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Crônica

O preço de um defunto


O preço de um defunto - Gente de Opinião

O brasileiro, não sei se por hereditariedade comportamental, jamais por ignorância, quando tem a chance de administrar verbas públicas, o faz de forma absurda, como se fosse o dono do destino social. A gente sabe que muitas das fortunas desse nosso brasilzão foram construídas de forma ilícita, todavia dói mais, quando as tramoias estão ligadas à saúde dos humildes. Tenho certeza que tudo foi feito de má fé, porque os escândalos de desvios de montantes da saúde apontam pessoas esclarecidas como médicos, políticos e empresários. 

De ponta a ponta do país, onde as verbas federais foram disponibilizadas para diminuir o número de mortos na Pandemia da Covid19, o que se viu e estamos acompanhando pela TV, conforme investigações da Polícia Federal, foram malversações do dinheiro público, incompatíveis com o nível de instrução dos envolvidos. Monopolistas da pilantragem, coronéis eternamente populistas.

Secretários de saúde, governadores, prefeitos, empresários, não se acanham de aparecer diante das câmeras das redes de TV, como titulares dos desvios de recursos sociais, com a maior cara de pau e o já manjado nariz de Pinóquio malufista. Eu nego, não fui eu, a justiça comprovará a minha inocência.

Muitos hospitais de campanha, afoitamente construídos com o intuito de desvio de dinheiro, sequer foram usados, outros nem foram construídos e ainda houve o caso de um hospital, adquirido por um preço bem acima do avaliado. E isto não aconteceu apenas no Rio de Janeiro, mas também no Pará, Amazonas, Rondônia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, etc. etc. Que sentimento perpassa as veias desses aproveitadores infelizes. Como não acredito em inferno e sei que as cortes superiores lhes serão brandas ou coniventes, resta-me o desabafo: vão todos pro raio que o parta.

Se a imprensa brasileira, dona dos obituários das vítimas do coronavírus, fizesse um levantamento, para saber a autópsia financeira de um defunto de Covid19, em relação às verbas federais, enviadas para estados e municípios e desviadas ou aplicadas de forma errônea, teríamos o maior custo cadavérico do mundo, sem falar nas inúmeras vítimas que seriam poupadas. Nossa assertiva decorre do fato de que ainda estamos entre os líderes mundiais de corrupção: de 180 países estamos no 106º lugar.

O cenário só não é mais desolador, graças à pálida reação da sociedade e de algumas das instituições brasileiras, mas ainda estamos nas mãos do Congresso, tradicionalmente corrupto, resistente às reformas que atacariam de fato as raízes do problema, e de atitudes de alguns ministros da alta Corte, que insistem em soltar os líderes da corrupção, desacreditando investigações da Polícia Federal, contrariando sentenças de juízes federais incorruptíveis e de alguns denodados procuradores federais,  sufocados pela nova PGR, quando gritam em prol da independência dos grupos anticorrupção. Não se mata o dragão com um simples afago, tem que ser à machadada investigativa e mediante punição severa, exemplar, logo na 1ª instância.

Sem que o povo seja educado para entender o valor do voto, o porquê do dinheiro público não ser mais transparente; a interdependência dos poderes republicamos  numa democracia, e porque nossa constituição é considerada uma das mais avançadas do mundo, apesar das distâncias sociais e do alto custo Brasil, dificilmente alcançaremos o ranking dos países mais avançados e deixaremos de ser a vitrine mundial da corrupção.

Não vejo como modificar a estrutura da nossa pirâmide social, se não nos envolvermos num processo de educação em massa, capaz de acabar com o jeitinho brasileiro, com a exploração dos mais espertos; se não adaptarmos a Constituição Federal à nova realidade presidencialista, por uma democracia forte, escorada em poderes republicanos que não competem entre si, nem visam o próprio bolso, mas fiscalizam as ações governamentais e a concorrência capitalista, criteriosamente. Sonho meu, sonho meu…

O povo precisa deixar de ser só um detalhe, atualmente, sabemos que os congressistas eleitos jamais atirarão no próprio pé. Nem tomando a Bastilha garantiríamos a solução, pois não é um problema que se resolve com violência, mas com educação e nova mentalidade. É um futuro tão distante e utópico, que se confunde com um buraco negro, um aspirador de sonhos. 

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