Domingo, 23 de abril de 2023 - 12h13
Quem
não se recorda, com saudade, da velha casa onde nasceu e se criou?
Casa
velhinha, em que cada canto e recanto, se revive amorosos retalhos dos tempos
que já não são.
Nasci
numa velhíssima casa de alforge, de três alargados pisos, com mais de duzentos
anos!
Havia,
no rés-do-chão, alçapão, que dava acesso a lôbrega e sinistra cave, infestada
de aracnídeos, que era o terror da acriançada, mormente do benjamim.
Recordo
– como e recordo! Deus meu! - da ampla e soturna sala de jantar, de paredes
forradas a papel encarnado, recobertas de - baixos-relevos, aguarelas, pratos
de faiança, e quadros de gravuras antigas. Em duas sóbrias colunas de nobre
madeira, repousavam delicadas estatuetas em gesso patinado. Nas portas cobertas
a esmalte branco, pendiam, das sanefas, pesados reposteiros.
Tomávamos
nela as refeições, mas apenas em dia festivo ou quando havia visitas de
cerimónia; ordinariamente tínhamos outra salinha, mais acolhedora, para o
trivial.
Lembro-me
– como me lembro! - o espaçoso armário de portadas verdes, embutido, quase
dissimulado, no vão da escada. Nas sólidas prateleiras, dormiam inúteis
velharias, entre elas: balança de dois pratos, maciços globos coloridos de
vidro, palmatória de latão, pautas de música da avó Sofia, garrafas de vinho do
Porto, e antigos jornais, relatando notáveis acontecimentos do passado.
Nesse
antiquíssimo casarão, decorreu a minha nem sempre feliz adolescência,
cadenciada pelo embalador e dormente tiquetaque do antigo relógio de pêndula,
que pertencera a minha bisavó Júlia.
Nessas
rijas paredes de estuque e granito, decorreram aventuras e desventuras, e
senti, com mágoa, paulatinamente, escorrer como areia fina entre dedos, sonhos
idealizados, que não pude ou não soube concretizar. Em " Portugal
Pequenino" Raul Brandão invoca o encanto das vetustas casas que passavam
de geração a geração:
"
Que linda casa quando vem dos pais que a herdaram dos avós! Cada prego foi
pregado para a eternidade. Mais tarde até na velhice e ainda que corras mundo,
todos os teus sonhos se passam sempre entre aquelas paredes, e empurras as
portas perras dando-lhes o jeito que lhes davas em pequeno para as
abrires..."
Camartelos,
pás e picaretas, desventraram, sem dó, a velhíssima casa da minha infância.
Ficou-lhe o imponente esqueleto, mirando altivamente as águas açodadas do
Douro, e o casaria acastelado da cidade da Virgem.
É
a triste sorte, neste tempo prosaico, das vetustas residências do século XIX.
O
encanto que recorda Raul Brandão, já não pode sentir a geração do século XXI,
porque foram desfiguradas, demudadas em esquerdo – direito.
Jamais
terão os jovens o prazer, o fascínio, de viverem nessas velhas casas de
outrora; algumas tinham jardinzinhos aconchegantes, caramanchões coroados pelos
robustos braços de contorcida glicínia, que desabrochava ao raiar da primavera,
toucadas de formosos e olorosos cachos arroxeados,
Nessas
vetustas casas, que eram dos avós ecoavam pelos taciturnos corredores, antigas
vozes dos entes queridos, que já partiram. Em cada quarto, em cada saleta,
sentia-se reviver, a cada passo,os ancestrais falecidos – bisavós, avós e pais.
Eram
casas que tinham alma, que recordavam quem éramos e de onde viemos.
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