Quarta-feira, 9 de abril de 2025 - 11h44
O complexo nuclear
formado pelas usinas Angra 1, Angra 2 e Angra 3 (obra paralisada), na Central
Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), de propriedade da estatal
Eletronuclear, fica na praia de Itaorna, que em guarani significa “pedra mole”,
ou “pedra podre”, no município de Angra dos Reis, região mais afetada com maior
acúmulo de água das chuvas, provenientes dos temporais que se abateram sobre o
estado do Rio de Janeiro, da última sexta-feira (4/4) até sábado. Segundo a
Defesa Civil do Estado foram 357 mm ao longo de 48 horas, mais que o dobro
esperado para abril, o que levou a decretação de situação de emergência máxima.
A rodovia Rio-Santos foi interditada nos kms 542, 503, 473 e 433, devido ao
risco de queda de barreiras em Angra dos Reis e Paraty.
As chuvas torrenciais
que desabaram sobre o Rio de Janeiro causaram danos em várias regiões do
estado. Foram verificados pontos de alagamentos com bolsões de água, queda de
árvores em vários bairros da capital. Interrupção de energia elétrica, corte no
fornecimento de água, desmoronamentos de terra atingiram a baixada fluminense.
Na região Serrana, o transbordamento do rio Quitandinha atingiu o centro
histórico de Petrópolis com alagamentos e deslizamentos de barreiras,
provocando estragos em diversas áreas. Foram fechadas a subida e descida para o
alto da serra de Teresópolis. Uma verdadeira catástrofe atingiu estas regiões e
seus habitantes.
Perigo atômico
Tais eventos climáticos e suas
dramáticas consequências não surpreendem mais os moradores destas regiões,
especialmente em tempos de ocorrências radicais provocados pelo colapso climático.
Mas chama a atenção a irresponsabilidade das autoridades municipais, estaduais
e nucleares no que diz respeito à segurança em radioproteção que deveriam
garantir às populações vizinhas à CNAAA.
No início de abril de 2022 um temporal,
de grande magnitude,
marcou um recorde
histórico para o município de Angra dos Reis, mostrando de uma vez por todas
que as mudanças climáticas estão presentes, e vieram para ficar, promovendo
tragédias país afora. Em 48 horas choveu em torno de 700 milímetros, provocando
deslizamentos de encostas, que soterraram casas e causaram a interrupção das
vias de acesso, além da suspensão do fornecimento de água e energia elétrica. O
município ficou completamente isolado, sem rotas para sair ou entrar.
Diante da trágica situação que devastou
a região, o então prefeito Fernando Jordão (PMDB), solicitou à Eletronuclear que
interrompesse o funcionamento das usinas, em uma ação preventiva. O Ministério
Público Federal também foi provocado, e acionou a empresa, já que a cidade,
completamente isolada, impediria, diante de um possível problema no complexo
nuclear, ativar o Plano de Emergência Local (PEL), que prevê um “planejamento
para dar resposta para possíveis situações de emergência nuclear, e assim
proteger a saúde e garantir a segurança dos trabalhadores, da
população e do meio ambiente”.
Por sua vez, a direção da empresa, em
sua soberba, pouco se importou com a vida dos angrenses, rejeitando a
possibilidade do desligamento, garantindo que a normalidade no
funcionamento das usinas, não justificaria desligar os reatores. Além de
usarem a falsa alegação que o corte no fornecimento de energia produzida por
Angra 1 e Angra 2 (que representa menos de 2% da potência elétrica total
instalada no país), traria consequências sérias ao sistema elétrico brasileiro.
E assim não foi acatada a solicitação de interromper o funcionamento das usinas
nucleares diante da situação que se encontrava o município.
Três anos se passaram para que situação
semelhante voltasse a acontecer, no que se refere ao temporal que se abateu no
município e suas graves consequências, acarretando a decretação do estado de
alerta máximo. A diferença é que agora a administração municipal não tomou
nenhuma ação preventiva de proteção para a população residente no entorno do
complexo nuclear, já
que as rotas de fuga
(rodovias BR-101 e RJ-155) que são de pista simples, ficaram intransitáveis,
sujeitas a deslizamentos de terra.
O PEL prevê medidas de emergência ao
redor do complexo nuclear, caso ocorra vazamento de radiação. Em uma área de
até 5 km em torno das usinas os moradores seriam totalmente evacuados. Na
região, entre 5 e 15 quilômetros, segundo o plano, as pessoas poderiam
permanecer em suas casas, tomando o cuidado de vedar portas e janelas para
evitar a radiação. Como se as portas e
janelas fechadas pudessem impedir o efeito da radiação gama, altamente
penetrante.
Para a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), não há risco de
contaminação depois dos 15 quilômetros.
Estas distâncias de
segurança são questionáveis, se compararmos as medidas tomadas pelo governo
japonês na catástrofe nuclear em Fukushima Daiichi, em 2011. Com a confirmação
da liberação de material radioativo para a atmosfera, moradores de uma área
definida em um raio de cerca de 20 quilômetros em torno da usina foram
evacuados. Portanto, uma distância 4 vezes superior à área definida pela
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)/Eletronuclear.
Em Angra dos Reis desligar as usinas
nucleares seria uma ação preventiva, de bom senso, de segurança, evitando assim
que um acidente maior pudesse acontecer, na situação em que se encontrava o município. E diante de um acidente
nuclear, caso fosse ativado o PEL, as pessoas não poderiam ser evacuadas, pois
as vias de acesso estariam obstruídas. Não desligar as usinas é uma decisão criminosa, imperdoável, porque coloca
a vida das pessoas em risco de morte. A imprensa divulgou uma parada já
programada de Angra 1 - desligada na madrugada de 5 de abril, após as chuvas
torrenciais verificadas na região - e que Angra 2 continuava funcionando em
plena carga.
E tudo isso acontecendo em um contexto
de instabilidade financeira da Eletronuclear, cujos sucessivos erros
rudimentares de seus dirigentes, aliados aos supersalários dos funcionários do
alto escalão, a fazem dependente do tesouro nacional. A crise é a maior da
histórica da empresa, que até tem anúncio da greve geral dos empregados lotados
no CNAAA, com início previsto para 8 de abril.
Em resumo, a energia nuclear não é bom
negócio, nem econômica, nem ambiental e nem social, e as mudanças climáticas só
veem aumentando os riscos de graves acidentes em usinas nucleares.
Xô Nuclear. Xô Angra 3.
Descomissionamento Já de Angra 1 e Angra 2.
___________________
* Professor associado
aposentado da Universidade Federal de Pernambuco, graduado em Física pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), mestrado em Ciências e
Tecnologias Nucleares na Universidade Federal de Pernambuco (DEN/UFPE) e
doutorado em Energética, na Universidade de Marselha/Aix, associado ao Centro
de Estudos de Cadarache/Comissariado de Energia Atômica (CEA)-França.
** Ativista
socioambiental do Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania e
integrante da Articulação Antinuclear Brasileira.
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