Sexta-feira, 15 de abril de 2022 - 14h05
A janela da esperança é a
primeira que se abre, entremeada aos sonhos e a fé, protagonista dos desejos,
se apresenta com muitas faces, pode ser uma bruxa ou uma fada, a janela da
esperança se fecha quando menos esperamos e mesmo fechada ainda tenta nos
enganar, abrindo uma fresta em outra dimensão.
A
materialidade da esperança viaja fora do tempo, mais afeita a intemporalidade,
permeia universos paralelos, mexendo com os sentidos e as emoções, de tal forma
que o objeto da espera vira um espectro consciencial de difícil alcance, embora
exista entre o desejo e a meta uma atração vibracional, dita espiritual.
O processo de espera, às vezes, é tão absurdo, dolorido e
incerto que filósofos como Schopenhauer e Nietsche classificam a esperança como
uma maldade ao ser humano, algo que escapou da Caixa de Pandora. A pergunta que
nunca se calou, durante todos esses séculos, nos remete à janela da reflexão
filosófica: se a esperança é um bem, o
que estava fazendo na Caixa de Pandora?
Paulo
Freire, na contramão dos filósofos e na expectativa de melhorar o conceito,
interferiu na etimologia – esperança de
esperançar – querendo assim driblar os efeitos nocivos da espera, na
expectativa de futuro do ser humano.
Ainda que a esperança
de esperançar implique em se levantar, em correr atrás, construir novas
alternativas, juntar-se com outros em busca de novas formas de fazer, a palavra
não passa de uma janela fechada, formatada inescrupulosamente no púlpito das
igrejas ou nos livros de autoajuda, enriquecendo meia dúzia de espertos
visionários, verdadeiros porteiros da dita esperança. Neste novo contexto é
muito fácil dizer “não espere que as coisas aconteçam, corra atrás”, “quem sabe
faz a hora não espera acontecer”.
A vida
nos ensina, diuturnamente, que janelas não se abrem se não forçarmos o
ferrolho. Mesmo abertas não nos garantem a vista! A certeza da vista depende de
instrução, de boas escolhas, comungadas a esforço próprio, boa genética, um
pouco de sorte, paciência, persistência e renovação interior em momentos de
muita dor, que não são poucos. Depois de aberta, se uma boa vista se
descortina, confira tudo meticulosamente, recue alguns passos e corra o
suficiente para pular o batente da janela que lhe enquadra a vista, assuma sua
nova vida, após uma vistoria de 360º.
Não
moldamos o mundo conforme nossos desejos, a forma de agir depende muito da
cultura do local onde nascemos. As crenças e a filosofia de vida interferem, e
muito, nas faces da esperança. Isto não significa desistir de correr atrás,
conformar-se com o mundo, mas racionalizar a esperança. Na visão de um oriental
a fé em si mesmo é melhor do que a fé cega no sobrenatural.
Melhor não esperar
nem esperançar o que se promete pelo viés dos livros de autoajuda e de
religião.
A
esperança nunca deveria ter sido libertada da Caixa de Pandora, principalmente
em países pobres, religiosos, terceiro mundistas e corruptos, mas já que a
soltaram, melhor aprender a lidar com ela.
Quando
a esperança tarda e a ideologia rivaliza com a religião, instala-se na mente a
janela fechada da depressão, localizada na rua do desespero, à beira de um
precipício. Infelizmente tem gente que apressa a esperança, saltando a janela
sem visualizar o abismo, esperando encontrar belas vistas, além da janela da
vida. A sensatez evolutiva da ciência diz que encontrarão o nada.
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