Sábado, 14 de outubro de 2023 - 10h36
Machado
de Assis, num dos seus encantadores romances, narra a curiosa história do Sr.
Custódio, deveras preocupado com a mudança do regime, no Brasil – Monarquia
para República
O
Sr. Custódio mandou pintar no estabelecimento o nome da pastelaria:
CONFEITARIA IMPÉRIO
Com
a mudança do regime político, em 1889, ficou preocupadíssimo. Seria afronta à
República?!
Para
solucionar o intricado problema, pediu parecer a amigo, que lhe sugeriu:
CONFEITARIA DA REPÚBLICA
Mas, o Sr. Custódio não ficou sossegado. Se a monarquia
voltasse?
O
Imperador era figura grata do povo; Deodato, respeitava Dom Pedro II; o General
Hermes da Fonseca, irmão de Deodato, era leal ao Imperador; melhor era repintar
o letreiro assim:
CONFEITARIA DO CUSTÓDIO
Nessa
época começou no Brasil o "baile das casacas": escritores,
militares, jornalistas e artistas, não perderam tempo: louvando "convictos",
a República, na ânsia de benesses.
As
placas das ruas andaram em roda-viva: a Praça Dom Pedro II, passou a Marechal
Deodato; o Largo da Imperatriz, a Quintino Bocaiúva; a Rua da Princesa, Rui
Barbosa.
O
que aconteceu no Brasil, acontece em quase todo o mundo, em nome da liberdade e
da democracia...
Também
em Portugal houve caso semelhante ao do Sr. Custódio, só que foi verídico, e
não fictício, como o de Machado de Assis.
O
proprietário da Confeitaria Nacional, no final do século XIX, foi a
França e conheceu o bolo confecionado na "Festa dos Reis"
Trouxe-o
para o seu País e deu-lhe o nome de:" Bolo-Rei". Logo os
lisboetas o adotaram nas festas natalícias.
Entretanto
mudou o regime e os republicanos não gostaram do nome: “Rei".
Mudou-se
para: " Bolo de Natal" ou " Bolo de Ano Novo".
No
correr do tempo, acalmados os ânimos, voltou a ser: "Bolo-Rei".
Como
no Brasil, igualmente, as placas das praças e ruas foram substituídas, na 1ª,2ª
e 3ª República.
A
Ponte Salazar passou a ser: " 25 de Abril". Hoje, o povo, batizou-a:
" Ponte Sobre o Tejo".
O
estadista já o previa, quando disse que o nome devia ser aparafusado para não
terem trabalho de o arrancarem (Pedro Mexia- Revista Expresso, 10/09/2016.
No
Porto, a Rua 31 de Janeiro (coitadinha!) desde que me conheço, uma vez é de
Santo António, outra vez de 31, consoante o regime que se instala em Lisboa.
Tudo
se fez e se faz em nome da liberdade...e da democracia.
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