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Crônica

Nem à esquerda, nem à direita


Nem à esquerda, nem à direita - Gente de Opinião

O retorno de Lula ao Planalto e a sua movimentação entre os 33 partidos políticos brasileiros, para garantir a governança do presidencialismo num país de Constituição parlamentarista, aumentou, consideravelmente, os custos da democracia brasileira. Todos querem uma teta…  Infelizmente, aqui, os pseudos sociais democratas do PT e demais partidos, se agigantam no quesito gastos públicos e se afastam das modernas social-democracias do resto do planeta, que possuem concepção de centro-esquerda, no âmbito das democracias representativas, mas com uma perspectiva de Estado voltada para a redução das iniquidades sociais, sem abolir o capitalismo.

No embate entre liberdade e igualdade, o gigantismo estatal já está ultrapassado. Grandes empresas estatais rimam com corrupção. Hoje, quanto menor o estado democrático, maior o progressismo. No Brasil, resta a privatização como forma de diminuir o Estado, o contrário é mero devaneio, é chover no molhado, um estúpido retrocesso. Imaginem se fosse possível diminuir em 30% os custos com o Congresso, com o Judiciário e com os Ministérios, quanto sobraria para ser aplicado no bem estar do cidadão…???

O assunto é extenso, porém, para compreender melhor, recomendamos o estudo dos movimentos que surgiram pós debacle econômica do EUA, em 1929; as teorias econômicas de John Maynard Keynes e os planos de ajuda americana aos países europeus, pós 2ª Guerra Mundial, lembrando que a Europa se dividiu, porque a Rússia, alimentando o sonho de dominar o mundo, não aceitou ajuda americana (Plano Marshal), para reerguer o Leste Europeu, daí o plano Marshal se transformou na Europa Ocidental, em Doutrina Truman, com orientação social democrata. A diferença entre as duas Europas mostra quem tinha razão.

O desastre da administração russa culminou com a queda do muro de Berlim, encerrando o ciclo aberto pela Revolução Russa, que continha o sonho de substituição do capitalismo pelo socialismo, em todo o planeta. No Ocidente, ao longo da Guerra Fria, as lutas sociais jamais cessaram, mas a revolução proletária nunca ocorreu.

A Social-democracia, enquanto modelo econômico e político, concluiu sua ruptura com os comunistas, voltando-se para um programa de reforma do capitalismo. Uma reação liberal, ignorada no Brasil, organizada sob o estandarte do “Estado mínimo”, difundiu-se pela Europa e conseguiu, no século XX, estrondoso sucesso, principalmente nos países nórdicos, diminuindo as desigualdades sociais, sem aderir ao socialismo cientifico, mas se aproximando de um Estado de bem estar social democrático, com incorporações de elementos tanto do socialismo quanto do capitalismo, dentro de uma perspectiva política e econômica, visando promover o progresso social.

A Social-democracia implantada nos países nórdicos da Europa, que defende as liberdades civis, os direitos de propriedade e a democracia representativa, com eleições regulares e competitividade entre partidos políticos, também é bem vinda por aqui, desde que o país adquira os requisitos necessários a sua aplicação – analfabetismo zero e educação coletiva de qualidade – para não cair na armadilha dos argumentos falsos, das promessas de palanque, do populismo, nem permitir que o custo da máquina do estado chegue, amanhã, a níveis absurdos e irreversíveis.

Os poderes republicanos brasileiros foram inchando ao longo do tempo, hoje custam mais caro do que a maioria dos países democráticos, ao longo do Universo. Além dos altos salários, o governo, para governar, precisa aceitar a corrupção, em todos as áreas. Não é fácil sustentar e alimentar a ganância ideológica “corruptória” de 33 partidos políticos.

O máximo que conseguimos dentro da ótica social, a partir do século XX, foi a implantação de algumas garantias trabalhistas e assistencialistas de péssima qualidade, como o salário mínimo, o INSS, o Bolsa Família e o SUS, um mero remendo, uma enganação. É claro que o aprimoramento dessa ampla gama de serviços e tarefas do Estado necessita de recursos, que serão obtidos por meio de uma carga tributária mais alta: para usufruir, tem que pagar!

A reforma tributária, prometida há muitos anos, está paralisada no Congresso, exatamente porque promove um acachapante aumento de impostos. Em países latinos, tradicionalmente corruptos, os ministros da Economia não precisam de conhecimentos, mas de uma varinha de condão, que transforme retórica em dinheiro. É o que vem fazendo o ministro Haddad tentando empurrar goela abaixo da nação o seu arcabouço fiscal.

Os nórdicos, oriundos da monarquia e hoje parlamentaristas, conseguiram misturar a economia capitalista com valores socialistas e se transformaram numa alternativa plausível ao capitalismo puro. Lá costumam estar inclusos, entre os serviços públicos promovidos pelo Estado, assistência médica ampla e gratuita, programas habitacionais sólidos, educação infantil básica e superior gratuita, segurança, infraestrutura, justiça, etc. Contudo carga tributária geral (como porcentagem do PIB) está entre as mais elevadas do mundo: Suécia 44,1%, Dinamarca 45,9% e Finlândia 44,1%. No Brasil a carga tributária é de aproximadamente 33,58% e no Reino Unido é de 32,6%. Os países nórdicos têm alíquotas de impostos relativamente fixas, o que significa que mesmo aqueles com renda média e baixa são tributados em níveis relativamente altos. Todo mundo paga satisfeito, porque o governo é solidário, existe retorno, não há o que reclamar, lá não existe a Lei de Gerson e muito menos corrupção. Com a diminuição do custo Brasil e o fim da corrupção, tudo o que eles conseguiram lá, também seria possível aqui. Sonho meu! Sonho meu!...

Portanto, meus caros aprendizes do conservadorismo da direita, do progressismo da esquerda e do partidarismo exagerado, para sairmos da sombra do socialismo moreno e alcançarmos a síntese da direita e da esquerda,  no formato da verdadeira Social-Democracia ou do Estado de bem estar social democrático, nos moldes daquelas que deram certo. De início, seria preciso uma revolução social intensa, que sensibilizasse Lula a, em nome do povo, escrever uma carta de despedida getulista, reconhecendo suas falhas e aconselhando seus seguidores a varrerem os vermes e a corrupção da sociedade, começando tudo de novo. Este é mais um sonho, para ser apenas sonhado, pois que o problema maior não está só na esquerda. Bom mesmo seria extinguir a esquerda e a direita do banquete governamental. Que venha uma nova ideologia partidária.

O governo seria pautado pelos ideais de liberdade e igualdade, de defesa da democracia, das liberdades individuais, da propriedade privada e da justiça social, com partidos políticos fortes (máximo 2), como nos EUA. Congresso com metade dos deputados e senadores, executivo com metade dos ministérios, teto salarial reduzido à metade do que é hoje, inflação sempre perto de zero e muita vontade de resolver os problemas nacionais, principalmente diminuir as distâncias sociais. Afora isso, só pelas vias sobrenaturais ou pela força de novas lideranças. Os acomodados de todas as áreas, de todas as cores, donos dos maiores salários da Nação, vão continuar exigindo continências, não vão se preocupar com mudanças estruturais, nem com o fim da corrupção. Foda-se o povo! 

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