Domingo, 18 de junho de 2023 - 08h05
Não
é a primeira vez que me refiro à figura de D. Pedro V, Rei cultíssimo e de
elevada sensibilidade.
Mas
só depois de se ter descoberto, na livraria do Paço Ducal de Vila Viçosa, o
famoso " Livro Negro", que se pensava ter sido destruído pelo
seu irmão, o Rei D. Luís I, é que se conheceu, verdadeiramente, o carácter
desse jovem Rei, semelhante a D. Pedro II, Imperador do Brasil, ambos amigos e
admiradores de Alexandre Herculano.
Durante os curtos anos que
dirigiu a Nação, inaugurou-se os primeiros quilómetros da linha-férrea do Norte
– 1856 (Lisboa - Porto); fundou-se o Curso Superior de Letras (1859);
lançaram-se as primeiras linhas telegráficas (1855); e deu-se início ao primeiro
cabo submarino, entre Lisboa, Açores e Estados Unidos.
Mas, a meu ver, o que é
merecedor e de se exaltar, foi o cuidado de se manter sempre atualizado, e
principalmente, o esforço que realizou em defesa da liberdade, que para ele,
era:
"O sentimento mais nobre do homem."
(Escritos de el-rei D.
Pedro V, vol 2º. pág.170)
A 24 de março de 1856, D.
Pedro V escreveu no seu diário:
"...Não
sou tão tolo que goste de meu ofício, mas hei de trabalhar por ele com zelo e
com perseverança, e fazer bem e florescer um pouco a moralidade."
(Lembranças,
fól.141 v)
Os escrúpulos extremados, e o
amor à verdade, levaram-no a tomar atitude inédita na política.
Diz
Oliveira Martins, que: " Tinha em tanta conta os que o rodeavam, cria
tanto neles, que mandou pôr à porta do seu palácio, uma caixa verde, cuja chave
guardava, para que o seu povo pudesse falar-lhe com franqueza, queixasse e
acusar os crimes dos governantes."
Dizem
que foi obrigado a retirá-la, porque o povo ou os políticos (?) lançavam em
lugar de pedidos e queixas, insultos e palavras incongruentes.
É
bem verdade – quando se pretende dar voz a quem a não tem, os
"democratas" não gostam...
Aos
dez anos D. Pedro V teve como mestre D. Maria Carolina Mishisch,, seguiu-se
Martins Basto. Aprende latim e com seis meses de estudo, traduz: Eutrópio e
Fedro; aos doze, consegue verter para língua pátria, textos de: Virgílio, Tito
Lívio e Cícero.
Aprende,
também música, pintura, filosofia e línguas vivas. Era admirador de Alexandre
Herculano, que foi seu preceptor.
" O Papá deu-me conta duma interessante
conversa que tivera com A.
Herculano."
(10 de outubro de
1856 -Volume VI, fól. 65)
Aos
dezassete anos (1854) viaja para Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França, e no
ano seguinte, Itália e Suíça.
Não
viaja para se divertir, mas para aprender e contactar políticos e homens da
cultura.
Lê
imenso: livros e revistas generalistas, mas mormente, de economia, para se
manter sempre atual.
Era
de sensibilidade delicada. Quando o pai (Papá - como escreveu no diário)
adoecia, ficava grande parte do dia junto do leito, lendo-lhe artigos
publicados nos jornais:
" Estive no quarto do Papá, que está doente. Estive
conversando com ele, e lendo-lhe artigos da Revue des Deux Mondes."
(Diário de D. Pedro V. - 28 de novembro de
1855)
Durante
a epidemia de Cólera (1855-56) que se espalhou em Lisboa, seguido da Febre-amarela
(esta iniciou-se no Porto,) parte da população da cidade foge para a província.
D. Pedro V não só não recusa abandonar a Capital, como visita hospitais, entra
nas enfermarias, e conversa, afetuosamente, com doentes.
Fiz
Damião Peres: " Quando deixavam Lisboa, aos cardumes, todos
quantos fazê-lo podiam, o Rei não desertou, como é sabido. Podia, porém, e já
não era pouco, limitar-se a permanecer na capital, dando exemplo de indefetível
civismo; mas não, pois inúmeras vezes afrontando corajosamente os riscos de
contágio, visitou os hospitais, detendo-se à cabeceira dos doentes e
levando-lhes com o consolo da sua presença, o doce alívio duma animadora
palavra."
Sabendo
que muitas crianças ficavam órfãs, auxilia-as, correndo as despesas do seu
próprio bolso.
Alves
Mendes,
em: "Orações e Discursos", na "Oração Fúnebre". Proferido
nas exéquias do Rei D. Pedro V, a 11 de dezembro de 1861. Mandada celebrar pela
Câmara Municipal da Figueira da Foz", afirma a determinado passo:
“(...)
E em balde alguém o aconselha para que mudasse de sistema. Não! Dizia ele a
seus ministros: diante da crise que dizima meus povos, não será meu coração que
descansa, nem meu braço que deixe de trabalhar!..."
A
29 de Setembro de 1861, o rei desloca-se a Vila Viçosa, com os infantes D.
Fernando e D. Augusto. Após curtíssima estadia percorre várias localidades,
sendo recebido acaloradamente pelo povo.
Chega
a Lisboa, senta-se mal, vindo a falecer decorridos dias (11 de novembro de
1861, pelas 19H00).
Existe
no Porto, na Praça da Batalha, estátua de bronze, com três metros de altura, e
peso de noventa arrobas. O monumento tem a legenda, em bronze: " Os
artistas portuenses por gratidão a D. Pedro V, em 1862.
Foi
oferecido á Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio de Janeiro, réplica do
monumento, em prata, com o peso de nove quilos.
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