Segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024 - 13h18
Em seu magistral livro a Marcha da Insensatez, a historiadora
americana Barbara Tuchman tratou com singular objetividade o tema do desgoverno,
ou seja, “... Por que os homens com poder
de decisão política tão frequentemente agem de forma contrária àquela apontada
pela razão e que os próprios interesses em jogo sugerem?”. Segundo ela, o desgoverno apresenta quatro
tipos, às vezes combinados: tirania ou opressão, ambição desmedida,
incompetência ou decadência, e insensatez ou obstinação. A insensatez é o
sintoma de desgoverno mais comum nas democracias modernas, e no Brasil vem
atingindo indistintamente não apenas várias das esferas deste governo, como também
outras de nossas atuais instituições republicanas.
O mais recente exemplo do
desgoverno de Lula é a crise diplomática
fabricada pelo próprio Presidente, quando no último dia 18 de fevereiro, como
convidado, em Adis Abeba na Etiópia, para a reunião da cúpula da União
Africana, ele comparou
os ataques de Israel contra a organização terrorista HAMÁS às ações nazistas
contra os judeus: "O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em
nenhum outro momento histórico, aliás, existiu... quando Hitler resolveu matar
os judeus", foi o que afirmou o presidente brasileiro, dando início à
crise. No mesmo
dia, o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou a fala de Lula
classificando-a de “vergonhosa”. No dia seguinte, o Ministro das relações
exteriores israelita declarou Lula “persona non grata” em Israel e
constrangeu publicamente o Embaixador do Brasil – Fred Meyer – ao levá-lo para
o museu do Holocausto em Jerusalém, advertindo-o publicamente em hebraico,
idioma que o brasileiro não domina. Ato contínuo, ainda em 19 de fevereiro, o
Embaixador Fred Meyer foi chamado de volta ao país, enquanto o Ministro das
Relações Exteriores do Brasil se reuniu com Embaixador de Israel no Brasil, expressando-lhe
o mal-estar provocado pelas atitudes pouco protocolares da diplomacia israelense.
Estava instalada uma grave e inédita crise diplomática, causada tão somente
pela verborrágica irresponsabilidade de Lula, e a total incompetência do
assessoramento desse atual corpo “esquerdodiplomático” brasileiro.
Políticos, artistas, ou
personalidades públicas costumam cometer gafes de falta de educação, erros de
matemática ou de linguagem, usando termos inadequados ao ambiente ou às
situações, mas o alcance dessas besteiras não vai além de fofocas nos meios de
comunicação, ou nas páginas dos haters da Internet. E eles costumam pesar
prós e contras para suas imagens profissionais, geralmente se desculpando. Entretanto,
uma manifestação pública do presidente de um país, em presença da mídia
internacional, numa assembleia de nações em outro continente – sem retratação
posterior – tem outra relevância e outras conotações, nunca para o bem, sempre
para o mal. Não perceber a gravidade dessa atitude é ignorância ou má fé, e não
há alternativas.
O nosso Presidente vem incidindo
nas quatro causas de desgoverno apontadas por Tuchman, e parece que o faz de
maneira pensada, sem qualquer sinal de arrependimento: Lula mostra seu lado “tirania”,
quando inventa viagens internacionais dispendiosas e sem objetivos concretos -
teoricamente representando (pelo voto) menos de 30% de brasileiros – e adota
posturas políticas contrárias aos interesses da nação, impondo ao país seu
alinhamento pessoal com regimes de tiranos comunistas e grupos terroristas; ele
mostra “ambição desmedida”, quando se lança em canhestra campanha visando
o premio Nobel da Paz, sem medir as consequências de suas declarações para a
imagem diplomática, ou os interesses comerciais do Brasil, que certamente vai sofrer
retaliações das potências ocidentais, que hoje dominam o mercado mundial; o
petista demonstra “incompetência” flagrante ao insistir em falar de
improviso, mentindo sem qualquer pudor publicamente, citando dados, fatos
históricos, nomes – até de árvores frutíferas – muitas vezes completamente errados ou distorcidos; e
Lula mostra principalmente “insensatez”, ao não se retratar com o
governo de Israel, e nem tentar contornar a crise por meios diplomáticos,
insistindo em seus argumentos hipócritas e pouco convincentes, falsamente obcecado
pela “paz mundial”, imagem que o ódio do bem de seus discursos não permite
disfarçar.
Na quinta-feira, 22 de fevereiro,
os Deputados federais da oposição protocolaram um pedido, com cerca
de 140 assinaturas, de impeachment do presidente Lula, argumentando que
ele infringiu o Artigo 5° da Constituição Federal, que prevê como crime de
responsabilidade: “Cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira,
expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”.
A pesquisadora do Centro Brasileiro de Relações Internacionais Monique
Sochaczewski também classificou como antissemita a fala de Lula, pois: "vai além da crítica válida ao
conflito e compara-o ao Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram mortos em escala
industrial e planejada pelo regime nazista. Trata-se de uma provocação clara ao
escolher não qualquer genocídio, mas a Shoah, em que as vítimas foram os
judeus".
Temos elementos sim, para questionar a legitimidade do Presidente na sua busca inconsequente de protagonismo internacional, valendo-se de declarações ideológicas e adotando posições políticas discutíveis, com já constatados prejuízos para a credibilidade e os interesse do Brasil, inclusive para a Segurança Nacional. Observa-se que ao tomar partido nessa guerra religiosa/geopolítica milenar, considerando-se as atuais inúmeras facilidades de se exportar conflitos bélicos híbridos, Lula pode trazer para o Brasil problemas que naturalmente jamais teríamos, e nem estamos preparados para enfrentar.
Terrorismo religioso, imigração
muçulmana descontrolada, boicote comercial de empresas israelenses ou de
controle acionário judeu, dificuldade do país de impor seus interesses nos
organismos internacionais, hostilidade aos brasileiros em situações de
dependência de quaisquer dos litigantes desse conflito, são algumas das
possíveis consequências da insensata posição diplomática partidária do
Presidente - que, ressalte-se, não é da maioria dos brasileiros. E pior, superando
ou não a crise, não se vislumbra qualquer vantagem, presente ou futura, para o
Brasil ou os brasileiros, muito menos como justificar perante a comunidade
internacional a vergonha do agradecimento público do HAMÁS na Internet ao nosso
Presidente, pelo seu apoio à causa terrorista.
Lula já é considerado um “anão
diplomático” no ambiente dos organismos internacionais, e mesmo junto aos
governos do mundo ocidental. Perigo
constatado: a política externa do Brasil está sendo ditada por um
notório incompetente, orgulhoso de sua ignorância, e sem qualquer noção de
história, geopolítica ou relações internacionais. Vergonha alheia: cegos
ideológicos, ou bajuladores de interesses inconfessáveis, os áulicos do seu
entorno, assim como a velha mídia enviesada continuam a incensá-lo como o
estadista humanitário do século. Futuro indigente: Lula agora se
acredita líder do “sul global” - seja lá o que isso representa - e está empenhado em congregar em torno de
velhos mantras comunistas algumas nações amputadas em suas liberdades, como
Irã, Cuba, Venezuela e Nicaragua, além de outras tantas também governadas por ditadores,
todas incapazes de qualquer retorno para o nosso país. Como não ser pessimista?
Gen Marco Aurélio Vieira
Foi Comandante da Brigada de Operações Especiais e da Brigada de Infantaria Paraquedista
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