversidadecriativa está entre as mais
estruturadas agências de live marketing do Brasil, especializada em
eventos, incentivos e trade. Entre seus principais clientes, estão a Pearson, o
IBGC, o SBT, a ABRH-SP, entre outros. Ao longo de sua história, ganhou mais de
40 “jacarés” do Prêmio Caio, um dos mais importantes da área de eventos.
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