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A seca histórica na Amazônia já era esperada pelos especialistas e pelas populações tradicionais


Foto: Ana Cláudia Leocádio - Gente de Opinião
Foto: Ana Cláudia Leocádio

A seca histórica na Amazônia é um evento já esperado pelos especialistas e, sobretudo, pelas populações tradicionais, que há anos veem que o ecossistema Amazônico está alterado, causado por interferências humanas. Mas, a pergunta que não quer calar é: por que este evento de falta extrema de água no Rios está acontecendo?


As respostas das autoridades e que são divulgadas na imprensa são inusitadas, não totalmente erradas, mas são apenas aquelas que interessam; por isso surge outra pergunta: interessa a quem?


Antes de falar das soluções devemos entender as causas, sejam aquelas divulgadas e sejam aquelas que tem agudizado às causas e os efeitos. As causas que são divulgadas para esta seca histórica não são totalmente erradas e são apenas exógenas que é a combinação do El Niño com aquecimento do Pacífico e do aquecimento do Atlântico, entretanto esquecem de esclarecer mais uma causa externa que é a falta de tributação do degelo nos Andes, que somente ocorre entre os meses de dezembro e março, que é a época de verão no hemisfério sul. As causas endógenas são muito fortes e são mais definidoras, pois envolvem a alteração do uso do solo da Amazônia nas últimas décadas, desmatamento e queimada acelerada, mudança do uso do solo de floresta para pastagem e monocultura, atividades extrativistas minerais que poluem os rios e eliminação das matas ciliares dos rios amazônicos.


Os dados de desmatamento demonstram que 20 municípios concentram 50% do desmatamento na Amazônia, destacando-se os estados de Mato grosso, Pará, Amazonas e Rondônia. O quadro abaixo apresenta nove municípios com mais de 4% de participação no desmatamento, 2 municípios em também no MT e dois no PA, 4 localizados no AM e um em RO. Importante destacar que estes municípios que tem grande desmatamento também contribuem para a emissão de gases de efeito Estufa- GEE, destacando-se Altamira-PA, São Feliz do Xingu-PA, Porto Velho-RO, Lábrea-AM e Apuí-AM.


Município

Estado

Desmatamento (km2)

Desmatamento (%)

tCO2 (emissão pela mudança do uso da terra)

Maiores emissores de GEE (tCO2)

Feliz Natal

MT

175,45

13,0

 

 

Apuí

AM

166,46

12,3

12.140.256

12.495.893

Altamira

PA

111,54

8,3

33.459.454

35.247.300

Porto Velho (RO)

RO

89,51

6,6

19.737.428

23.303.221

Lábrea

AM

68,85

5,1

22.527.440

23.218.078

Canutama

AM

65,26

4,8

 

 

Novo Aripuanã

AM

63,5

4,7

 

 

São Félix do Xingu

PA

61,71

4,6

24.293.507

28.894.968

Colniza

MT

58,42

4,3

10.028.643

13.463.102

 

Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente, oito entre os 10 municípios que mais emitem GEE estão na Região Amazônica, São Paulo e Rio de Janeiro são os únicos de fora da Amazônia. Ainda de acordo com o órgão, no ano de 2019, os 10 municípios emitiram juntos 198 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e), mais que todas as emissões de países como Peru e Holanda[1].


A solução divulgada para a solução do problema está pautada na questão puramente econômica de transporte de produtos nas hidrovias Amazônicas, deixando de lado até a geração de eletricidade. A solução além de inusitada é uma simplificação do problema, que não resolve a questão e sim produz outros. A proposta seria aumentar a área de navegação através da dragagem do leito dos rios Amazônicos. Peguemos o rio Madeira como exemplo para ilustrar tal situação: por ser um Rio em formação e que carreia muitos sedimentos, produz um ambiente de navegação variável com bancos de areia e sedimentos, bem como as margens são variáveis e pouco rígidas. Assim, o sistema que envolve o Rio, fluxo de água, leito do rio, sedimento, barranco e margens estão interligados. Por isso, ao fazer uma intervenção no leito do rio com dragagem produzirá alterações em todos os outros. Ou seja, ao dragar o Rio, o barranco e margens serão afetados e ficarão instáveis, agregando-se nesta equação o Fenômeno das Terras Caídas, com possíveis desmoronamento dos barrancos, margens e casas. Como exemplificado, dragar o rio não resolverá o problema da navegação e da falta de água.


Assim, como destacado acima, os problemas da falta de água são resultantes em maior medida das causas endógenas resultante dos impactos ambientais na Amazônia, ou seja, é possível resolver porque pode ser resultado de gestão e governanças para eliminar estes impactos. Por fim, não interessa divulgar as reais e principais causas da falta de água na Amazônia, porque são as elites econômicas e políticas da região que mais derrubam as florestas, transformam florestas em pastos ou em monocultura de soja, e que também barram os rios.


Resumindo, as causas endógenas deveriam ser objeto de atenção na Amazônia, primeiro que há possibilidade de governança sobre elas, seja porque estes eventos afetam diretamente o microclima, sejam porque se não mexer nestas questões, os eventos climáticos serão ainda mais intensos daqui para frente.



[1]      Fonte: https://energiaeambiente.org.br/oito-dos-dez-municipios-que-mais-emitem-gases-de-efeito-estufa-estao-na-amazonia-20220617

 

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