Sábado, 28 de maio de 2022 - 09h45
Antigamente dizia-se que a
televisão acabou com a janela, hoje, os mais radicais dizem que a internet
acabou com as vistas, tais afirmativas dependem do ângulo de visão e da cultura
de cada um. A janela da Internet nos proporciona prazeres/vistas outrora impensáveis,
lembro de como gostava, ainda na juventude, de música clássica. Comprava
aqueles bolachões de vinil e passava horas, trancado no meu quarto sem janelas,
ouvindo, no volume máximo, grandes expoentes da música erudita. Vem desta época
minha paixão pelo russo Sergei Vassilievitch Rachmaninoff, compositor, pianista
e maestro, falecido em Beverly Hills, Califórnia-EUA, em 28 de março de 1943.
Perscrutando as janelas da
música clássica no Youtube, me apaixonei por uma vista em que aparece a ucraniana
Anna Borysivna Fedorova, ou
simplesmente Anna Fedorova, interpretando ao piano, os concertos nº 2
(op. 18) e 3 de Rachmaninoff, só então me dei conta da minha pequenez estética
e de como a beleza feminina interfere no meu humour: cada gesto dela com o corpo,
acompanhando as vibrações da música, cada nota musical arrancada com os dedos
longos e competentes, cada movimento da face, até mesmo o balançar de um único
fio de cabelo, interferem em mim, elevam-me aos píncaros da alma, descontrolam
o meu sistema nervoso, convocam-me as lágrimas, o corpo todo me treme, e já nem
sei quem é mais importante, se o compositor ou a intérprete...
No mundo da música, haverá
sempre um pedestal para os intérpretes. Muitas canções, não fosse a
interpretação, a performance do cantor ou cantora, jamais alcançariam sucesso.
Por instantes, é como se a
parte intangível do meu cérebro saísse do material para vibrar à parte, como se
estivesse sob efeito de um alucinógeno. Beleza e competência, em momentos raros
da existência, resolveram se aliar. Ela é tão espetacular que consegue
banalizar o resto da orquestra, parece que seu corpo escultural e os traços de
sua face clássica se integram ao instrumento, proporcionando um som mágico,
único e atrativo. A batuta do maestro torna-se invisível, sequer é levada a
sério pela plateia, mero bastão na mão de um professor, dirigindo bandas
escolares. Só ela importa, só ela atrai todos os olhares, como se os
espectadores fossem mariposas em estado de fototaxia.
Às vezes me ponho a pensar se
o escritor conseguiria ser tão eficiente com as palavras, como o compositor é
com as notas musicais. Teriam as palavras encantadas pelo escritor tanto vigor
impactante? Com certeza, depende da genialidade do autor e de seu respectivo
intérprete!
Certa vez escrevi que a
palavra oriunda da pena de um poeta é o espírito na sua condição carnal. No
princípio era o verbo, a música veio depois, como um ponto de convergência e de
sublimação da evolução do homem sobre a terra. Diz a lenda historiográfica, que
padre Vieira conseguiu, com sua oratória fantástica, insuflar a massa,
militares e civis, pela vitória do Brasil, na guerra contra os holandeses, na
Bahia.
O encontro racional do homem
com as artes, autor, intérprete ou espectador, o excepciona! A arte é a vista mais
clarividente da janela da inteligência humana. Pena que são poucos os
escolhidos, a maioria, por despreparo ou ignorância, não enxerga além da
janela.
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