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Crônica

A magia do teatro


Ilustração: Viriato Moura - Gente de Opinião
Ilustração: Viriato Moura

O Teatro, como a magia, surgiu com os primeiros passos civilizatórios da humanidade, sendo o teatro fruto da imaginação, na arte da experiência emocional imediata, que não deixa vestígios materiais, mas se renova incessantemente. É a arte das múltiplas personalidades, numa mesma identidade. Quem sou eu? Nem o espelho sabe. Alugo-me para o Dia dos Pais, visito a mamãe e tiro foto para o Instagram. "O teatro não pode desaparecer porque é a única arte em que a humanidade enfrenta a si mesma." (Arthur Miller)

A empresa teatral Milanos & Milanos Ltda convida você e sua família para a estreia do grande espetáculo, O CPF DA SERPENTE, contando no elenco principal com os protagonistas Eva e Adão, além dos coadjuvantes Caim matou Abel e da vilã convidada, direto dos palcos asiáticos, Naja de Brasília. O texto é do inigualável dramaturgo Divino Maravilhoso dos Anjos. Imperdível!!!  

Historicamente, o teatro ocidental não se inspirou na mitologia judaica, ele teve início na Grécia Antiga, por volta do século VI a.C., no contexto dos rituais em louvor ao deus mitológico Dioniso, divindade relacionada à fertilidade, ao vinho e à diversão, também conhecido na mitologia romana por Baco. Durante estas festividades, apareceu um personagem mascarado, chamado Téspis, que se autodenominava Dioniso, e foi o diálogo de Téspis com o “ditirambo” e o “coro” que deu origem ao teatro. Ele passou a ser considerado o criador, o primeiro ator e produtor teatral.

A evolução dessa linguagem artística influenciou o teatro romano e o ocidente, como um todo. Embora nascida, didaticamente, na Grécia, a linguagem teatral teve mesmo a sua origem na Pré-História, usando a imitação como uma das formas de comunicação. Hum hum, mim Tarzan, ocê Jane!

E Zeus ordenou faça-se o teatro, causando a maior bacanal ditirâmbica no Olimpo e na imaginação de Homero. Todos queriam aparecer, inclusive Brad Pitt na pele de Aquiles e o seu frágil tendão. Mas quem roubou a cena foi Helena e suas curvas de Santos, delimitando as fronteiras dos pecados capitais sexuais. Mulherão imaginativo! Grande Homero!

As culturas grega e etrusca influenciaram de forma marcante o teatro romano, no entanto os romanos modificaram a estrutura arquitetônica, valorizando arcos e colunas; os temas passaram a visar mais o entretenimento do que os assuntos mitológicos.

Pão e circo! e as arenas passaram a exibir as lutas de gladiadores e animais: - Máximus Décimus Meridius! Maximus, Maximus! Coitado do gladiador Russel Crowe, seguiu o mesmo caminho dramático de Spartacus e Demétrius, para tristeza do povão, que sempre torce para o mais fraco.

Além dos artistas a peça precisa da intervenção de cenógrafos, figurinistas, maquiadores, etc. para que o palco e os personagens possam transportar o público, ao lugar e à época em que se passam os fatos teatralizados, tanto em esquetes quanto em textos mais longos. Atualmente, com a preferência por manifestações em ambientes fechados, o público foi elitizado.

Vale lembrar que a Igreja Católica baniu da Europa, durante a Idade Média, a linguagem teatral, considerando que o teatro era uma atividade pecaminosa. Tudo que era bonito e gostoso foi proibido ao povão, contudo... Nunca a luta entre o bem e o mal, os confrontos entre Jesus e o Diabo foram tão dramatizados. Ainda bem que O Auto da Compadecida, do Ariano Suassuna, escapou da Inquisição.  

No Brasil, durante a colonização, foi introduzido o teatro de catequese, pelos jesuítas. O maior seguidor dessa prática dramática foi o deputado federal Juruna, que se apresentava, dialogando publicamente com um gravador, tipo fita cassete. A comédia, As Gravações do Juruna, fez o maior sucesso no palco da Câmara. Evoé, Ivanhoé, Pajé!!!

A magia do teatro se dá com o encontro do ator com o outro, com o espectador, em palcos variados, espalhados pela história, ao longo do tempo e do espaço. É o pacto cúmplice, na execução da arte dramática, que culmina com o riso, o choro, a vaia ou o aplauso. Alguém já disse que o teatro é vida pulsante, como se a arte imitasse a vida, no ato da elaboração de inúmeros roteiros existenciais. A manifestação teatral, ao longo da história, evoluiu muito. As formas de atuação e o objetivo dos espetáculos possuem várias vertentes

          A lembrança da minha primeira experiência no teatro vai bem longe, mas permanece viva na memória. Fui convidado, mais pela amizade do que pelo talento, a fazer parte do elenco da peça Morte e Vida Severina que iria representar a Bahia num festival de teatro, no Rio de Janeiro, no limiar de 1970. Superexcitado com a oportunidade de conhecer o Rio de Janeiro, fui premiado com uma única fala, para compor uma cena do percurso de Severino pelos sertões de Pernambuco, tentando chegar ao litoral, em busca de vida melhor. Não foi meu primeiro contato com o dramaturgo João Cabral de Melo Neto, mas foi o início de um longo estudo pessoal sobre o poeta pernambucano. A Bahia ficou em 3º lugar, mas a ocasião tatuou em minha memória a magia do teatro e o efeito emocional dos aplausos na vida do ator/atriz.

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

Dos grandes espetáculos da Broadway ao simples teatrinho de escola, evidencia-se a importância do dramaturgo, a função que ele exerce ao converter as experiências de vida em textos expressáveis. “Uma sociedade que não tem um número suficiente de poetas, romancistas e dramaturgos não é capaz de verbalizar a sua experiência verdadeira, criando um abismo entre a experiência vivida e a fala” (Olavo de Carvalho). Afora a centralização do texto, há que se observar, na encenação, as variáveis tangíveis, formadas pelos recursos técnicos, oriundos da interpretação e da recepção do espetáculo. “Cada leitura é uma representação virtual, desse que é o mais cosmopolita dos fenômenos artísticos, o multiforme e imortal teatro”.

 

Ser ou não ser, eis a questão

 

Não importa onde ou quem é o dramaturgo: teatro de arena, de palco, praça, adaptado, texto modernista, realista, renascentista ou contemporâneo, na ação da atividade teatral, o elenco e o público renovarão constantemente as suas emoções, estabelecendo uma intervenção artística pertinente, muito acima do cotidiano ordinário.

        

“A minha consciência tem milhares de vozes, / E cada voz traz-me milhares de histórias, / E de cada história sou o vilão condenado”.

“Nada em si é bom ou mau; tudo depende daquilo que pensamos”.

“O resto é silêncio”. (William Shakespeare)

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