Quarta-feira, 3 de março de 2021 - 13h57
O cético Ernest
Hemingway, laureado escritor norte-americano, ganhador do Nobel de Literatura,
em 1954, se inspirou no texto do poeta e clérigo inglês, John Donne (1764),
para titular o romance Por Quem os Sinos Dobram? que narra a carnificina
da guerra civil espanhola e o terrível drama de uma sociedade que se
autodestruía. A inevitabilidade do fim da vida e com isso a desesperança
e a futilidade das coisas, presentes nos romances do referido estadunidense e,
de certa forma, na obra de Donne, marcaram seu ponto de vista existencialista,
nos diálogos ficcionais com a morte. Tanto o pai, quanto o próprio Hemingway,
escolheram o suicídio, como forma de driblar o tempo da vida, sem se preocupar
com os desígnios místicos.
Com
raríssimas exceções, já se vão longínquos os tempos em que a igreja se
comunicava, numa espécie de código cristão, através das badaladas dos sinos da
matriz. A TV, o celular e a internet emudeceram os sinos, melhor assim,
imaginem se os sinos da catedral ainda anunciassem a morte de cada ser humano
da paróquia? Nesses tempos de pandemia, teríamos uma imparável orquestração
fúnebre, um réquiem de sinos à Raul Seixas, afetando ainda mais nossos já
sensíveis nervos: “Canto Para a Minha Morte”.
Já chega o
medo e a solidão se irmanando no esconderijo necessário à atuação do vírus.
Ainda assim o silêncio dos sinos não apaga, do nosso interior, o sentimento de
que a morte de qualquer pessoa, mesmo banalizada pela quantidade, nos diminui,
porque somos partes do gênero humano: e por isso, ao assistires à TV Obituário,
não perguntes por quem os silenciosos sinos dobram, eles dobram por ti.
Bem que eu
gostaria de acreditar que quando morre um ser humano, um capítulo/vida não é
subtraído do livro universal, mas traduzido para uma linguagem melhor, em outra
dimensão, com a chance de ser reeditado várias vezes, até alcançar o idioma da
luz eterna, no paraíso da paz e do amor.
Seria tão mais fácil, tão mais
reconfortante, eliminaria a angústia do fim, imaginar e acreditar no pós mortem,
sem dúvidas nem incertezas. Seria tão mais simples acompanhar a larga maioria e
dizer amém ao desconhecido, desconsiderando a evolução, a ciência e a
filosofia. Todavia, a administração, nada divina, da desigualdade no planeta,
em todos os sentidos, a morte universal exageradamente continuada, sem pudor
nem critérios racionais, enrubesce/constrange a certeza de tudo após a
existência, simplifica os enigmas do propósito da vida, clareia o nada e
arrefece o medo dos castigos cristãos.
São tantas
as denúncias de descaso, no enfrentamento da pandemia, que hoje a pergunta
mudou de sentido: por que os protestos verbais badalam? A falta
de remédios, de oxigênio hospitalar, de UTIs, de precauções privadas, de
liderança competente na distribuição das vacinas e o excesso do confronto
imbecil entre imprensa e governo, transformaram as vozes populares em
verdadeiros sinos fúnebres de protesto e só não são mais barulhentas porque a arrogância
da Corte Suprema atraiu pra si todos os holofotes. Nenhum homem é uma
ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da
terra firme (JD).
Como John Donne em suas Meditações,
também tenho vontade de dialogar com a morte, na linguagem dos
artistas, como não me considero poeta, empresto alguns versos de Paulo Coelho e
Raul Seixas para meu paradoxal pré-réquiem de amor e ódio, ao som da pianista
Andréa Figueiredo, interpretando o Concerto para
Piano Nº 2, em dó menor, op. 18, de Rachmaninoff.
“Vou te encontrar
vestida de cetim
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que
encontrar
Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo
desta vida”
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