Domingo, 13 de setembro de 2020 - 08h47
A
espetacular magia da palavra escrita, inventada há cerca de 50 séculos, se
confunde com a magia da literatura, transformada em livro, há pouco mais de 500
anos. Recebendo o adjutório do conhecimento, a escrita acumulou/a saber
cientifico e, ao ingressar no mundo da imaginação e das artes literárias, gera conceitos,
ficcionais ou não, capazes de mexer com as nossas emoções, simplesmente
juntando e combinando traços mágicos, em qualquer idioma, em qualquer
plataforma, também sujeitos às leis da evolução humana. O que seria da magia
negra sem o livro de São Cipriano?
Um
pé de manga de camisa cobre inúmeros braços… pra não lhe confundir, vou-me já
andando, antes que me achem feio que nem um cão chupando manga. Arre égua!
Juntar
letras, sinais gráficos, ideogramas, sílabas e consequentes palavras, frases,
períodos, contos, crônicas, romances, ideias, emoções, é como se o escritor
fosse um alquimista de sentimentos, se utilizando da magia da escrita, para
informar, fazer rir, chorar e sentir,
combinando o inconsciente coletivo com várias formas de expressão,
democratizando e ecoando a comunicação universal artística. Vez passada,
eu tumei umas, com tira-gosto de vespa assada, feito chinês, e saí arrotando
grandeza.
Nas
veredas da vida, constantemente, memorizamos, identificamos e aprendemos
significados de símbolos pré-definidos pela sociedade, ou fruto de nossa
bagagem cultural, que podem nos atapetar a magia da caminhada literária,
tangibilizando os sentimentos, embaralhados no imaginário. Dos olhos pra
fora, a liberdade! Dos olhos pra dentro a criatividade confabulando com a imaginação,
antes da alforria das emoções. Parodiando
Platão, nas asas do amor, as palavras adquirem alma, viajam de volta pra
casa, para o mundo das ideias. Elas querem se libertar do cárcere do corpo. Algumas
obras se libertam do corpo, nas asas dos gases, viajando em sentido
inverso ao conjunto das palavras politicamente incorretas. Pum, Pum, Pum…
−
O sono é o prelúdio da morte. − Vá pra puta que o
pariu, com suas frases bem comportadas, deixe-me dormir em paz.
A
literatura, nas suas várias vertentes, enquanto instrumento de libertação, é a
mãe de todas as artes: sem o suporte do texto dramático, o Teatro não teria a
mesma pegada, sem o roteirista e os textos adaptados, o cinema perderia a sua
essência cultural e sentimental. Todas as artes começaram na libertação dos
fantasmas da consciência, entretanto o pontapé inicial foi o instante em que o
homem descobriu variadas formas figurativas de expressar vivências. Inclusive, podemos
afirmar, sem exclusividade semântica, que as artes plásticas são a verbalização,
colorida ou não, capazes de construir, na mente alheia, uma estrada para a
percepção dos sentimentos artísticos. O artista escreve com pincéis, com as
mãos, enfim, com a sensibilidade sensorial.
O
amor nunca mais foi o mesmo depois de Romeu e Julieta. O palavrão
ganhou status com Jorge Amado: a força do contexto é que determina quando você
deve usar ânus ou cu. Os percalços da vida, a persistência de um escritor em
busca da perfeição, jamais serão encarados da mesma forma, depois da leitura de
O Velho e o Mar: “o homem não foi feito para a derrota… Um homem
pode ser destruído, mas não derrotado”.
Hamlet,
pela
expressão shakespeariana, fez/faz mais sucesso do que o próprio
Shakespeare. Miguel de Cervantes publicou aquele que é considerando o primeiro
romance da história, em 1605, todavia as ações de Dom Quixote de La Mancha e Sancho
Pança, seu fiel escudeiro, continuam reverberando nas mentes humanas, mesmo
naquelas que nunca leram a obra do famoso escritor. Capitu, resultado da
genialidade de Machado, ainda não perdeu os olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados, nem se livrou da sentença condenatória
popular, no julgamento de traição. A literatura, independentemente dos gêneros,
é, sem dúvida, a mãe de todas as magias artísticas.
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