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Crônica

A lógica da mente humana


A lógica da mente humana - Gente de Opinião

Ajudou, mas não muito, rotular o que está certo, o que está errado e o que é politicamente correto. A educação ajudou, vem ajudando, mas não corrigiu nem corrigirá tudo, o tempo entre as mudanças de comportamento é muito longo e essas alterações não são homogêneas em relação ao universo, o que muda na África não é o mesmo que muda no Oriente Médio ou na Europa, precisaríamos de uma espécie de vacina obrigatória que interferisse na mente humana ou de um chip cerebral que modificasse o âmago, a natureza do ser humano, a origem tribal, que impedisse o ressurgimento da violência ancestral, no dia a dia de cada um. Um único instante de raiva pode acordar a violência adormecida num cantinho do cérebro humano. E essas mudanças comportamentais forçadas não passam de devaneios.

Os estudiosos da mente dizem que somos o resultado da soma de todas as civilizações. Difícil seria atingir todos os humanos, em todos os continentes, só com coisas boas. A besta humana, oriunda das cavernas, não desapareceu, vive a nos espreitar, às vezes nos empurrando a crimes estúpidos, a guerras absurdos, aqui e acolá. A ciência garante que a maldade não é coisa de filme, ela habita entre nós e pode vir à tona quando reunimos fatores que estimulam o aparecimento desse lado ruim. Originariamente somos todos maus, mas isto não quer dizer que sejamos maus o tempo todo, existe um filtro natural, conforme a educação de cada um. Para o psiquiatra Vítor Cotovio, o cocktail explosivo da maldade nasce de vários fatores conjugados, diferenciando uma pessoa de outra, muito em função da interação entre caráter e temperamento. O ferrão do escorpião está em todos nós, mas não o usamos sem antes interpretar os fatos que justificam, ou não, fazer o mal ao outro.

Poderíamos insuflar, aos quatro cantos do mundo, palavras e ações forjadas nos templos tibetanos dos Dalai-lamas, ou na doutrina da maioria das religiões. Poderíamos acreditar que, conforme os ensinamentos, seríamos a imagem e semelhança de um Deus/amor, ou o próprio deus/Homem, duplicado à exaustão, janela e vista de uma mesma teoria humanista, a personificação do espelho da divindade. Ainda assim, diante da realidade dos acontecimentos evolutivos, não deixaria de ser um sonho.

          Embora gostemos de divagar pela utopia, pelo sonho da paz mundial, não vejo o mundo sem conflitos, a mim me parece que o bem e o mal nascem e morrem com o homem, são vistas necessárias ao progresso proveniente da janela humana, como se o homem tivesse uma balança interior, passível de ser influenciada pela vaidade, pelo poder, pelo racismo, pelas distâncias sociais, pela vontade de controlar a consciência alheia. O fiel dos pratos do bem e do mal, não se sustenta na neutralidade. Tomar partido, com base em ideologias ou em religiões, é muito arriscado. Jung dizia que “O pêndulo da mente humana oscila entre sentido e absurdo, não entre certo e errado.”

Algumas religiões, como a dos Drusos, sustentam a sonhada necessidade da reencarnação purificadora – morrer ruim para renascer melhor! Uma espécie de mudança de status, conseguida com a morte, no mundo espiritual: a cada ciclo de vida/morte, surgiria um novo homem, uma nova janela humana capaz de gerar, com o desenrolar do tempo, vistas pacíficas, que nos aproximariam de Deus. Entrementes a IA vem caminhando a passos largos, mesmo sem possuirmos dotes nostradâmicos, logo teremos de refazer, reprogramar, reimaginar o futuro, com base no algoritmo.  

As guerras bestiais entre parentes, no Oriente Médio, em muitos países da África, na Ucrânia, etc. etc. são uma prova clara e evidente de que o pêndulo da mente humana, às vezes, pende para o lado do absurdo, sem nenhum pudor, nos levando a crer que, no conjunto da obra, alguma coisa, mesmo com a evolução, ainda está errada ou não tem conserto. A ONU, desde a sua fundação, vem sendo manipulada pelos poderosos, não consegue ter uma única voz pela paz.  

A lógica da mente não absorve pacificamente a unificação de pensamentos sionistas, racistas, de extrema direita, extrema esquerda, capitalistas extremados, enfim, a paz, no dizer de Hermann Hesse, é algo que não conhecemos, que apenas buscamos e imaginamos. A paz é um ideal.

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