Quinta-feira, 10 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Crônica

A Magia da TV Aberta


Ilustração: Viriato Moura - Gente de Opinião
Ilustração: Viriato Moura

A TV começou a ser pensada na década de 1920, foi aperfeiçoada na década seguinte, teve a sua patente registrada pelos americanos em 1939, mas o primeiro aparelho era de uma empresa alemã, a Telefunken. Continuou se aperfeiçoando, ganhando novas versões tecnológicas, mas só a partir de 1950 foi apresentada ao Brasil, pelas mãos de Assis Chateaubriand, como “um rádio com imagens”, para ser uma nova opção democrática de diversão, a síntese do rádio, do cinema, do teatro, dos espetáculos burgueses, sem contar que era mais um espaço de ação da imprensa. A vida não imita a arte. Imita um programa ruim de televisão (Leminsky). O poeta tá na Disney, meu parça.

Desde o seu nascimento que a TV sofre críticas, principalmente da classe mais esclarecida, daqueles que viam o aparelhinho como máquina de fazer loucos: era desperdício do tempo, que deveria ser dedicado ao aprimoramento do conhecimento, ao estudo das ciências e das artes como um todo. O Barão de Itararé dizia que a televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

 

TV aberta é mágica por cativar todo tipo de público, do infantil ao jovem, do adulto ao senil, mas desde que passou a ser instrumento da política partidária, palanque de religiosos e formadora tendenciosa de opiniões, passou a dividir suas características entre a magia branca e a negra, detentora dos 72 anjos e demônios, dados pelo sistema, mas usados maleficamente para perpetuação do egocentrismo empresarial e religioso. Xô bicho feio!

 

Dom Raphael vai dar a bronca e vai ser contra o Direito de Nascer. Texto importado e adaptado, de Cuba, bateu todos os recordes de audiência, nos primórdios da TV. Mano, o papai tá on. Gata só brota, porque o pai tá on!

Considerada por muitos a caixa de pandora tecnológica, ao longo dos primeiros anos, seu uso excessivo foi apontado por estudiosos como causa de algumas disfunções e doenças. Hoje esse leque de desvios, segundo as igrejas católica e evangélicas, se estende ao homossexualismo, ao lesbianismo, et cetera e tal, exatamente por ser a TV, via programas e novelas, uma forte influenciadora de costumes, práticas e tendências nem sempre boas. Para Steve Jobs as pessoas ligam a televisão quando querem desligar o cérebro.

 

Tô louco! tô louco! tô louco! Silvio Santos, ao vivo, num programa pra crianças, desafiou uma menina, com cerca de 12 anos, para que lhe fizesse uma pergunta: − Silvio, qual a diferença de um bambu, um poste e uma mulher? Ele pensou um pouco e respondeu: − Não sei. A menina então disse: − O poste dá luz em cima, a mulher dá luz em baixo. E o Silvio, todo sorridente, insistiu:  Ah, ah, ah aiii, e o bambu? A menina concluiu, para felicidade geral da nação: − o bambu você enfia no cu. Este vídeo até hoje reverbera no Youtube.

 

Também num programa do Silvio Santos, a garota Maísa, que o ajudava na apresentação, soltou um pum ao vivo, seguido de um comentário: − todo mundo solta pum, ninguém é tapado; − Ah ah ah aiii, mas que menina inteligente, comentou Silvio. Ele tinha um crush por ela. Que sapão!

 

As gafes se multiplicam e o festival de besteiras só aumenta o repertório, na TV ao vivo: Hebe Camargo, Silvio Santos, Flávio Cavalcante, Raul Gil, Gugu Liberato, Chacrinha e tantos outros, foram protagonistas. Hoje quem dá as cartas, liderando o festival de besteiras que assola a TV, é o Faustão, seguido de perto pelo Ratinho, Siqueira e outros. Fum! Você fede a maconha!

 

No SBT, Hebe bateu recordes de audiência, inclusive o TV Pirata da rede Globo, quando entrevistava a competentíssima Xuxa: − ô que gracinha essa menina. O que você acha da vida, minha filha? − Ilarilarilariê (ô, ô, ô), sou Pelé e me declaro black lives matter. Ele é meu bife.

 

Neila Medeiros, de um jornal do SBT, ao encerrar um noticiário (2014), mandou um beijinho para um suposto telespectador de nome Tômas Turbando. − Tô mentindo Terta? − Verdade, Pantaleão. Zelda Melo já foi chamada por William Waack, durante apresentação de um jornal da Globo, de Zelda Merda.

A TV trouxe para dentro de casa ou pela TV vizinho, oportunidades raras, como conhecer o visual dos artistas do rádio, antes privilégio das revistas especializadas, assistir novelas, filmes, antes restritos ao cinema, e a torcer pelo seu time de futebol, via vídeo tape e ao vivo. Aliás, nas décadas de 1970/1980 era comum jovens torcedores se juntarem na sala da TV vizinho para assistirem jogos, tomando Cuba-libre, HI-FI e saboreando sacanagem, que nada mais era do que palitinhos, com rodelas de salsicha, pedaços de queijo e de azeitona, espetados num repolho ou num melão, dando um visual esférico atraente.  

 

Na década de 1960 as concessões de TVs se espalharam por quase todos os estados brasileiros.  A inauguração de Brasília coincidiu com o surgimento da TV Nacional. A TV Globo surgiu em 1965, concessão dada por Juscelino Kubitschek, mas só operacionalizada durante o regime militar. Em 1990, chegou ao Brasil a TV paga, atendendo as exigências dos intelectuais e dos que cobravam programação diversificada, direcionada ao público que podia pagar. A qualidade subiu, mas o besteirol permanece, tanto na TV aberta, quanto na paga, são tantos canais que o mágico escondeu a maioria na cartola, é a “Tv-que-ninguém-vê”! Perdeu Playboy, o implícito tá no explicito. É gado demais!

 

A TV aberta, apesar das críticas, teve certa importância, na vida artístico-cultural do país, lembro dos festivais de música popular da TV Record, na década de 1960, onde praticamente surgiram e se destacaram nomes como Chico Buarque, Vandré, Edu Lobo, Caetano, Gil, Rita Lee, MPB4, Gal Costa, Elis Regina  e tantos outros. Na dramaturgia a memória registra Jorge Amado, Ariano Suassuna, Janete Clair, Dias Gomes, João Cabral de Melo Neto e muitos outros.

 

A TV aberta vem sofrendo um processo de modificação que começou com o advento da internet, do celular, das mídias sociais, da smartv e dos inúmeros apps. O futuro dirá quem será on no novo formato. Pois dir-se-á que ela hoje acena por uma altíssima antena à cruz que Anchieta plantou (Trecho do hino da TV - 1950). Oi, sumida! Manda nudes.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 10 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Confissões de um ribeirinho

Confissões de um ribeirinho

O rio Madeira está muito cheio hoje. A régua de medição das enchentes está marcando quase 17 metros em Porto Velho. Essa marca é a cota de alagação,

A Estátua da Responsabilidade e o Poder Moderador

A Estátua da Responsabilidade e o Poder Moderador

Nos meus tempos de faculdade presencial, nos idos das décadas de 1960/1970, tínhamos, durante o ano letivo, praticamente 4 meses de férias – para nó

¨1 Anos - Nas trilhas do tempo

¨1 Anos - Nas trilhas do tempo

Hoje completo 61 anos. Não são apenas números, mas marcos de uma jornada que moldou quem sou. Se pudesse resumir essas seis décadas em uma palavra,

Os restos mortais de Eça; pertencem ao estado ou á família?  (Continuação)

Os restos mortais de Eça; pertencem ao estado ou á família? (Continuação)

Também Manuel Tavares Vieira, na: " Tribuna Pacense", de 27/X/2023, ao comentar a trasladação, afirma: " Não se percebe muito bem esta súbita vontad

Gente de Opinião Quinta-feira, 10 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)