Terça-feira, 25 de agosto de 2020 - 18h56
A TV
começou a ser pensada na década de 1920, foi aperfeiçoada na década seguinte,
teve a sua patente registrada pelos americanos em 1939, mas o primeiro aparelho
era de uma empresa alemã, a Telefunken. Continuou se aperfeiçoando, ganhando
novas versões tecnológicas, mas só a partir de 1950 foi apresentada ao Brasil, pelas
mãos de Assis Chateaubriand, como “um rádio com imagens”, para ser uma nova opção
democrática de diversão, a síntese do rádio, do cinema, do teatro, dos
espetáculos burgueses, sem contar que era mais um espaço de ação da imprensa. A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de
televisão (Leminsky). O poeta tá na Disney, meu parça.
Desde o
seu nascimento que a TV sofre críticas, principalmente da classe mais
esclarecida, daqueles que viam o aparelhinho como máquina de fazer loucos: era
desperdício do tempo, que deveria ser dedicado ao aprimoramento do
conhecimento, ao estudo das ciências e das artes como um todo. O Barão de
Itararé dizia que a televisão é a maior
maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
TV aberta
é mágica por cativar todo tipo de público, do infantil ao jovem, do adulto ao
senil, mas desde que passou a ser instrumento da política partidária, palanque
de religiosos e formadora tendenciosa de opiniões, passou a dividir suas
características entre a magia branca e a negra, detentora dos 72 anjos e
demônios, dados pelo sistema, mas usados maleficamente para perpetuação do
egocentrismo empresarial e religioso. Xô bicho feio!
Dom
Raphael vai dar a bronca e vai ser contra o Direito de Nascer. Texto importado e adaptado, de Cuba,
bateu todos os recordes de audiência, nos primórdios da TV. Mano, o papai
tá on. Gata só brota, porque o pai tá on!
Considerada
por muitos a caixa de pandora tecnológica, ao longo dos primeiros anos, seu uso
excessivo foi apontado por estudiosos como causa de algumas disfunções e
doenças. Hoje esse leque de desvios, segundo as igrejas católica e evangélicas,
se estende ao homossexualismo, ao lesbianismo, et cetera e tal, exatamente por
ser a TV, via programas e novelas, uma forte influenciadora de costumes,
práticas e tendências nem sempre boas. Para Steve Jobs as pessoas ligam a
televisão quando querem desligar o cérebro.
Tô louco! tô louco! tô louco! Silvio Santos, ao vivo, num programa pra crianças,
desafiou uma menina, com cerca de 12 anos, para que lhe fizesse uma pergunta: −
Silvio, qual a diferença de um bambu, um poste e uma mulher? Ele
pensou um pouco e respondeu: − Não sei. A menina então disse: − O
poste dá luz em cima, a mulher dá luz em baixo. E o Silvio, todo
sorridente, insistiu: Ah, ah, ah aiii,
e o bambu? A menina concluiu, para felicidade geral da nação: − o
bambu você enfia no cu. Este vídeo até hoje reverbera no Youtube.
Também
num programa do Silvio Santos, a garota Maísa, que o ajudava na apresentação,
soltou um pum ao vivo, seguido de um comentário: − todo mundo solta pum,
ninguém é tapado; − Ah ah ah aiii, mas que menina inteligente, comentou
Silvio. Ele tinha um crush por ela. Que sapão!
As gafes
se multiplicam e o festival de besteiras só aumenta o repertório, na TV ao
vivo: Hebe Camargo, Silvio Santos, Flávio Cavalcante, Raul Gil, Gugu Liberato,
Chacrinha e tantos outros, foram protagonistas. Hoje quem dá as cartas, liderando
o festival de besteiras que assola a TV, é o Faustão, seguido de perto pelo
Ratinho, Siqueira e outros. Fum! Você fede a maconha!
No SBT, Hebe
bateu recordes de audiência, inclusive o TV Pirata da rede Globo, quando entrevistava
a competentíssima Xuxa: − ô que gracinha essa menina. O que você acha
da vida, minha filha? − Ilarilarilariê (ô, ô, ô),
sou Pelé e me declaro black lives matter. Ele é meu bife.
Neila
Medeiros, de um jornal do SBT, ao encerrar um noticiário (2014), mandou um beijinho
para um suposto telespectador de nome Tômas Turbando. − Tô mentindo
Terta? − Verdade, Pantaleão. Zelda Melo já foi chamada por William
Waack, durante apresentação de um jornal da Globo, de Zelda Merda.
A TV
trouxe para dentro de casa ou pela TV vizinho, oportunidades raras, como
conhecer o visual dos artistas do rádio, antes privilégio das revistas
especializadas, assistir novelas, filmes, antes restritos ao cinema, e a torcer
pelo seu time de futebol, via vídeo tape e ao vivo. Aliás, nas décadas de
1970/1980 era comum jovens torcedores se juntarem na sala da TV vizinho para
assistirem jogos, tomando Cuba-libre, HI-FI e saboreando sacanagem,
que nada mais era do que palitinhos, com rodelas de salsicha, pedaços de queijo
e de azeitona, espetados num repolho ou num melão, dando um visual esférico
atraente.
Na década
de 1960 as concessões de TVs se espalharam por quase todos os estados
brasileiros. A inauguração de Brasília
coincidiu com o surgimento da TV Nacional. A TV Globo surgiu em 1965, concessão
dada por Juscelino Kubitschek, mas só operacionalizada durante o regime
militar. Em 1990, chegou ao Brasil a TV paga, atendendo as exigências dos
intelectuais e dos que cobravam programação diversificada, direcionada ao
público que podia pagar. A qualidade subiu, mas o besteirol permanece, tanto na
TV aberta, quanto na paga, são tantos canais que o mágico escondeu a maioria na
cartola, é a “Tv-que-ninguém-vê”! Perdeu Playboy, o implícito tá no
explicito. É gado demais!
A TV
aberta, apesar das críticas, teve certa importância, na vida artístico-cultural
do país, lembro dos festivais de música popular da TV Record, na década de 1960,
onde praticamente surgiram e se destacaram nomes como Chico Buarque, Vandré,
Edu Lobo, Caetano, Gil, Rita Lee, MPB4, Gal Costa, Elis Regina e tantos outros. Na dramaturgia a memória
registra Jorge Amado, Ariano Suassuna, Janete Clair, Dias Gomes, João Cabral de
Melo Neto e muitos outros.
A TV
aberta vem sofrendo um processo de modificação que começou com o advento da
internet, do celular, das mídias sociais, da smartv e dos inúmeros apps. O
futuro dirá quem será on no novo formato. Pois dir-se-á que ela hoje acena por uma altíssima antena à
cruz que Anchieta plantou (Trecho do hino
da TV - 1950). Oi, sumida! Manda nudes.
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