Segunda-feira, 9 de outubro de 2023 - 13h23
A seca histórica na Amazônia é um evento já esperado pelos especialistas e, sobretudo, pelas populações tradicionais, que há anos veem que o ecossistema Amazônico está alterado, causado por interferências humanas. Mas, a pergunta que não quer calar é: por que este evento de falta extrema de água no Rios está acontecendo?
As respostas das autoridades e que são divulgadas na imprensa são inusitadas, não totalmente erradas, mas são apenas aquelas que interessam; por isso surge outra pergunta: interessa a quem?
Antes de falar das soluções devemos entender as causas, sejam aquelas divulgadas e sejam aquelas que tem agudizado às causas e os efeitos. As causas que são divulgadas para esta seca histórica não são totalmente erradas e são apenas exógenas que é a combinação do El Niño com aquecimento do Pacífico e do aquecimento do Atlântico, entretanto esquecem de esclarecer mais uma causa externa que é a falta de tributação do degelo nos Andes, que somente ocorre entre os meses de dezembro e março, que é a época de verão no hemisfério sul. As causas endógenas são muito fortes e são mais definidoras, pois envolvem a alteração do uso do solo da Amazônia nas últimas décadas, desmatamento e queimada acelerada, mudança do uso do solo de floresta para pastagem e monocultura, atividades extrativistas minerais que poluem os rios e eliminação das matas ciliares dos rios amazônicos.
Os dados de desmatamento demonstram que 20 municípios concentram 50% do desmatamento na Amazônia, destacando-se os estados de Mato grosso, Pará, Amazonas e Rondônia. O quadro abaixo apresenta nove municípios com mais de 4% de participação no desmatamento, 2 municípios em também no MT e dois no PA, 4 localizados no AM e um em RO. Importante destacar que estes municípios que tem grande desmatamento também contribuem para a emissão de gases de efeito Estufa- GEE, destacando-se Altamira-PA, São Feliz do Xingu-PA, Porto Velho-RO, Lábrea-AM e Apuí-AM.
Município |
Estado |
Desmatamento (km2) |
Desmatamento (%) |
tCO2 (emissão pela
mudança do uso da terra) |
Maiores emissores de GEE (tCO2) |
Feliz Natal |
MT |
175,45 |
13,0 |
|
|
Apuí |
AM |
166,46 |
12,3 |
12.140.256 |
12.495.893 |
Altamira |
PA |
111,54 |
8,3 |
33.459.454 |
35.247.300 |
Porto Velho (RO) |
RO |
89,51 |
6,6 |
19.737.428 |
23.303.221 |
Lábrea |
AM |
68,85 |
5,1 |
22.527.440 |
23.218.078 |
Canutama |
AM |
65,26 |
4,8 |
|
|
Novo Aripuanã |
AM |
63,5 |
4,7 |
|
|
São Félix do Xingu |
PA |
61,71 |
4,6 |
24.293.507 |
28.894.968 |
Colniza |
MT |
58,42 |
4,3 |
10.028.643 |
13.463.102 |
Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente, oito entre os 10 municípios que mais emitem GEE estão na Região Amazônica, São Paulo e Rio de Janeiro são os únicos de fora da Amazônia. Ainda de acordo com o órgão, no ano de 2019, os 10 municípios emitiram juntos 198 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e), mais que todas as emissões de países como Peru e Holanda[1].
A solução divulgada para a solução do problema está pautada na questão puramente econômica de transporte de produtos nas hidrovias Amazônicas, deixando de lado até a geração de eletricidade. A solução além de inusitada é uma simplificação do problema, que não resolve a questão e sim produz outros. A proposta seria aumentar a área de navegação através da dragagem do leito dos rios Amazônicos. Peguemos o rio Madeira como exemplo para ilustrar tal situação: por ser um Rio em formação e que carreia muitos sedimentos, produz um ambiente de navegação variável com bancos de areia e sedimentos, bem como as margens são variáveis e pouco rígidas. Assim, o sistema que envolve o Rio, fluxo de água, leito do rio, sedimento, barranco e margens estão interligados. Por isso, ao fazer uma intervenção no leito do rio com dragagem produzirá alterações em todos os outros. Ou seja, ao dragar o Rio, o barranco e margens serão afetados e ficarão instáveis, agregando-se nesta equação o Fenômeno das Terras Caídas, com possíveis desmoronamento dos barrancos, margens e casas. Como exemplificado, dragar o rio não resolverá o problema da navegação e da falta de água.
Assim, como destacado acima, os problemas da falta de água são resultantes em maior medida das causas endógenas resultante dos impactos ambientais na Amazônia, ou seja, é possível resolver porque pode ser resultado de gestão e governanças para eliminar estes impactos. Por fim, não interessa divulgar as reais e principais causas da falta de água na Amazônia, porque são as elites econômicas e políticas da região que mais derrubam as florestas, transformam florestas em pastos ou em monocultura de soja, e que também barram os rios.
Resumindo,
as causas endógenas deveriam ser objeto de atenção na Amazônia, primeiro que há
possibilidade de governança sobre elas, seja porque estes eventos afetam
diretamente o microclima, sejam porque se não mexer nestas questões, os eventos
climáticos serão ainda mais intensos daqui para frente.
[1] Fonte: https://energiaeambiente.org.br/oito-dos-dez-municipios-que-mais-emitem-gases-de-efeito-estufa-estao-na-amazonia-20220617
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