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Gente de Opinião

Crônica

Despedida a um poeta


O mundo das palavras estruturadas, comovidas, rimadas no contexto da arte da existência, ficou mais pobre, perdemos um poeta: o professor Gesson Álvares de Magalhães, membro efetivo da Acler, Academia de Letras de Rondônia, partiu para o Olimpo, não sem antes deixar imortalizados, no Panteão da Vida, seus versos, suas obras, seus exemplos de integridade e competência.

Quando um poeta se vai é como se perdêssemos uma fonte simbólica de sangue, matéria prima da caneta sentimental por onde Gesson se expressava:

Embora esteja aqui há poucos dias,
Eu te amo, Rondônia, ardentemente,
Amo teu céu, teu ar e tua gente,
Amor maior, de outro não terias.

O poeta se despede do público, como se estivesse pedindo uma releitura do discernimento de seu cérebro, sobre a arte de poetar a vida, sublime forma de atapetar a caminhada dos viventes comuns:

Andando a passos trôpegos, moroso,
Cambaleando até, olhar sem brilho,
Figura venerável de um idoso
Cansado de seguir o longo trilho.

Foi menino, foi jovem vigoroso,
As forças consumiu, sem empecilho,
E agora espera receber, ditoso,
O amor e o carinho de seu filho.

Quando, porém os louros da vitória
Deseja desfrutar entre crianças
Que agora poderiam diverti-lo,

Nem mesmo vai contar-lhes uma história,
Pois anda triste, só, sem esperanças,
Nos frios corredores de um asilo.

 

Gesson Álvares de Magalhães nasceu em Santana dos Brejos, no sertão da Bahia, no dia 12 de outubro de 1934. Concluiu o curso de Letras em Jandaia do Sul, no Paraná, mas escolheu Rondônia para viver e completar seus escritos, em 1980. Sua obra iniciada em vários estados e há várias décadas, ganhou em Rondônia uma nova dimensão e novos horizontes. Aqui, ao lado da esposa, dos filhos, netos e de sua dedicação à Igreja Adventista, deu vazão a sua dupla veia artística, somou aos versos a música, ao criar o coral infantil, Pequenos Uirapurus:

Despedida a um poeta - Gente de Opinião

Se Amizael cantou-te como infante,
Se o Bolívar cantou teu tempo antigo,
Se Cândido cantou-te como amante,
Deixa que eu fale apenas como amigo.

És, Porto Velho, muito diferente
Daqueles dias que já vão distantes,
Quando morava aqui bem pouca gente
E não tinhas em ti, tantos migrantes.  (…)

E eu, que também por ti fui adotado,
Possa ver-te crescer com galhardia,
E meus filhos e netos, sem cuidado,
Vivam em ti, na paz e na harmonia.

Ao me despedir do poeta, empresto algumas palavras sensíveis, gostaria meu velho mestre, conterrâneo e dileto amigo, que você estivesse fingindo, e a gente pudesse se encontrar logo mais, infelizmente a vida é dada a esses desencontros. Não o verei em pessoa, mas personalizarei a saudade, com teus encantadores versos sentidos:

Ontem e Hoje

Eras a virgem mais bonita e pura

Que havia no colégio; Eras tão linda,

Que ao ver-te a vez primeira, fiz a jura

De dedicar-te uma afeição infinda.

 

Amaste-me também, e a estrutura

Do amor que ali nasceu perdura ainda.

Depois de trinta anos de ventura,

Tua beleza me é sempre bem-vinda.

 

Hoje, nossos cabelos estão brancos,

Já sofremos da vida os duros trancos,

Já temos filhos, netos e uma neta.

 

Não és mais a mocinha bela e doce,

Mas para mim, é tal qual se ainda fosse

Aquela Musa que me fez poeta.

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