Quarta-feira, 11 de novembro de 2020 - 19h33
A partir da
descoberta do fogo, os sapiens passaram a uma nova etapa da evolução: se reuniam
ao redor de uma fogueira, conspirando pelo surgimento de novas comunidades, escolhendo
lideranças, enfrentando as necessidades com mais capacidade. O homem aprendeu,
então, que pensar em grupo rendia maiores dividendos. Daí surgiram as grandes
fraternidades brancas do oriente, as sociedades civis, abertas e secretas, as
seitas e religiões, as academias gregas e europeias, etc., com influência
marcante no poder. Um provérbio africano diz: “Se quer ir rápido, vá
sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo."
Os séculos 17, 18 e
19 foram pródigos no surgimento dessas sociedades, a maioria voltada para a
fraternidade, a troca de experiências, o crescimento das artes, das ciências,
da justiça, além da implementação das regras para uma boa convivência. Com o
tempo, os homens descortinaram um comovente segredo: viver não é só durar!
As academias de
letras, artes e ciências, surgiram no rastro deste segredo, quando se descobriu
que a reunião de pessoas com os mesmos propósitos; a discussão sadia de temas
que visavam a melhoria do convívio, o sorriso franco, o tapinha nas costas, o
abraço, o café e o chá em grupo, eram os melhores remédios para uma vida mental
sadia, feliz, alongando o tempo de prazer sobre a terra. As guerras e pandemias,
ao longo dos anos, vem dificultando essas atividades prazerosas. Dói mais,
quando a simples falta de uma sede, num universo de vários espaços públicos
abandonados, interfere no exercício do prazer em grupo e na interação cultural
com a sociedade. A Academia Mineira de Letras, fundada em 1909, só
conseguiu sua sede própria em 1950.
Nem a ABL- Academia Brasileira de Letras - escapou da pandemia: devido à
idade de seus membros e à necessidade do distanciamento social, foi obrigada a
fechar suas portas e a trabalhar de forma virtual, via site. O que dizer da ARL,
sem sede própria? O convívio que era a marca notável das academias está se
desfazendo ou se adaptando a um site, lives ou a mídias sociais, o que não é a
mesma coisa. Era comum, nos discursos de posse na ABL, a referência ao fato de
que “agora, estamos condenados a conviver para o resto da vida”,
o que implicava a renúncia a personalismos, ao exercício de atitudes de
arrogância ou prepotência. Academia rima com pandemia, mas é rima
insossa, não comove. “Mundo mundo
vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.”
(C.D.A,)
Quando fundamos a Academia
Rondoniense de Letras - ARL adubamos o terreno infértil das distâncias sociais,
achando que cifras e letras poderiam florescer sob o mesmo manto da cultura.
Estávamos imbuídos do propósito maior de que a academia se transformasse em uma
confraria, onde sentimentos mesquinhos como o da inveja, do preconceito, da
vaidade, do exclusivismo, fossem vencidos pela irmandade, pelo perdão, pela
convivência, pelo amor ao próximo, de
tal forma que desaparecesse do interior de cada um dos membros, o sentimento de
solidão. Sem uma sede própria fica imensamente difícil a aproximação entre os
participantes, assim como a elaboração de projetos conjuntos, para melhoria da
educação e da cultura de nossa amada região. Academia de laços solidários
é uma utopia necessária.
Nesses pouco mais
de 5 anos de existência, a ARL promoveu o lançamento de mais de 30 livros; na
pessoa de cada um de seus membros, participou de inúmeros encontros,
seminários, exposições, saraus, lives, concursos musicais, caminhadas
históricas, palestras em salas de aula, entrevistas em rede de rádios, mostras
fotográficas, cursos de artes plásticas; publicou artigos em jornais
eletrônicos, esteve presente no Facebook, no WhatsApp, etc. Enfim, de certa forma,
cumpriu com a missão primordial, atribuída a uma academia, mas por não possuir
uma sede própria, descuidou-se do lado social, da convivência sadia entre seus
membros. A Academia é um gesto de ousadia!
Dos quarenta
membros da ARL, metade tomou posse em plena Pandemia, aumentando a quantidade
dos ausentes, influenciados pelo distanciamento social, exigido pela OMS. O
tempo vai derrubando os tijolos que nem sofreram a ação da argamassa da
convivência, a quarentena vai exacerbando os egos inflados, contribuindo para
que mínimas lamurias se transformem em trincheiras verbais virtuais,
conturbando o silêncio da confraria sem teto.
Em todas as partes
do mundo, as academias vêm perdendo espaço, acompanhando o contínuo
desprestígio da leitura em livros impressos. Mesmo privando o leitor do
exercício da cultura de sovaco, ao transportar, vaidosamente e intimamente, um
livro embaixo do braço; mesmo suprimindo o contato carinhoso, mágico e
possessivo dos dedos sobre a capa e as páginas, ebooks e podcasts até poderão
substituir os livros, em sua forma
física, mas um site nunca substituirá a sede própria de uma Academia. Não
somos uma confraria de fantasmas, ainda não aprendemos a teletransportar o chá
dos acadêmicos.
Ainda assim nossos
confrades, salvo locais onde o governo patrocina atividades conjuntas com as
secretarias de educação e cultura, estão caminhando rumo às prateleiras mofadas
e estáticas do museu de gente, sob o impacto da última pá de cal do
coronavírus. Resta o alívio de saber que os anticorpos que trabalham a
favor da utopia estão na literatura, são imortais. Que a dor pelos mortos da
pandemia, frutifique na árvore da sabedoria.
Nossa utopia necessária
projeta e alimenta um período pós pandemia: tomara que a nossa sede própria se materialize,
para que o êxito, social e literário, acarinhe o convívio despretensioso, que
dará coesão e irmandade a um grupo renovável de escritores, cientistas e
artistas ad immortalitatem.
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