Quarta-feira, 16 de dezembro de 2020 - 12h12
Nas proximidades do Natal, o
ser humano, aculturado pelo cristianismo, costuma sair da sua morada
egocêntrica costumeira, para se abrigar no próprio coração. É chegada a hora
dos cânticos e louvores, de se mostrar receptivo ao próximo, a hora dos
presentes, das orações, das ofertas, de se passar o apagador na lousa
demonstrativa das falhas decorrentes do processo evolutivo de humanização, é a
hora do exibicionismo vaidoso, patrocinado por Noel. O Natal nos abastece de
conceitos efêmeros, ainda assim válidos.
Hoje, diante de tantos
fósseis, já não se questiona, cientificamente, que o homem nasceu selvagem, de
tronco único, mas que adquiriu inúmeras plataformas, pedaços do software das
forças do universo, moldadas pelo tempo e pelo espaço, daí as várias formas e
cores humanas. A busca da humanidade pela hegemonia, na natureza, tolera
todos as rotas evolucionistas, mas só o criacionismo transcendente se conecta
com o emocional e a supremacia divina.
Foram milhares de anos até que
o cérebro, primeiro mentor da vida social, administrasse a gênese da ética
genética, como elemento preponderante na produção da realidade social: por isso
todos os seres humanos, não importa onde tenham nascido ou que cor e forma
assumiram, possuem um senso ético, uma espécie de consciência moral, capaz de
julgar se suas próprias ações são boas ou más, justas ou injustas, certas ou
erradas. A raça humana é uma só, mas alguém precisar lembrar isto aos humanos,
constantemente.
A ética “pessoal” se inspirou
nas primeiras matrizes culturais, prevalecentes nas sociedades, de acordo com o
contexto histórico de cada região. Daí porque o que é certo no Sul pode não ser
no Norte, o que não inviabiliza a regra geral de ética inerente. Este é um
estudo que começou há 25 séculos, pelos filósofos gregos, mas hoje se estende
ao campo da psicologia, da sociologia, da biologia e até mesmo da neurociência.
Nada causou mais problemas à raça humana do que a inteligência.
Infelizmente nem todo este
preâmbulo, pretensamente científico/filosófico, consegue justificar, por que, mesmo
próximo ao Natal, num país de matriz cultural cristã, são tão poucas as ações visceralmente
cristãs, em comparação com as ações vaidosas, capitalistas e desumanas, quando
se sabe que os valores emotivos perseguidos pela cristandade são condizentes
com a busca por uma existência plena e feliz??? A raça humana é uma
experiência que ainda não deu certo.
A verdade é que o conceito de
felicidade, difere de pessoa pra pessoa. Para a avassaladora maioria o estado
de espírito do “ser feliz” está intimamente ligado ao materialismo selvagem do “ter”.
A sociedade ainda confunde o que uma pessoa é com o que ela tem. Os meios
escusos, usados para se atingir o status de “ser abençoado”, acompanharam o
homem por várias crenças, muito antes da existência do cristianismo. Hoje, dízimos
e polpudas ofertas alargam o sorriso de qualquer pastor, padre ou bispo. O
céu sempre esteve à venda. Pobre é o capeta!
Sem se incomodar com as
consequências, o agricultor abusa do agrotóxico para conseguir morangos mais
bonitos, mais vistosos; o garimpeiro joga mercúrio na cara dos indígenas e da
sociedade portovelhense, para retirar ouro dos rios amazônicos, notadamente do
Rio Madeira, com a aquiescência das autoridades. Em qualquer área, vale tudo
pelo lucro: somos majoritariamente cristãos, mas vivemos uma luta simbólica pela
dominação do outro, a qualquer custo. A concorrência desleal é herança dos
resquícios da selvageria humana.
Os meios, ainda que alheios à
ética, estão condizentes com a moral vigente do quem tem, tudo pode.
Político pra ser verdadeiramente político precisa ser corrupto, ou tolerar a
corrupção. Sem o conchavo corruptivo não se governa, o povo é só um detalhe e
se conforma com um presentinho de Papai Noel. A prisão do corrupto, do ladrão, do
traficante, em vez de orgulhar, envergonha a PF, pois os presos, salvo
raríssimas exceções, não esquentam as celas, são soltos pelas Côrtes, conforme
a capacidade de se pagar bons advogados. Cada ministro possui um sócio (a) que
administra um escritório de advocacia!... Na Bahia, desembargadoras foram
presas, acusadas de venderem sentenças, e esta é uma prática, segundo a
imprensa, mais comum do que se imagina. Mateus, primeiro os meus, depois
os teus!
Ainda buscamos as verdades do
Cristo, no Santo Graal, que tal descobrirmos um Graal dentro de nós mesmos e o
enchermos com o sangue do nosso coração, mais afeito às regras pulsantes do
amor ao próximo, independentes de condição social, cor, gênero, preferência
sexual, etc. O Graal seria um purificador simbólico entre o coração e o cérebro,
um confidente das nossas fraquezas, dos nossos erros, cujo sangue, ao ser renovado,
no retorno à memória cerebral, estaria impregnado de perdão, abraços e
esperança, por dias melhores, em tempos de pandemia. Feliz Natal!!!
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