Quinta-feira, 20 de agosto de 2020 - 14h39
O
comportamento do público/plateia varia conforme o tipo de espetáculo − do
futebol às igrejas, do show de cantor popular ao teatro, do erudito ao brega,
do circo à praça − a participação do público é diferenciada e exerce um efeito
nem sempre positivo. O discurso, a palavra religiosa, uma partida de um jogo
qualquer, o show, o espetáculo, a peça teatral e até mesmo o comício, precisam
de um ponto de apoio da plateia, uma espécie de “bate e volta”, ou seja, alguma
coisa da apresentação pública precisa ser simpática, para despertar a empatia
da plateia, o efeito magia.
Um
candidato a prefeito de uma cidade do interior de Minas Gerais, mandou armar um
palanque para um comício, às margens de um rio da cidade, onde havia um extenso
gramado: − Quando eu vejo essa grama verde, eu me lembro de minha mãe.
Um malandro da plateia perguntou em voz alta: − Ela era égua?
E o político respondeu sem titubear: − Era não, filho da puta, era
lavadeira.
Impossível
analisar uma plateia a partir de uma única pessoa, embora o efeito liderança
possa se sobressair e influenciar o comportamento dos demais, numa espécie de
contágio, porém o normal é o conjunto, o grupo funcionar como vibração
estimulante do entorno da glândula pineal coletiva, a abracadabra responsável
pela magia do retorno, em forma de aplausos e gritos de incentivo. Nada mais
importante para o pacto, para a interação cerebral do que aplausos seguidos de:
Evoé, bravo, valeu, viva, mengoool, é isso aí, parabéns, bis bis, sensacional,
Sandy! Sandy! Sandy!
O público de um espetáculo de futebol tem
um comportamento diferenciado, porque já possui o rótulo “torcida”, o mesmo
acontece com as chamadas “macacas de auditório”, que já saem de casa com o
propósito de “causar”, durante um show. Para esses públicos, o efeito magia já
vem embutido na exibição, exercendo um certo entusiasmo, no time ou no artista
que está se apresentando. A frieza do botão “curtir” não influencia do mesmo
modo, daí porque as “lives” dos cantores, em tempos de pandemia, são tão sem
graça e os jogos sem público acontecem sem o mínimo entusiasmo. Imaginem a
algazarra, se houvesse público, na vitória do Bayern sobre o Barcelona por 8X2:
Cabróns, cagóns, gilipolhas, mételo por el culo, em espanhol, ou em catalão: mare
meva, ostres, caram, gep de burra, cagadubtes, escalfabraguetes, enquanto os alemães
retrucariam: tor, eigentor schiribarças, tot, tor, tor, tor, tor, tor, tor.
Na
cidade de Feira de Santana, interior da
Bahia, a Orquestra Sinfônica da UFBA fazia uma apresentação rara, tocando em
praça pública, ao término de uma composição de Mozart, um espectador se
levantou e em voz alta pediu: − Maestro, num dava pra tocar uma sofrência,
pra nóis? O maestro tentou sorrir, mas não evitou as palavras que lhe
brotaram da boca, em voz baixa: puta que pariu, era só o que me faltava. O
maestro respondeu com Elisa de Beethoven, o tabaréu esperou educadamente a
orquestra terminar e retrucou: num sabe tocar sofrência, mas sabe a
musiquinha do caminhão que entrega gás, eheheheh.
A
grande diferença do teatro, do circo, da praça, para o cinema é a magia do
aplauso instantâneo, a cara de felicidade da trupe com a satisfação do público.
A magia da plateia é decisiva no sucesso, na continuidade de um espetáculo
presencial, seja ele qual for.
Por
outro lado o sucesso das apresentações online, via vídeos postados nas mídias
sociais, vem causando efeitos surpreendentes, modificando o estudo da magia
presencial, ou seja o virtual interferindo no físico, nestes casos ocorre
claramente o que os psicólogos chamam de fator humano: geralmente é um
personagem “carente de tudo”, que precisa fazer sucesso para sobreviver,
estabelecendo uma empatia instantânea com o público internético. Lembram da caneta azul, azul caneta, caneta azul tá marcada com
minha letra? Nestes casos, quase sempre, o sucesso é singular. Caneta
preta, caneta preta, escrevi meu nome nas suas tetas. Black pens
matter. Online ou não, o sucesso
é proporcional a magia da interação, à qualidade da interpretação e ao tempo de
permanência na memória coletiva, além do apoio da TV. Nossa, nossa, assim
você me mata, ai se eu te pego, ai, ai, ai, se eu te pego.
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