Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025 - 19h09
A partir da
descoberta do fogo, os sapiens, neandertais e demais grupos primitivos passaram
a se reunir em famílias e dessas reuniões foram surgindo novas línguas, novas
ideias, como a agricultura, conspirando para a ocupação da terra. À medida que
o tempo passava as comunidades aumentavam e se espalhavam ao redor dos
continentes, levando conhecimento e somando novas experiências, novas
capacidades, no contexto da evolução. As miragens na direção do horizonte, ao pôr
do sol, em redor de uma fogueira, introspectavam o olhar, ensinando o homem a
pensar, contribuindo para o surgimento de novas comunidades, novas lideranças,
novas viagens. O homem aprendeu, então, que pensar em grupo rendia maiores
dividendos. Daí surgiram as grandes fraternidades brancas do oriente, as
sociedades civis, abertas e secretas, os deuses, as seitas e religiões, as academias
gregas e europeias, etc., com influências marcantes no poder. Um provérbio
africano lembrava:
“Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo."
Os séculos 17, 18, 19 e 20 foram pródigos no surgimento dessas
sociedades, a maioria voltada para a fraternidade, a troca de experiências, o
crescimento das artes, das ciências, da justiça, além da implementação das
regras para uma boa convivência. Com o tempo, os homens descortinaram um
comovente segredo: viver não é só durar! Era comum, nos discursos de
posse, na Academia Brasileira de Letras - ABL, a referência ao fato de que “agora,
estamos condenados a conviver para o resto da vida”, o que implicava
renúncia a personalismos e ao exercício de atitudes de arrogância ou
prepotência.
As academias de
letras, artes e ciências, surgiram no rastro deste segredo, quando se descobriu
que a reunião de pessoas com os mesmos propósitos; a discussão sadia de temas
que visavam a melhoria do convívio, o sorriso franco, o tapinha nas costas, o
abraço, o café ou o chá em grupo, eram os melhores remédios para uma vida
mental sadia, feliz, alongando o tempo de prazer sobre a terra. Ademais o
título de membro efetivo de uma academia de letras massageia o ego, satisfaz a
vaidade, abre sorrisos e melhora o currículo. Contudo, a inveja, o egocentrismo
doentio e outros males da alma, acompanham certos homens, desde o Gênesis,
tornando a união de intelectuais em torno de uma academia, uma tarefa difícil,
principalmente quando se trata de uma academia sem teto. Parece
que o surgimento de academias, ao longo de inúmeras cidades, ao redor de nosso
país, banalizou-se, começando pela ABL. O que era pra ser um reconhecimento da
imortalidade das obras, extensivo aos autores, passou a ser uma escolha de
membros, que pouco ou nada contribuíram para o enriquecimento do idioma e de
sua literatura nacional ou regional. Toda média cidade brasileira, hoje, possui
uma ou mais de uma academia de letras, daí porque nós da ARL priorizamos não só
o reconhecimento das obras e dos autores, mas, e principalmente, a convivência
dos representantes locais de todas as artes, salvo raríssimas exceções, quando
um ou outro migra, porque se destacou nacionalmente. Para tanto necessitamos de
sede física. Academias online não sobrevivem.
Quando fundamos a
Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes - ARL na companhia do Júlio,
Dimis, Abel, Lucineide, Lucileyde, Anísio, Luiz, Jakobi, Angella, Viriato, Robson,
Alexandre, Dettoni, Barianni, Herculano, Reginaldo e outros abnegados, adubamos
o terreno infértil das distâncias sociais, achando que cifras e letras poderiam
florescer sob o mesmo manto da cultura. Estávamos imbuídos do propósito maior
de que a academia se transformasse em uma confraria, onde sentimentos
mesquinhos, como o da inveja, do preconceito, da vaidade, do exclusivismo,
fossem vencidos pela irmandade, pelo perdão, pela convivência, pelo amor ao
próximo, de tal forma que desaparecesse do interior de cada um dos membros, o
sentimento de solidão. Sem uma sede própria ficou imensamente difícil a
aproximação entre os participantes, assim como a elaboração de projetos
conjuntos, para melhoria da educação e da cultura de nossa amada região.
Hoje, tristemente, percebemos que algo deu errado. Duas frases
me corroem as entranhas criativas: 1) a da esposa do Renato, nosso primeiro
secretário geral, diante de membros efetivos, no auditório da Biblioteca
Francisco Meirelles: - Renato, o que você está fazendo no meio desse
povo??? 2) e a do Ernesto Mello, durante uma reunião ordinária da ARL,
no colégio Brasília, olhando diretamente nos meus olhos: - William, eu
não me sinto bem nesse ambiente, me sinto um estranho. Aos poucos,
sentimos que a ARL está nos escapando pelas intenções, se diluindo em grupos.
Eu mesmo venho me sentindo um estranho no ninho, sobrevivendo pelo bico
cultural da Karipuna Kult. Não fosse a KK e eu já teria pendurado as chuteiras.
Academia de laços solidários é uma utopia necessária, ainda que
imaginária, mas poucos entendem isso, preferem a desagregação da distopia, adubando
uma ARL, na contramão do que ensinou Thomas More.
Nesses quase 10
anos de existência, a ARL, de certa forma, cumpriu com a missão primordial,
atribuída a uma academia, publicando livros, revistas, participando de
seminários, fazendo palestras, saraus, mas, por não possuir uma sede própria,
o gesto de ousadia, que justificou a instalação da
instituição, vem perdendo força, como uma vela acesa, lutando com os vendavais,
para permanecer viva. Não queremos ser uma confraria de fantasmas,
sobrevivendo entre intrigas partidárias, verdades e fakes, no zap; ainda não
aprendemos a teletransportar o chá dos acadêmicos.
Dói muito, quando a
simples falta de uma sede, num universo de vários espaços públicos abandonados,
interfere na sobrevivência de uma instituição sem fins lucrativos; no exercício
do prazer em grupo e na interação cultural com a sociedade. Tomara que o jovem
e dinâmico prefeito da capital, Léo Moraes, enxergue a necessidade de doar uma
sede própria à instituição ARL, materializando o êxito social e literário,
acarinhando o convívio despretensioso, que dará coesão e irmandade a um grupo renovável
de escritores, cientistas e artistas ad
immortalitatem.
Os restos mortais de Eça; pertencem ao estado ou á família? (Continuação)
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