Quinta-feira, 11 de janeiro de 2024 - 15h03
Compareceu
no Conservatório de Lisboa, frágil e deprimida rapariguinha, que vinha prestar
prova da admissão.
Diante
do ilustre júri, a garotinha, enfiada, permanecia constrangida, contrafeita,
estática e de olhos assustadiços.
Nervosamente
balanceava as vestes, como as quisesse compô-las, numa tremenda ansiedade.
Condoído
pelo inopinado acanhamento, o júri, sussurra-lhe, em voz amiga:
-
" Diga, por favor, um poema..."
Enrubesce
de pejo, a menina, e erguendo a custo os embaciados olhos:
-"
Não me recordo de nenhum..."
Compassivos,
insistem, amaciando ainda mais a voz:
-
" Pequeno texto, que goste. Qualquer coisa que conheça de cor:
-"
Não me lembro de nada..."
Proferiu
em voz apertada, temendo e tremendo, mormente os irrequietos bracitos.
Estupefactos
perante o inesperado acanhamento, o júri já pensava vedar-lhe o ingresso,
quando...
Mirando
pensativo a rua, de olhar vago, olhando através da vidraça da janela, o
dramaturgo Dom João da Camara – membro do júri, – presenciava, apreensivo, e em
silencio a cena deplorável.
Acerca-se
da retraída menina, e movido de comovida compaixão, enternecido, sugere:
-
"Menina: diga a Avé – Maria..."
Empertiga-se
a jovem, perfilha-se, enrija o peito, e em tom forte e sonoro inicia a
invocação.
Foi
a mais comovedora e terna invocarão à Mãe do Céu, que jamais se ouvira.
O
escritor, poeta e dramaturgo, descendente do conhecido navegador João Gonçalves
Zarco, num gesto de singular bondade, conseguiu que a inesquecível atriz Maria
Matos, pudesse matricular-se no Conservatório.
Não
devo terminar a crónica, sem contar a mais sublime faceta da atriz – a
gratidão:
Em
missiva, (*) datada a 28/06/1910, depositada na posta de Castelo Branco,
endereçada a sua mãe, a Senhora Dona Emília da Camara Almeida Garrett, amiga de
Maria Matos, escreveu:
(...)
A atriz está aqui em "tournée" e parece-me muito atilada (baseava-se
na conversa que teve, em sua casa, com Maria Matos,) e confessou-me, que sempre
possível passa pelo cemitério, onde repousa Dom João da Camara e, junto do
tumulo, reza e pede-lhe conselhos.( Cito
de cor.)
Maria
Matos era de sensibilidade delicada e nunca olvidou quem lhe facilitara a
fulgurante carreira artística.
*)
Carta que minha querida amiga Dona Maria Eugénia da Camara Rebello de Andrade,
neta do escritor, teve a gentileza de ma ler.
O rio Madeira está muito cheio hoje. A régua de medição das enchentes está marcando quase 17 metros em Porto Velho. Essa marca é a cota de alagação,
A Estátua da Responsabilidade e o Poder Moderador
Nos meus tempos de faculdade presencial, nos idos das décadas de 1960/1970, tínhamos, durante o ano letivo, praticamente 4 meses de férias – para nó
¨1 Anos - Nas trilhas do tempo
Hoje completo 61 anos. Não são apenas números, mas marcos de uma jornada que moldou quem sou. Se pudesse resumir essas seis décadas em uma palavra,
Os restos mortais de Eça; pertencem ao estado ou á família? (Continuação)
Também Manuel Tavares Vieira, na: " Tribuna Pacense", de 27/X/2023, ao comentar a trasladação, afirma: " Não se percebe muito bem esta súbita vontad