Sábado, 2 de dezembro de 2023 - 09h22
Anda
a cidade de Baião em alvoroço, porque parte da população encontra-se indignada.,
pelo facto de quererem levar, para Lisboa, os restos mortais de Eça de Queiroz.
Criou-se
até movimento para defender a causa. O porta-voz, o ex -autarca António
Fonseca, considera a saída do escritor do cemitério de Stª Cruz do Douro – que
fica junto à serra que Eça imortalizou, – prejudica o Concelho, além de ser
afronta à Fundação Eça de Queiroz, que o trouxe de Lisboa, do cemitério de S.
José, em 1989.
Parte
dos descendentes de Eça estão, também, contra a transladação.
Entre
eles, António Eça de Queiroz, que em 07/07/21, escreveu in: " O Comércio
de Baião": é " Uma farsa política negociada entre
"amigos", pois o ridículo " processo" (...) é além duma
parolada de pretensiosos, um insulto à memória das pessoas que há mais de três
décadas tudo fizeram para que Eça descansasse em paz junto de sua filha mais
velha, no Cemitério de Santa Cruz do Douro. Com o acordo das netas, ainda
vivas".
Após
a morte de Eça, em 1900, na casa de Neuilly, sua mulher regressou a Portugal,
indo viver para Penamacor, com uma irmã.
Consultou
o pai de Eça para que lhe indicasse onde desejava que o filho fosse sepultado.
Respondeu-lhe: Aveiro; mas a viúva resolvesse como achasse melhor. Esta,
decidiu colocá-lo no jazigo da família, em Lisboa.
O
desinteresse dos progenitores do escritor é notório ao longo da vida de Eça.
Não estiveram presentes no: batismo, no casamento, nem no funeral!
Desinteresse
inexplicável. O pai era juiz, a mãe pertencia a respeitável família de Viana do
Castelo, filha do Tenente-Coronel José António Pereira de Eça.
Campo
Matos, diz no: “Suplemento do Dicionário de Eça de Queiroz”que uma: “ Testemunha
de um familiar que conviveu de perto com ela, (a mãe)
obtido em 1974 por Severino Costa:
“Ela
ficou furiosa de ter caído nessa falta e tomou uma raiva ao namorado que não
quis casar (…) A Mãe à hora da morte obrigou-a a fazer a promessa de casar”
Eça,
como se sabe, nasceu na Povoa do Varzim, a 25 de novembro de 1845, em casa da irmã
mais velha da mãe. Confirmado por Ramalho Ortigão, o pai., e a própria mãe.
Porém,
Manuela de Azevedo, em: " À Sombra de Eça e Camilo" narra que nasceu
em Vila do Conde no solar da família Pizarro Monteiro, em segredo, mas nunca
foi confirmado.
Após
o nascimento foi entregue aos cuidados de uma ama, seguindo, decorrido tempo (5
anos?) para Verdemilho – Aveiro, para ser criado pelos avós paternos;
permanecendo ai, até completar dez anos.
Matricularam-no,
em seguida, como interno, no Colégio da Lapa, que pertencia ao pai de Ramalho,
indo depois para a Universidade de Coimbra.
Apesar
dos pais casarem quatro anos depois do nascimento de Eça, e já terem mais três
filhos legítimos (Eça teve 6 irmãos,) nunca reconheceram oficialmente, o
primogénito. Todavia Campos Matos, menciona em: “Imagens do Portugal
Queirosiano” – que recém-formado, Eça residiu em casa dos pais, que ficava no
quarto andar, nº 26 do Rossio (Lisboa,) e se hospedava lá quando vinha à
Capital.
Só
quando o escritor necessitava dos documentos para realizar o casamento, é que,
a pedido do Eça – para a noiva não saber que era filho de mãe incógnita, – o
reconheceram oficialmente, mas não quiseram estar presentes na cerimónia,
realizada em fevereiro de 1886, na Capela da Quinta de Santo Ovidio,
propriedade da mãe da noiva.
Atitude
estranhíssima. Eça era diplomata, figura conhecidíssima no meio literário
português, e ia casar com a filha da Condessa de Resende, família abastada, da
mais alta nobreza.
Estranho
é, também, que após 124 anos da sua morte, o queiram levar para Lisboa.
O
que, certamente Eça desejaria, é que o País, em vez de lhe darem a honra de
Panteão, não tivessem perseguido politicamente a família, chegando a ameaçar a
viúva de lhe cortarem a pensão, a que tinha direito, se ela e os filhos, não
apoiassem a República! Atitude que os obrigou a expatriarem-se para Londres,
segunda me contou Dona Emília, neta do escritor, durante a conversa que tive em
sua casa.
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