Quarta-feira, 5 de agosto de 2020 - 19h59
Magia, magos, mágicos, são nomes por demais abrangentes, vão do
simples ao complexo, do místico ao mítico, num piscar de olhos, como se todos
os instantes da vida estivessem interligados por um ato de magia, branca ou
negra, instigante ou enigmática, misteriosamente misteriosa. Natural como o
desabrochar de uma flor, a candura de um uirapuru, o despencar barulhento das
águas de uma cascata. E falsa como os ilusionistas, treinados pelo surreal a
dar vez ao sobrenatural, criando novas verdades, despertando curiosidades em
simples olhos racionais, despreparados para entender os vários segmentos da
magia. E Eva obrigou a serpente a comer a maçã...
Vale ressaltar que a magia antiga era complicada, possuía uma
linguagem cheia de símbolos, rituais e cálculos. Hoje o que sobrou em
instituições e organizações secretas é insignificante. O
fenômeno mágico começava na cabeça do mago. Como todo Ser criador, ele era uma
pessoa complexa, uma criatura em geral ousada e até mesmo temerária. Durante a
Inquisição muitos magos conhecidos foram decapitados ou queimados, pela Igreja
Católica.
No ambiente rural o mágico/benzedor ou benzedeira acaba com
quebranto, cura bicheira de gado, verrugas de criança e outras doenças,
restritas ao meio de quem jamais ousou contestar o sobrenatural, nem duvidar. A um
imenso conjunto de fenômenos e práticas que o ser humano pode produzir, mas que
não podem ser explicados pela autossugestão, pela simplicidade do olhar
encantado, nem por quaisquer leis da ciência e da psicologia oficiais, dá-se o
nome genérico de magia. Já vi mágico fazendo criança por ovos, cuspir moedas,
retirar lenços do ouvido, coelho e pombo da cartola, pronunciando uma frase
famosa: na vida tudo é relativo!
Na cidade de Itumirim-BA, havia um prefeito muito vaidoso que foi
apresentado, pela filha menor, ao livro As Aventuras de Pinóquio,
do italiano Carlo Collodi: como era comum às famílias de
lastro, ela exigia do pai a leitura de pequenos trechos, antes de dormir.
Certo dia, o prefeito cismou que seu nariz estava crescendo além da conta. Ele terminava
de fazer um discurso e corria pro espelho. Verdade, estava crescendo, e agora?
Ele não esperou a alcunha nem o olhar repreensivo da filha, mandou buscar o
benzedor da cidade, e a reza não surtiu efeito, trouxe um cirurgião plástico da
capital, e encomendou a cirurgia, queria cortar a metade do nariz. Cortar
cortou, mas não adiantou, o nariz começou a crescer em sentido inverso, deu a
volta no cérebro e brotou no cocuruto da careca, feito chocalho de cascavel:
ele respirava forte e a ponta do nariz produzia o som de um guizo, abrindo o
sorriso da filha. Nem chapéu, o nariz respeitou! Só parou de crescer, depois
que a foice justiceira fungou no cangote dele. O apelido temido foi grafitado
na lápide, pra tristeza da família: ladrão!
A magia se sujeita a muitas definições: “é uma
arte especial, baseada na existência de forças naturais, pouco ou mal
conhecidas, e ordinariamente fora do alcance do poder do homem. Conhecer essas
forças, canalizá-las, orientá-las e, até certo ponto, utilizá-las, é o objetivo
da magia”; “é, antes de tudo, a arte
divina que consiste em travar contato com a alma universal e, através dela,
dominar as forças espirituais invisíveis no espaço e na substância;” Sê bom e
serás ruim e vice-versa.
De onde
vim, qual o sentido da vida, pra onde vou? Para conquistar conhecimento, o
pensamento evoluiu com o homem, criando diversos métodos de trabalho e
desenvolvendo inúmeras posturas para manipular o desconhecido e dele extrair
respostas. Só sei que ele era enorme e tinha um olho só, na testa, e a boca era
na barriga, atendia pelo nome de Mapinguari. No dia em que ele se amostrou,
estava todo lambuzado de açaí e fedia a peixe.
A prática
da magia é, sem dúvida, tão antiga quanto o próprio homem. Há quem diga que ela
é precursora da religião, mas estudos mais profundos mostram ser mais provável
que ambas tenham sempre existido, uma ao lado da outra. Magia e religião acreditam
em um poder transcendental, a grande diferença está nas atitudes de cada uma: a
magia preocupa-se em comandar, controlar e compelir esse poder para a
satisfação dos seus próprios objetivos; a religião, por outro lado, preocupa-se
em adorar esse poder, suplicando a sua ajuda e aceitando, resignadamente,
aquilo que ele dá. Nada mais mágico do que o mundo natural, nem mais demoníaco
que o mundo dos desejos. Não existe parte do homem que não seja parte dos
deuses ou dos demônios, nossos velhos conhecidos: o bem e o mal! Eu guardo
em mim um deus, um louco e um demônio!
Magia é
hoje uma palavra problemática, dona de vários sentidos. Existe a magia do teatro,
do cinema, da plateia, do designer de roupas, da arte, da ficção literária, do prestidigitador
que tira coelhos da cartola ou dos truques de alta tecnologia de Copperfield a
Mr. X. Todavia para que qualquer ação mágica tenha bom êxito é preciso usar a
imaginação. O poder da imaginação é o verdadeiro “pulo do gato” da magia. A
Xuxa jura que viu duendes em seu quintal, eu já convivi com um filho do boto,
na Unir. E existe o mágico de picadeiro, único capaz de pintar um sorriso
cintilante numa face emburrada, viajando da infância à velhice, feito um cometa
em cuja cauda lê-se: temporário como a alegria!
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