Segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021 - 10h48
Não fosse essa maldita pandemia,
estaríamos brincando o carnaval, em blocos, pelas ruas centrais de Porto Velho.
Como não podemos nos aglomerar, melhor ficar em casa, curtindo as lembranças de
carnavais passados, como os desfiles da Banda do Vai Quem Quer.
Não existe janela mais aprazível do que
aquela que é aberta por um feito nosso, no tempo da vida, abrindo vistas
diferentes e memoráveis em cada um dos participantes, adeptos da alegria de
viver: parece que foi ontem, a Banda foi criada em 1981, mas a janela do tempo
não fechou, ao longo dos anos, vem alternando vistas, como se nesta interação
com a transcendência do discorrer, o tempo deixasse de ser tempo.
Poucos são os feitos atemporais, quando
ocorre, imortaliza o autor pelo resultado. O tempo inexiste, a façanha permanece
no outro, em sucessivo devir: foi assim com Manelão, com a Ciça, está sendo
assim com a Banda do Vai Quem Quer.
Nada mais sublime do que alcançar a
intemporalidade na memória coletiva, mediante a criação de uma ferramenta que
induz à alegria, ao prazer e à satisfação: na Banda do Vai Quem Quer, o tempo é
uma experiência energética que vai além da expectativa de duração. Enquanto houver
vibração popular, cada instante feliz se multiplicará desmedidamente − na
ansiedade da espera dos próximos anos, ao longo da existência de vidas e vidas.
Existem bandas espalhadas nos quatro
cantos deste nosso brasilzão, o DNA da alegria está no sangue do brasileiro. Difícil
se falar em originalidade, no entanto, aos olhos do amor a esta terra, a nossa
Banda é a única cosmopolita, resultado de uma feliz mistura de caribenhos, europeus,
asiáticos, gringos, turcos, portugueses, brasileiros/cearenses e indígenas, que
ajudaram a construir a espetacular E.F.M.M., e são referência na gênese do
nosso querido estado de Rondônia.
Também centenário, como a cidade de
Porto Velho, meu conterrâneo Jorge Amado permitiu que seus personagens
saltassem de suas janelas romantizadas, incorporando vistas rondonianas,
carnavalizando o estado com a alegria de viver, parodiando Caetano: atrás da
Banda do Vai Quem Quer, só não vai quem já morreu. Nestes momentos de solidão
forçada, nada como ler ou reler um bom romance ao som dos velhos enredos da
Banda. A leitura libera a sua imaginação, colore os seus dias carnavalescos e
diversifica as culturas no seu entendimento.
Para
os que abrem, todos os anos, a janela do carnaval ao vivo e a cores, e este ano
terão que se contentar com as lives via celulares e notebooks, esclarecemos
que a ação no tempo é muito curta. Para os que guardam o estandarte da Banda, o
tempo é medido em anos, na feliz e necessária repetição da lembrança, mas, para
os que amam esta cidade e defendem ideias brilhantes, como a de Manelão e
seleto grupo, a janela do tempo permanecerá aberta, intemporal, gerando
constantes vistas de momentos felizes, registrados pela história, na memória de
cada um dos participantes.
Logo
mais vou puxar o meu bloco familiar, arrodeando as salas e quartos da casa em
memória de Manelão, dançando e dizendo a plenos pulmões xô coronavírus,
sai pra lá bicho feio, deixa eu passar com meu bloco das vacinas.
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