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Crônica

A angústia da eleição


A angústia da eleição - Gente de Opinião

Em tempos de quarentena e pandemia, a expectativa de perdermos a vida ao lidarmos com um vírus invisível é deverasmente incomodativo, angustiante.  Mesmo sabendo que ele existe materialmente, não temos o privilégio de carregar, a tiracolo, um microscópio de alta precisão, aí nos movemos à deriva do nosso olhar, sem sabermos de que lado vem o ataque − e tome-lhe álcool  em gel, distanciamento de nossos entes queridos e máscara de super-herói −, para afastar o bandido cabeça de mamona. Cuidado, ele pode estar onde menos se espera, até no raio que o parta ou na puta que o pariu.

A angústia da expectativa muda o humor, provoca discussões virtuais e nos põe à beira de um abismo depressivo. Mal nos recuperamos de um ataque virótico invisível/silencioso e já nos deparamos com o dilema da escolha ruidosa, baseada na aparência, na utilização das mídias sociais, na quantidade de “formiguinhas” e de bandeiras tremuladas nos semáforos da cidade, pontuadas por slogans, entremeados ao número do candidato. O nome dele eu não sei, sei que é um zero à esquerda.

Em tempos de eleição a ansiedade da escolha também aterroriza e angustia, aqui não se trata de um inimigo invisível, mas da possibilidade de escolha de um possível amigo da cidade, entre mais de dez postulantes ao cargo de prefeito, e de um vereador que fiscalizará as ações do alcaide. A angústia do dilema na hora em que você se vê a sós, diante da maquininha, na cabine de votação, é terrível: me prometeu, me disse que não vou perder meu voto, me deu…, disse que vai fazer, mas a cara dele não inspira confiança. Voto no alternativo.

São tantos partidos, tantas esquerdas e tantas direitas, são tantas propostas, tantas faces se oferecendo ao olhar do eleitor, tantas mãos entreabertas para que não lhes possamos ver as linhas do destino, tantos discursos demagógicos, tanta ingenuidade, assimilando as promessas e prometendo o voto, como possíveis vítimas do populismo, manjado mas ainda eficiente cabo eleitoral. Se eleito vou mandar asfaltar o Rio Madeira, assim acabarei com as enchentes.

Mas vocês podem argumentar, de quatro em quatro anos é sempre a mesma coisa, o voto faz parte da loteria de expectativa de atuação de um prefeito. A angústia da eleição da hipocrisia envolve sintomas físicos e psicológicos, é estressante, controle-se para não agredir os mesários, não chutar a mesa onde está a urna eletrônica, não riscar os nomes dos candidatos, expostos na cabine. Contenha-se, respire fundo, vote no candidato que lhe convenceu que será um bom gestor público e no que demonstra que será um vereador atuante. Fuja da angústia!!!, faça do voto um exercício de descarrego e tome um banho de babosa, quando chegar em casa. É o FIM do começo.

É loteria, ninguém traz na testa um visor, enumerando, em caso de vitória nas urnas, boas ações públicas verdadeiras. E se o candidato for político de carreira, dificulta, porque conhece a teoria da camuflagem verbal. Ainda assim não deixe de votar, acredite: existem candidatos preocupados com a saúde, a segurança e a educação da população, também com o embelezamento da cidade, que escolheram pra governar. Vote! Você pode acertar!   

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