Segunda-feira, 10 de julho de 2023 - 09h56
Informações preliminares preocupantes,
mas esperadas, foram divulgadas pelos Centros Nacionais de Previsão Ambiental
dos Estados Unidos, serviço ligado à Administração Nacional Oceânica e
Atmosférica (NOAA, sigla em inglês), no dia 3 de julho último. Foi o dia mais
quente registrado na história do planeta Terra, alcançando a temperatura média
global de 17,01°C. Nos dias subsequentes novos recordes foram batidos chegando
na quinta-feira (6/7) a 17,23°C, o que significa ultrapassar o limite fatídico
de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Segundo bases científicas, os
sucessivos recordes ocorreram impulsionados pelo fenômeno natural climático El
Niño, no Oceano Pacífico. E, principalmente pelas atividades humanas, com a
queima crescente de combustíveis fósseis, que continuam a emitir mais e mais
CO2 na atmosfera a cada ano que passa, elevando o aquecimento global. Como
resultado, pessoas ao redor do mundo já estão convivendo com os impactos
climáticos, desde ondas de calor, incêndios florestais, poluição do ar, até
inundações e tempestades extremas. O que resulta repercussões na saúde, na
segurança alimentar, na gestão da água, no meio ambiente; enfim na vida no
Planeta.
Dentre os combustíveis fósseis
consumidos, o petróleo e seus derivados têm um papel de grande relevância no
aquecimento global, contribuindo com mais de 60% das emissões de gases de
efeito estufa (GEE´s). A utilização do
petróleo traz grandes riscos desde o processo de extração, transporte, refino,
até o consumo, com a produção de gases que poluem a atmosfera.
Compromissos
internacionais pela redução das emissões de gases de efeito estufa têm sido
infrutíferos. No plano nacional, existe uma forte resistência
patrocinada pelos interesses econômicos da cadeia produtiva do Petróleo&Gás
que insistem em ações no sentido de aumentar a exploração destas fontes
energéticas, vilões do aquecimento global.
No último Plano Decenal de Energia (PDE
2022-2031) está previsto um aumento na produção diária de petróleo no Brasil
até 2031, dos atuais 3,4 milhões de barris por dia para 5,2 milhões. Um aumento
acentuado indicando uma política energética que tem na exportação de petróleo
um expediente para alavancar recursos para o país.
Em recente decisão do Conselho de
Administração da petroleira brasileira, Petrobras, os conselheiros deram aval,
e decidiram priorizar a oferta de gás natural e repor as reservas de petróleo
com exploração de novas fronteiras como a foz do Rio Amazonas. Além de
realizarem investimentos em refino, petroquímica e fertilizantes.
O que de fato é verificado é que mesmo países como o Brasil, que possuem
um discurso pela descarbonização, se defrontam com a realidade de que nenhuma
grande petroleira quer fazer a transição energética. Todas querem manter os
combustíveis fósseis o maior tempo possível.
O que corrobora tal afirmativa, dentre outros posicionamentos do governo
brasileiro, foi de evitar na reunião da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) que
reuniu Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Guiana, Suriname, Equador e Bolívia;
a proposta do governo colombiano de interromper novos projetos de exploração de
petróleo na Amazônia.
Outro
acontecimento que demarca a posição do governo, foi a do presidente da
Petrobras na 8ª edição do Seminário Internacional da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP), que em sua palestra destacou que o banimento
na exploração de novos campos petrolíferos não seria realista, mas sim otimizar
as atividades de transporte, comercialização e refino de petróleo, além
do transporte e comercialização de derivados.
As últimas reuniões dos acionistas das
maiores petroleiras mostraram que os investidores que defendem uma estratégia
mais sustentável estão cada vez mais isolados. Com a crise desencadeada pela
guerra Rússia-Ucrânia, aumentou e muito os lucros das empresas de petróleo e,
como consequência, arrefeceu-se o discurso de investir em planos sustentáveis
de longo prazo para mitigar as mudanças climáticas, que era mais enfático
quando o setor estava perdendo dinheiro.
Portanto existe um dilema entre o
discurso e a prática em relação aos combustíveis fósseis não somente no Brasil,
mas no mundo.
O que se esperava do novo governo, em
função do seu discurso de enfrentamento das mudanças climáticas, seria
transformar a Petrobras, não em uma empresa de exploração de petróleo apenas,
mas em uma empresa de produção de energia. Todavia o que acabou acontecendo foi
a frustrante criação de uma diretoria de Transição Energética e Energias
Renováveis, cujo objetivo foi mais o de acomodação política.
Diante das ações concretas planejadas
pela empresa Petrobras, fica claro que a eliminação dos combustíveis fósseis
não está no horizonte 2030, e nem em 2050. A sede de manter a exploração de combustíveis
fósseis não mudou com a troca de governo.
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