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Crônica

O Paradoxo da Vaca de Presépio


O Paradoxo da Vaca de Presépio - Gente de Opinião

O mergulho cibernético, superficial ou profundo, desde a década de 1970, tem contribuído para o avanço intelectual da sociedade. Hoje, a vida digital faz parte do ser humano, está tão entranhada no dia-a-dia, que o real e o online parecem siameses. Por outro lado, variantes internéticas consumistas podem transformar os viajantes/partícipes em zumbis sociais, ponto em que perdemos a direção de nossas escolhas, as rédeas daquilo que chamamos “destino”. Nossas ações racionais e emotivas são proporcionais à profundidade da inversão do olhar: quem olha pra fora sonha, quem olha pra dentro desperta (Jung). 

As redes e mídias socias, especialmente o Facebook, o Instagram, o WhatsApp, o Youtube e o Twitter foram programadas para serem canais de inter-relacionamentos, que embutem uma ou várias opiniões: é uma corrida desenfreada para saber a nossa opinião sobre o outro e a dos outros sobre nós mesmos, para tanto postamos imagens e textos em busca de seguidores, ou para seguirmos alguém, com isso alimentamos o conteúdo das redes sociais. “Ai se eu te pego.” O seu perfil funciona como uma carteira de identidade, misturado a uma espécie de “currículo” do usuário: Você é a versão digital escancarada de você mesmo, um candidato a sofrer do transtorno de personalidade histriônica. O viciado nas redes sociais acaba sendo vítima da sua própria vaidade, mas isso não o aborrece, muito pelo contrário!

Normalmente, seguidor e seguido fazem parte de mundos diferentes, são polos                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             de alcances diversos de interesses.  Alguns usuários são vítimas dos caronas, aqueles que observam tudo, mas não postam nada. O poder persuasivo da opinião de terceiros aparece de forma sutil e desapercebida, mas é constante.  O que era o inferno para Sartre – os outros − é o paraíso para Zuckerberg.

Oscar Wilde premeditava, em pleno século 19, numa época em que ainda não havia internet, nem mídias e redes sociais, que “a maioria das pessoas é outra pessoa. Seus pensamentos são as opiniões de outras pessoas; suas vidas, uma imitação; suas paixões, uma citação.”

Baseado na profunda reflexão do escritor inglês, criou-se plataformas que geram milhões de dólares aos seus controladores e, salvo países que não adotam tais redes e mídias, direcionam e criam falsos e verdadeiros formadores de opinião, manipuladores do destino de muita gente e até mesmo de nações. De certa forma, Trump comandou, via Twitter e Facebook, a invasão ao Capitólio, demonstrando que, nem sempre, o relacionamento de seguido e seguidores é um processo tranquilo e harmonioso. “Êh, ôo vida de gado, povo marcado êh povo feliz.” 

O uso de Fake News, textos e expressões religiosas ou políticas, intencionalmente carregadas de emoção, desprovidas de um mínimo de razão, sem comprometimentos responsáveis, faz das redes sociais verdadeiras fábricas de ingênuas vacas de presépio. Anauê pelo bem do Brasil. Hei Hitler!

Na busca pela validação positiva, acabamos expondo nossas ações, nossa própria vida, carregada de desejos, à exploração das curadorias das mídias sociais, visando o consumo de inúmeros produtos. Muito do nosso querer, enquanto participantes das redes e mídias, depende da avaliação social das pessoas com as quais interagimos. Se a nossa essência depende da certificação do outro, existimos sem sermos, somos mero produto do meio.

A criação das mídias e redes sociais é um caso peculiar do homem interferindo no meio, ditando, virtualmente, um novo jeito de ser, de viver, de interagir, de marchar para o futuro. Mais do que nunca, dependemos do autoconhecimento, do controle da nossa vaidade, do exercício da humildade, para sermos um consciente animal social, sem o risco de nos transformarmos em massa de manobra, sem perdermos nossa singularidade emotiva e cultural. A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” (PD)

O homem é fruto da sua educação, da sua leitura, das influências genéticas e do meio, mas o meio, não importa a época, obedecendo determinadas circunstâncias, poderá sim sofrer a influência do homem, com profundas modificações sociais e repercussões: Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. (João 4:6)

Navegar contextos de escolhas, seguindo as redes sociais, facilita o comportamento, minimiza o processo complicado e nebuloso da angústia de ser, mas nos põe diante do velho paradoxo existencial, rejuvenescido pelo impacto da cibercultura: − tenho opinião e atitude próprias ou sou um mero maria-vai-com-as-redes? A decisão é sua…

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