Terça-feira, 19 de dezembro de 2023 - 12h48
O outro já foi título de
romance e está cotidianamente em nosso dia a dia; no plural, foi tema de
minissérie da Globo e nos importunaram, usando a inveja, o ciúme, o poder ... Se
voltarmos ao passado vamos encontrar as máximas de Simone e Sartre, em pleno
existencialismo, a nos lembrar, com o dedo em riste: “não se nasce mulher,
torna-se mulher; o inferno são os outros.
Os Titãs plagiaram o inferno, enquanto personificação dos
outros:
“O
problema não é meu
O paraíso é para todos
O problema não sou eu
O inferno são os outros, o inferno são os
outros”.
Às vésperas do Natal, com duas
guerras ativas, a gente fica se perguntando: por que o inferno é o outro, de
onde vem esta certeza? Embora os cientistas digam que nossa origem comum é a
África, vejo o outro em continentes diferenciados, convivendo com a mesma
natureza sórdida, dentro ou fora do ambiente dos sapiens; se estiverem no norte
do continente Europeu, talvez sejam neandertais, como atesta Yuval Noah Harari.
O fato é que, sapiens ou neandertais, nós e os outros, não passamos da extensão
deles, via genética. Quiçá tivéssemos em nosso DNA uma mínima parcela
divina. Não existiria Caim, Judas, Putin, Netanyahu, Hamas. Pobre menino, não tem potestade.
Durante anos combatemos a
forme, hoje morre-se mais de obesidade e de velhice do que de fome, de
inanição. As guerras continuam a matar, mas proporcionalmente bem menos do que
no século XX. Com o avanço da ciência, os outros não param de
crescer e são cada vez mais saudáveis, no entanto, os sérios
problemas de convivência crescem juntos, como se o inferno sartriano crescesse
na mesma proporção do crescimento da humanidade. O inferno da convivência
social é terrível, perene, dificilmente será, um dia, paraíso. E tudo continua
o mesmo inferno, no universo, com ou sem Deus, até o fim, se é que existe um
fim. Até um novo começo, soa melhor aos que acreditam em renascimento.
No existencialismo,
a maioria dos filósofos nega a existência de uma natureza humana. Segundo
eles, existe algo primitivo, selvagem, originário, que é inerente a todos os
indivíduos, mas não existe uma essência eminentemente humana: “não se nasce
mulher, torna-se mulher” (SB). A essência não vem pronta, como afirmam os
cristãos, ela é construída ao longo da vida, conforme as escolhas, o meio, as
influências. Se formos estender a escrita dessa simples crônica a todos os
pensadores existencialistas, teríamos que buscar uma outra plataforma de
divulgação, distante até mesmo de meus parcos conhecimentos, talvez tivesse que
pedir ajuda a AI.
A
minha intenção não era esta, quando me sentei para digitar algo que mostrasse
aos meus leitores, que o outro é um inferno reflexivo, a partir do
relacionamento. O inferno é como uma via de mão dupla, vai e vem, separada por
uma faixa amarela intermitente, qualquer transgressão gera briga, morte, enfim,
o inferno social. É dando que se recebe!
Apontar
o dedo para o outro, colocar a culpa no outro, sempre foi a melhor opção de
quem não enxerga seu próprio interior, às vezes doentio. Os sete pecados
capitais, criados pela literatura religiosa, são os mesmos em qualquer religião
ou em qualquer língua, mas a evolução humana os transformou em ciúme, mentira,
inveja, protecionismo, racismo, humilhação, uso errado do poder e egoísmo. Dependendo
da situação, o uso inadequado de qualquer um desses pecados inerentes pode
gerar o inferno, para o outro ou para si mesmo. Tais pecados são vistos como a contraparte das virtudes,
qualidades que constituem bons indivíduos, com humildade, generosidade, empatia
etc.
Para
nos livrarmos dos modernos pecados capitais, segundo as igrejas, cristãs ou
não, necessitamos de atitudes, escolhas selecionadas, boas ações,
solidariedade, nem sempre possíveis, quando interagimos com certas comunidades: o catolicismo, passado
e presente, com o intuito de educar os
seguidores, de compreender e controlar os instintos básicos
do ser humano, tentou/tenta aproxima-los de Deus.
Não deu certo, não vem dando certo. A história da igreja está repleta de atos
estúpidos cometidos em nome de Deus; vide Inquisição, Cruzadas, Reforma
Protestante, Calvinista, Pedofilia etc.
Portanto e
concluindo, os outros serão o que nós determinarmos que serão, conforme nossos
princípios, educação religiosa, educação familiar, mas será o inferno se nós ou
eles estivermos dominados pela inveja, arrogância, egoísmo, etc. A tão sonhada
natureza divina não passou ao homem pela transcendente semelhança, parou no
materialismo evolucionista. Os apetrechos religiosos não conseguiram
materializar no bicho homem, as virtudes divinas, sequer conseguiram determinar
porque os humanos foram/são tratados, conforme a cor da pele. Não fomos
criados, surgimos na natureza, evoluímos e existimos ao deus dará,
distribuindo e recebendo patadas de toda ordem.
Pelo que se
conhece da natureza humana, o outro será o inferno agora e sempre, nem o filho
de Deus, nem a filosofia cristã, conseguiram personificar o amor no conceito de
outro: amar ao outro (próximo) como a ti mesmo. Boas Festas,
Feliz Ano Novo, Feliz Natal. Que os outros completem o seu paraíso, aqui na
Terra, aproveitando a comprovada inexistência do inferno. Nestes dias festivos,
tomem vinho em vez de água, enquanto a água sacia a sua sede o vinho lhe faz
cantar. Aaaaleluia!!!
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