Quinta-feira, 9 de dezembro de 2021 - 17h16
Após ler o artigo do Dr. Paulo Gondim de 04 de dezembro de 2021, no GENTE DE OPINIÃO, contando alguns dos desafios encontrados pelos pioneiros da videocirurgia, peguei-me em meio a uma reflexão: o que um médico especialista em endoscopia deveria se atentar ao resolver desbravar as margens do Madeira?
Minha primeira grande surpresa foi descobrir que, na Região Norte, o principal
câncer do aparelho digestivo, entre os homens, é o de estômago. Com relação às
mulheres e baseado nas estimativas do Instituto Nacional do Câncer para o
triênio 2020-2022, o câncer colorretal ainda é mais frequente.
Explico-lhes o motivo da
surpresa: em todo Ocidente, o câncer colorretal costuma ser mais frequente do
que o câncer de estômago.
Eu sempre fui um entusiasta do
papel da endoscopia na oncologia. Lidar com pacientes oncológicos, para cura-los.
(Como é gratificante retirar o câncer, ainda em fases precoces, sem cirurgias
ou então diagnosticá-lo nas fases assintomáticas!) Ou mesmo aliviando-lhe o
sofrimento do final da vida, são papéis que a endoscopia pode exercer com
maestria. Tal motivação me levou a um estágio no Japão, local mais avançado do
mundo em termos de cirurgias endoscópicas para tratamento de cânceres precoces.
Mas no Oriente o principal câncer é o de estômago, ao contrário do resto do
mundo.
Por tempos, ainda morando em
São Paulo, questionei-me se poderia usar tudo que aprendi além-mar no meu dia a
dia de trabalho. Quis o destino, porém, que assuntos do coração me trouxessem para
a terra dos destemidos pioneiros. E, numa realidade diferente do que conhecia
no Centro-Sul do país, estive frente ao primeiro grande desafio regional:
ajudar no combate ao principal câncer dentro da minha especialidade.
Atualmente há recomendações
asiáticas e europeias no que se refere à prevenção do câncer gástrico, baseadas
principalmente na endoscopia digestiva alta de alta qualidade e erradicação da
bactéria H. pylori. Infelizmente a ciência brasileira ainda não nos
permitiu criar recomendações nacionais, com uma população e alimentação mais
próxima da rondoniense. Mas é nesse contexto, ciente dos nossos problemas e dos
desafios a serem superados, é que nos levantamos e buscamos as melhores
soluções para que nossa população tenha o melhor atendimento!
A única publicação séria que
tentou explicar o porquê dessa diferença nossa para o resto do país, à qual
tive acesso, foi a tese de Mestrado da Dra. Cristiane da Costa Martins, pela
Universidade Federal da Amazônia. Em sua casuística, 95% dos pacientes
apresentavam hábitos alimentares que incluíam alimentos salmourados, defumados e
os alguns regionais (tucupi, farinha de mandioca ou peixe). Condenar esses
alimentos em primeira instância seria um equívoco completo, na minha humilde
opinião, mas deixaria aqui um alerta para o uso do sal. Em publicações
internacionais, já foi constatado que paciente com câncer de estômago
apresentavam um maior consumo de sal do que a média da população. Cabe ainda
enfatizar seu papel na hipertensão arterial, a qual constitui grande fator de
risco para infartos cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.
Portanto, querida população
rondoniense a qual me adotou e fui adotado, vamos dar uma segurada no sal sim!
E a partir dos 40 anos de idade, começar a procurar seu médico de confiança
para a prevenção desse câncer e tantos outros possíveis problemas de saúde!
*Dr. Willian Ferreira Igi
Médico endoscopista pelo
Hospital Sírio-Libanês/SP
Fellowship pelo National
Cancer Center – Tokyo/Japão
Médico responsável pelo CAEDRO
– Centro Avançado de Endoscopia Digestiva de Rondônia
Membro do corpo clínico do
Complexo Hospitalar Central de Porto Velho
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