Quarta-feira, 23 de dezembro de 2020 - 15h59
Os porquês nos acompanham pela vida afora, começam na infância e, ao
longo da vida, se misturam às dúvidas do dia a dia, em busca de respostas que
nos ajudarão a interagir com o mundo do conhecimento humano. Os porquês da
gramática a gente até entende, mas os da vida, aqueles que exigem uma resposta
coerente com a existência, estão num patamar muito mais elevado do que
simplesmente entender. E, nestes tempos natalinos, não há como
não questionar as religiões, o criador, a vaidade, o vasto mundo. Por que
nasci no Sudão e não na América? Por que na Mongólia não tem natal?
Dizem que na vida tudo tem um porquê, uma origem, uma lógica, mas são
tantos os acasos que não podemos simplesmente ignora-los. Aceitar um porquê pra
tudo, é como aceitar que o destino já vem pronto, o problema é que nosso
cérebro possui um defeito de origem: foi programado, pela evolução, para
encontrar sentido em qualquer coisa, inclusive nos inúmeros truques
existenciais da vida. O futuro predeterminado está embutido no passado
determinado que move ciências, filosofias e religiões, inclusive a milenar
astrologia, que teve prestígio de ciência, até o século XVII, com o conceito de
que os astros regem nossa vida. Por que sou Virgem? Porque Júpiter é o
maior de todos?
Na Grécia antiga os estoicos diziam que ninguém escapa do que está
reservado para você, ou seja, o futuro é tão inalterável quanto o passado: nem
pensar em livre-arbítrio. Já os epicuristas defendiam a ideia de que tudo é
fruto do acaso. Epicuro, no século IV, e os filósofos existencialistas, no
século XX, afirmavam que a essência de tudo o que existe é o caos. Para
Sartre, acreditar num futuro com cartas marcadas seria o mesmo que fugir da
responsabilidade de tomar decisões: eles pregavam a total liberdade humana, mas
esbarraram no velho instinto básico cerebral da ordem, do encontrar
sentido pra tudo, logo não poderiam correr o risco de viver num mundo que não
faz sentido. Por que existo? Por que o inferno são os outros? Por que o
paraíso não é para todos? Por que o problema não sou eu?
As religiões indianas e, com algumas variantes, o espiritismo, acreditam
no karma: para eles nada acontece por acaso, tudo na vida é consequência de
ações passadas. Embora o destino seja traçado antes do nascimento, ao ser humano
é dada a liberdade de praticar o bem e ir descontando a carga das vidas
passadas. As virtudes praticadas serão recompensadas na próxima reencarnação,
mas quem ficar devendo estará sujeito a acidentes e desgraças. Por que o
Karma é uma saga interminável, dependente da desconhecida perfeição espiritual?
Apesar do destino predeterminado de Judas, ou da teoria da Predestinação
defendida por Calvino, ou da Teologia da Prosperidade pregada por protestantes
americanos, o Vaticano sempre defendeu o livre arbítrio, como peça fundamental
na responsabilidade moral do cristão, o que significa indagar: se as pessoas
são boas ou más por decreto divino, qual o sentido de recompensa-las ou
puni-las? Por que vou pro inferno se na minha religião ele não existe?
Os muçulmanos dizem que os humanos são livres para agir, mas Alá já sabe
de antemão o que cada um vai fazer ou não, é uma espécie de meio termo entre o
livre-arbítrio e a autoridade divina. Por que sou muçulmano e não judeu?
Por que Alá não é Deus, nem Maomé é Jesus?
As respostas aos porquês da vida são racionalmente limitadas, estão mais
no campo das conveniências imaginativas, do que no da razão. A fé não tem cor
ou forma, nem é privilégio de uma determinada região, mas é uma das ferramentas
da emoção, um campo da matéria constitucional humana, que trabalha com a
religiosidade inerente, que tem todas as respostas subjetivamente humanas,
portanto cheia de falhas, medos e sonhos. Pela fé, os humildes líderes
espirituais foram obrigados a materializar, no desejo humano, Deus, paraíso,
nirvana, etc. porque assim seria mais fácil vencer o medo do post-mortem.
Não adianta procurar Deus nas inúmeras religiões, nos quatro cantos da
Terra. Não adianta querer, vaidosamente, uma nova vida, uma nova oportunidade,
um outro karma, a trajetória evolutiva racional humana já dura milhões de anos,
as respostas conseguidas estão dentro de cada ser, foram escritas a ferro e
fogo, muitas delas até vieram do exemplo do Cristo pregado na cruz, mas todas,
irremediavelmente todas, foram resumidas numa única palavra – AMOR! Se
quiser pode renomear o amor, chame-o de DEUS!
Abdique do egoísmo e pratique a religião do amor ao próximo e verás
como é fácil chegar ao paraíso, sem precisar alimentar a existência extrassensorial
do espírito imortal, sujeito à moral de todas as crenças. Viemos do pó e ao pó
retornaremos, simples assim. Boas Festas!
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