Quarta-feira, 20 de abril de 2022 - 14h18
Ajudou, mas não muito, a
invenção do pecado, do inferno, do capeta, das religiões, porque a maldade está
dentro do homem, na sua origem. A educação ajuda, mas não corrige tudo,
precisaríamos de uma espécie de vacina que interferisse na genética humana, ou
um chip cerebral que modificasse o âmago, a natureza do ser humano, que
impedisse o ressurgimento da violência ancestral, no dia a dia de cada um.
Acredito que só a partir daí a
besta humana, o ser primitivo das cavernas desapareceria, daria lugar ao ser alteridade,
construído ao longo das civilizações. Gustave Young disse que nosso cérebro é a
soma de todas as civilizações. Ainda assim não estamos livres de seres
mutantes, de vampiros, como o libriano Putin, e de tantas outras versões
malignas, astrológicas ou não, que se alimentam da maldade e do sangue humano.
Poderíamos insuflar, aos
quatro cantos do mundo, palavras e ações forjadas nos templos tibetanos dos
Dalai-lamas, ou na doutrina da maioria das religiões. Poderíamos acreditar que,
conforme os ensinamentos, seríamos a imagem e semelhança de um Deus/amor, ou o
próprio deus/Homem, duplicado à exaustão, janela e vista de uma mesma teoria
humanista, a personificação do espelho da divindade, contudo as sombras egoístas
do ser sobrevivem num cantinho invisível do cérebro humano, prontas para dar o
bote.
A interferência da Ciência, embora
pareça uma solução viável, não sei se daria certo, não vejo o mundo sem
conflitos, a mim me parece que o bem e o mal nascem e morrem com o homem, são
vistas necessárias ao progresso proveniente da janela humana, como se o homem
tivesse uma balança interior, onde a consciência seria o fiel dos pratos do bem
e do mal. Como se precisássemos do mal para conhecer o bem e vice-versa. Ademais
a concorrência entre os homens, entre as nações, a luta egocentrista pelo poder,
pelo ter, alimentada pelo capitalismo selvagem, também contribuem com a imortalidade
da natureza ruim dos seres humanos.
Algumas religiões, como a dos
Drusos, sustentam a necessidade da reencarnação purificadora da vida – morrer
ruim para renascer melhor! Uma espécie de mudança de status, conseguida com a
morte. No mundo espiritual, segundo eles, a cada ciclo de vida/morte, surgiria um
novo homem, uma nova janela humana capaz de gerar, com o desenrolar do tempo,
vistas pacíficas, que o aproximariam de Deus.
No entanto, esse é um milagre improvável
e ilógico, a natureza humana, enquanto espécie dos sapiens e dos neandertais,
vem sofrendo modificações cerebrais, conforme a evolução e o número crescente
de seres sobre a superfície do universo. Não somos um número único de seres
evoluindo, somos ilimitados e evoluindo dentro de uma mesma natureza.
Uma conhecida fábula conta a estória
de um escorpião tentando atravessar um rio. O escorpião pede ajuda a um sapo:
− Não, diz o sapo. Isso
é impossível. Se deixar que suba em minhas costas, poderia picar-me e a picada
de um escorpião é mortal para mim.
− Onde está a lógica
disso? respondeu o escorpião. Os egocêntricos escorpiões sempre tentam ser
lógicos. Se eu te pico, você morre e eu me afogo.
O pobre sapo se
convenceu com a demagogia populista do escorpião, centrada no poder do seu
ferrão e numa ideologia rasa que divide a sociedade em dois grupos antagônicos,
e permitiu que ele subisse em seu torso. Mas, no meio do rio, o sapo sentiu uma
terrível picada e se deu conta de seu erro.
− Lógica!? disse o sapo.
Onde está a lógica?
− Lamento a sua
decepção, afirmou o escorpião, mas essa é a minha natureza, eu sou demagogo, como
o político populista, posso até morrer, mas não abdico da vontade de tirar
vantagens de gente inocente como você.
Cuidado com aqueles em que você decide confiar para comandar a nação, o
estado ou a cidade. A natureza humana não é confiável, a qualquer momento, quem
têm uma índole ruim acaba se revelando, praticando ações más e ninguém consegue
enxergar de onde vieram.
A ciência garante que a maldade não é coisa de
filme, ela habita entre nós e pode vir à tona quando reunimos fatores que
estimulam o aparecimento desse lado ruim. Originariamente somos todos maus, mas
isto não quer dizer que sejamos maus o tempo todo, existe um filtro natural,
conforme a educação de cada um. Para o psiquiatra Vítor Cotovio,
o cocktail explosivo da maldade nasce de vários fatores
conjugados, diferenciando uma pessoa de outra, muito em função da interação
entre caráter e temperamento. O ferrão do escorpião está em todos nós, mas não
o usamos sem antes interpretar os fatos que justificam, ou não, fazer o mal ao
outro.
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