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Crônica

¨1 Anos - Nas trilhas do tempo


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Hoje completo 61 anos. Não são apenas números, mas marcos de uma jornada que moldou quem sou. Se pudesse resumir essas seis décadas em uma palavra, seria gratidão. Gratidão pelas cicatrizes que viraram estrelas, pelos amores que me ensinaram a amar, pelas quedas que me levantaram mais forte, pelos conselhos de Dona Aurea, minha avó a quem devo o meu caráter. Em nada mudaria.

Das lutas às conquistas, aprendi que a vida não é um mar calmo, mas um oceano que exige remo e coragem. Houve dias em que o cansaço quase falou mais alto, mas havia sempre um fio de esperança — e era nele que eu me agarrava. Errei, sim e muito. Algumas escolhas doem até hoje na memória, mas não as troco: foram elas que me ensinaram a discernir o essencial do passageiro. O verdadeiro do falso e do oportunista.

Os amores? Ah, os amores... Alguns vieram como tempestades, outros como brisas, mas cada um deixou sua marca. O maior deles, porém, não foi romântico: foi o amor que descobri ao segurar Uendel e Stephanie nos braços pela primeira vez. Ver meus dois filhos crescidos, autônomos e donos das próprias histórias, é minha maior vitória. Saber que plantei raízes fortes em suas vidas me dá uma paz que nenhum bem material poderia superar.

E como não agradecer por ainda ter meu pai ao meu lado? Paulo Nascimento, sua presença é um elo com meu passado e um lembrete de que a vida é frágil, mas também resistente. Suas histórias, seus conselhos roucos de experiência, são heranças que carrego no sangue.

E a Dona Irene, minha mãe. Mulher sofrida, lutadora do seu jeito de ser. Não tiver a oportunidade de ser criado por ela, porque a vida desenha o seu destino e te conduz para um rumo que ninguém controla. Sempre carinhosa, dedicada às boas causas, me deu carinho à sua maneira e me apoiou nas minhas lutas.

E à minha família — irmãos, primos, tios. Aqui faço um parêntese para homenagear a minha Tia Antônia, minha segunda mãe. Que embalou as minhas noites e cantou pra eu dormir. Aos amigos que viraram família, digo: vocês são a rede que me segurou quando eu balancei.

Tive a oportunidade de acompanhar vários momentos da história do mundo. Nasci na explosão de uma Revolução Política do Brasil. Cresci num estado onde a Liberdade era sonhada e reprimida. Não se podia usar jeans, por exemplo, porque os hippies falavam de paz e amor. Acompanhei a queda do Muro de Berlim, enquanto Pedro Bial fazia a narrativa pela TV. Vibrei com os as músicas românticas e o Metal pesado do Kiss que me fiz gritar no primeiro Rock in Rio. Dancei tentando imitar o John Travolta nos Embalos de Sábados à Noites do Clube Ypiranga, com minha turma, Comando Delta. Casei, fui pai e segui a vida já com responsabilidades de homem que buscava a maturidade. Plantei arvores e escrevi tanto que muitos livros podem ser impressos. Amei muito. Vivi tanto que chego a me perguntar, como consegui fazer tantas coisas?  Hoje, mais maduro, quando penso na minha trajetória, lembro daquela canção que sempre me tocou a alma: My Way, do Frank Sinatra. Como diz a letra:

"E agora, o fim se aproxima / E eu encaro a cortina final / Meu amigo, eu vou dizer isso claro / Eu relatei, exatamente o que senti / E me livrei de cada dúvida / Eu vivi cada dia, até o fim / E mais, muito mais do que isso / Eu fiz do meu jeito.

Houve risos, sim, houveram lágrimas / Mas tudo, tudo em absoluto / Eu enfrentei, e fiz do meu jeito / Planejei cada rota traçada / Cada passo cuidadoso ao longo do caminho / E mais, muito mais do que isso / Eu fiz do meu jeito.

Sim, houve momentos, tenho certeza que você sabe / Em que mordi mais do que podia mastigar / Mas através disso tudo, quando havia dúvida / Eu comi, e cuspi pra fora / Eu enfrentei tudo / E me mantive de pé / E fiz do meu jeito."

Essa é a essência da minha vida: fiz do MEU JEITO. Com erros e acertos, mas sempre autêntico. Sem medo de ser quem eu era, mesmo quando o mundo esperava outra coisa.

Olho para trás sem arrependimentos, porque cada passo me trouxe até aqui. Já não busco a perfeição, mas a paz de espírito. Hoje com os passos mais lentos, aprendi que felicidade não é um destino, mas o modo como se viaja. E nesta estrada, escolho levar apenas o que importa: amor, memórias boas e a certeza de que, mesmo com rugas das lutas, a vida ainda reserva surpresas doces.

E agora que parto para terminar esses rabiscos, alguém que me acompanha, pode dizer: Mas é tão curto esse texto e relação aos outros, né? Sim! Porque o que eu vivi está guardado num lugar especial da minha mente que me faz sorrir sozinho e agradecer esses momentos. Obrigado Vida, por tantas páginas escritas. E que as próximas sejam de serenidade, risos compartilhados e cafés quentes ao lado de quem me importo. Mas sempre será do MEU JEITO!

Rubens Nascimento é jornalista, formado em Direito, Mestre Maçom- GOB e ativista do Desenvolvimento.

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