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Crônica

A Mãe de Todas as Magias


A Mãe de Todas as Magias - Gente de Opinião

A espetacular magia da palavra escrita, inventada há cerca de 50 séculos, se confunde com a magia da literatura, transformada em livro, há pouco mais de 500 anos. Recebendo o adjutório do conhecimento, a escrita acumulou/a saber cientifico e, ao ingressar no mundo da imaginação e das artes literárias, gera conceitos, ficcionais ou não, capazes de mexer com as nossas emoções, simplesmente juntando e combinando traços mágicos, em qualquer idioma, em qualquer plataforma, também sujeitos às leis da evolução humana. O que seria da magia negra sem o livro de São Cipriano?

Um pé de manga de camisa cobre inúmeros braços… pra não lhe confundir, vou-me já andando, antes que me achem feio que nem um cão chupando manga. Arre égua!

Juntar letras, sinais gráficos, ideogramas, sílabas e consequentes palavras, frases, períodos, contos, crônicas, romances, ideias, emoções, é como se o escritor fosse um alquimista de sentimentos, se utilizando da magia da escrita, para informar, fazer rir, chorar e sentir,  combinando o inconsciente coletivo com várias formas de expressão, democratizando e ecoando a comunicação universal artística. Vez passada, eu tumei umas, com tira-gosto de vespa assada, feito chinês, e saí arrotando grandeza.

Nas veredas da vida, constantemente, memorizamos, identificamos e aprendemos significados de símbolos pré-definidos pela sociedade, ou fruto de nossa bagagem cultural, que podem nos atapetar a magia da caminhada literária, tangibilizando os sentimentos, embaralhados no imaginário. Dos olhos pra fora, a liberdade! Dos olhos pra dentro a criatividade confabulando com a imaginação, antes da alforria das emoções.  Parodiando Platão, nas asas do amor, as palavras adquirem alma, viajam de volta pra casa, para o mundo das ideias. Elas querem se libertar do cárcere do corpo. Algumas obras se libertam do corpo, nas asas dos gases, viajando em sentido inverso ao conjunto das palavras politicamente incorretas. Pum, Pum, Pum…

− O sono é o prelúdio da morte. − Vá pra puta que o pariu, com suas frases bem comportadas, deixe-me dormir em paz.

A literatura, nas suas várias vertentes, enquanto instrumento de libertação, é a mãe de todas as artes: sem o suporte do texto dramático, o Teatro não teria a mesma pegada, sem o roteirista e os textos adaptados, o cinema perderia a sua essência cultural e sentimental. Todas as artes começaram na libertação dos fantasmas da consciência, entretanto o pontapé inicial foi o instante em que o homem descobriu variadas formas figurativas de expressar vivências. Inclusive, podemos afirmar, sem exclusividade semântica, que as artes plásticas são a verbalização, colorida ou não, capazes de construir, na mente alheia, uma estrada para a percepção dos sentimentos artísticos. O artista escreve com pincéis, com as mãos, enfim, com a sensibilidade sensorial.   

O amor nunca mais foi o mesmo depois de Romeu e Julieta. O palavrão ganhou status com Jorge Amado: a força do contexto é que determina quando você deve usar ânus ou cu. Os percalços da vida, a persistência de um escritor em busca da perfeição, jamais serão encarados da mesma forma, depois da leitura de O Velho e o Mar: “o homem não foi feito para a derrota… Um homem pode ser destruído, mas não derrotado”.

Hamlet, pela expressão shakespeariana, fez/faz mais sucesso do que o próprio Shakespeare. Miguel de Cervantes publicou aquele que é considerando o primeiro romance da história, em 1605, todavia as ações de Dom Quixote de La Mancha e Sancho Pança, seu fiel escudeiro, continuam reverberando nas mentes humanas, mesmo naquelas que nunca leram a obra do famoso escritor. Capitu, resultado da genialidade de Machado, ainda não perdeu os olhos de ressaca, oblíquos e dissimulados, nem se livrou da sentença condenatória popular, no julgamento de traição. A literatura, independentemente dos gêneros, é, sem dúvida, a mãe de todas as magias artísticas.   

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