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Crônica

A lógica do escorpião


A lógica do escorpião - Gente de Opinião

Ajudou, mas não muito, a invenção do pecado, do inferno, do capeta, das religiões, porque a maldade está dentro do homem, na sua origem. A educação ajuda, mas não corrige tudo, precisaríamos de uma espécie de vacina que interferisse na genética humana, ou um chip cerebral que modificasse o âmago, a natureza do ser humano, que impedisse o ressurgimento da violência ancestral, no dia a dia de cada um.

Acredito que só a partir daí a besta humana, o ser primitivo das cavernas desapareceria, daria lugar ao ser alteridade, construído ao longo das civilizações. Gustave Young disse que nosso cérebro é a soma de todas as civilizações. Ainda assim não estamos livres de seres mutantes, de vampiros, como o libriano Putin, e de tantas outras versões malignas, astrológicas ou não, que se alimentam da maldade e do sangue humano.  

Poderíamos insuflar, aos quatro cantos do mundo, palavras e ações forjadas nos templos tibetanos dos Dalai-lamas, ou na doutrina da maioria das religiões. Poderíamos acreditar que, conforme os ensinamentos, seríamos a imagem e semelhança de um Deus/amor, ou o próprio deus/Homem, duplicado à exaustão, janela e vista de uma mesma teoria humanista, a personificação do espelho da divindade, contudo as sombras egoístas do ser sobrevivem num cantinho invisível do cérebro humano, prontas para dar o bote.

A interferência da Ciência, embora pareça uma solução viável, não sei se daria certo, não vejo o mundo sem conflitos, a mim me parece que o bem e o mal nascem e morrem com o homem, são vistas necessárias ao progresso proveniente da janela humana, como se o homem tivesse uma balança interior, onde a consciência seria o fiel dos pratos do bem e do mal. Como se precisássemos do mal para conhecer o bem e vice-versa. Ademais a concorrência entre os homens, entre as nações, a luta egocentrista pelo poder, pelo ter, alimentada pelo capitalismo selvagem, também contribuem com a imortalidade da natureza ruim dos seres humanos.

Algumas religiões, como a dos Drusos, sustentam a necessidade da reencarnação purificadora da vida – morrer ruim para renascer melhor! Uma espécie de mudança de status, conseguida com a morte. No mundo espiritual, segundo eles, a cada ciclo de vida/morte, surgiria um novo homem, uma nova janela humana capaz de gerar, com o desenrolar do tempo, vistas pacíficas, que o aproximariam de Deus.

No entanto, esse é um milagre improvável e ilógico, a natureza humana, enquanto espécie dos sapiens e dos neandertais, vem sofrendo modificações cerebrais, conforme a evolução e o número crescente de seres sobre a superfície do universo. Não somos um número único de seres evoluindo, somos ilimitados e evoluindo dentro de uma mesma natureza.

Uma conhecida fábula conta a estória de um escorpião tentando atravessar um rio. O escorpião pede ajuda a um sapo:

− Não, diz o sapo. Isso é impossível. Se deixar que suba em minhas costas, poderia picar-me e a picada de um escorpião é mortal para mim.

− Onde está a lógica disso? respondeu o escorpião. Os egocêntricos escorpiões sempre tentam ser lógicos. Se eu te pico, você morre e eu me afogo.

O pobre sapo se convenceu com a demagogia populista do escorpião, centrada no poder do seu ferrão e numa ideologia rasa que divide a sociedade em dois grupos antagônicos, e permitiu que ele subisse em seu torso. Mas, no meio do rio, o sapo sentiu uma terrível picada e se deu conta de seu erro.

− Lógica!? disse o sapo. Onde está a lógica?

− Lamento a sua decepção, afirmou o escorpião, mas essa é a minha natureza, eu sou demagogo, como o político populista, posso até morrer, mas não abdico da vontade de tirar vantagens de gente inocente como você.

Cuidado com aqueles em que você decide confiar para comandar a nação, o estado ou a cidade. A natureza humana não é confiável, a qualquer momento, quem têm uma índole ruim acaba se revelando, praticando ações más e ninguém consegue enxergar de onde vieram.

 

A ciência garante que a maldade não é coisa de filme, ela habita entre nós e pode vir à tona quando reunimos fatores que estimulam o aparecimento desse lado ruim. Originariamente somos todos maus, mas isto não quer dizer que sejamos maus o tempo todo, existe um filtro natural, conforme a educação de cada um. Para o psiquiatra Vítor Cotovio, o cocktail explosivo da maldade nasce de vários fatores conjugados, diferenciando uma pessoa de outra, muito em função da interação entre caráter e temperamento. O ferrão do escorpião está em todos nós, mas não o usamos sem antes interpretar os fatos que justificam, ou não, fazer o mal ao outro.

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