Terça-feira, 24 de novembro de 2020 - 14h40
O racismo é um dos principais problemas sociais enfrentados
nos séculos XX e XXI, causando, diretamente, exclusão, desigualdade social e
violência, mas não é uma novidade do novo mundo, guardadas as devidas
proporções de tempo, espaço e entendimento, existe desde a antiguidade, quando
povos gregos e latinos classificavam os estrangeiros como bárbaros. Você
tem cara de ostrogodo, mas é branco e será assimilado pela cultura greco-romana.
A novidade doentia foi o segregacionismo americano e o
apartheid da África do Sul. No Brasil,
com um histórico de 300 anos de escravidão, ainda sofremos as consequências da
política governamental de abandono dos negros, pós Lei Áurea, uma espécie de racismo
cristão perverso, fundado na esmola, que, além de segrega-los socialmente, os
privava da prática de sua religião. Sou lixeiro, sou servente, sou
pedinte, sou viciado, sou favelado, sou o alvo das mazelas da sociedade, estou
nos presídios, sou marginal, mas queria ser melhor, queria competir. Oxóssi
dará!!!… Oxóssi dará!!!...
Após a
escravidão, os brancos criaram barreiras, armadilhas e injustiças, reconhecidas
como atitudes racistas. Muitos conseguiram, com o passar do tempo, se libertar
do preconceito, mas por mais de um século, e ainda hoje, reverbera, no
inconsciente coletivo da sociedade brasileira, um pensamento preconceituoso, que
marginaliza as pessoas negras e trava o alcance à cidadania plena. Moisés
e Zumbi são símbolos da libertação dos escravos.
Não sei até que ponto o
racismo estrutural, a miscigenação, a naturalização de ações, hábitos, situações,
falas e pensamentos cotidianos do povo brasileiro, foram indiretamente
responsáveis pelo embranquecimento da pele, ocasionando um fenômeno
comportamental só visto no Brasil: Nos EUA e na África do Sul só existem duas
cores – preto e branco – , aqui, além dessas, existe
o pardo, o moreno, o mulato, o caboclo e o ignorante, dando origem a um racismo
velado. Os pardos, Obama e Harris, chegaram à Instância máxima do poder se
autoconhecendo como negros, o mesmo pode se dizer de Mandela na África do Sul. No
Brasil, o presidente se faz acompanhar de um serviçal negro para negar o
racismo. Onde estão os almirantes, os generais e os brigadeiros negros?
O processo voluntário de
embranquecimento, assumido a partir do cruzamento entre pessoas de cores
diferentes, fez com que o negro reconheça, indiretamente, sem perceber, a
supremacia da raça branca, ou seja, ele não é mais negro, ascendeu a uma classe
superior: é pardo, é um moreno de traços finos, como se o ser bonito estivesse relacionado a não
ter traços negros, mas sim àqueles próximos ao que era pautado pelo padrão de
beleza europeu. O amor entre seres humanos não tem cor nem
fronteiras! Miscigenem-se! mas se auto reconheçam.
Sem se dar conta, o pardo criou
uma nova tipologia morfológica, passível de continuar sofrendo, com o
velho e dolorido racismo velado, pois nem sempre o negro de traços europeus
escapa do veredicto doentio de parte da sociedade branca, nem da geração de frases
absurdas, advindas da camuflagem racista: quase branco, mulata tipo exportação,
da cor do pecado, preto de alma branca, com o objetivo de amenizar o que somos, de certa forma, anulando valores
negros. A justificativa para negar a negritude, passa pela visão do branco e
pela não aceitação de si mesmo, muitos preferem a ilusão dos sentidos à
realidade do sangue. Minha alma é tão negra quanto os orixás do continente
africano.
Não só a miscigenação, mas o
dólar empresarial, o sucesso nos esportes e no jornalismo são também responsáveis
pelo embranquecimento da pele negra, no entanto, são poucos os que se assumem
como pretos e defendem os valores da negritude, tal qual Lewis Hamilton. Nem
com todo o sucesso de sete títulos mundiais, ele foi condecorado pela realeza
Britânica, como foi Nigel Mansell. A rainha Elizabeth II não o condecorou, mas
nós, o povo multicor, o condecoramos: SIR Hamilton. Os racistas dizem: Ele
é negro, mas é gente boa!
O racismo estrutural,
institucional e individual, além dos sérios problemas morais, proporcionou/a
uma brutal diferença social, prejudicando, diuturnamente, a ascensão social dos
pretos e seus descendentes. Respeito é bom e eu gosto, bandido é uma porra,
sou negro, sou poeta, sou estudante, sou escritor, sou ator, sou doutor, sou
trabalhador, e você, quem é? Por que insiste em me privar a acessibilidade à
cidadania plena?
O Dia da Consciência Negra
surgiu pela lei 12.519 de 10/11/2019, como um convite à reflexão, num país que
sequer tem uma agenda para resolver questões sociais. Que sociedade evoluída
tem seis milhões de empregadas domésticas, oriundas do rol de milhões de
analfabetos negros espalhados pelo país??? Dos 5.561 municípios brasileiros,
apenas 1.047 reconhecem o dia 20 de novembro como feriado. Porto Velho deve a
sua existência, em grande parte, aos negros antilhanos, mas não reconhece o
feriado da data, em homenagem ao dia da morte de Zumbi. Aqui e alhures,
negro continua sendo um palavrão, usado para humilhar, jamais para elogiar. Salve,
salve a cultura negra.
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