Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021 - 11h01
O primeiro dia de um ano é celebrado
como o dia da paz, já estamos em fevereiro/2021 e a guerra virótica ainda não acabou,
mas vai sendo, aos poucos, deixada pra trás, simbolicamente, como uma vela que
se apaga em homenagem a mais de dois milhões de mortos pela Covid19, na certeza
de que milhares de outras continuarão sendo acesas, na cabala da vida, com a sequenciada
chama solar da aurora: novas vidas, novos dias, novos sonhos, novas doenças,
novas esperanças, com ou sem fogos de artifício, com ou sem beijos e abraços,
mas com o conchavo da História de que tudo passará, como passaram inúmeras
outras doenças ditas humanas. “Ser normal é a meta dos
fracassados”.
Pior que as viroses são as
doenças da alma, individualistas, não passam facilmente; abastecem o ego com arrogância
e promovem o culto à própria imagem, embalando o berço de Narciso, espelhado
na consciência. Parece que o distanciamento obrigatório tem provocado um vazio
existencial e as pessoas mais jovens se voltam para dentro, concorrendo com o
imaginário: a concorrência desleal consigo mesmo e as comparações, no dia-a-dia
da solidão, são alimentos doentios da alma, forçam a ultrapassagem dos limites
humanos. “Cada vez mais, exige-se que a pessoa mostre o
que não é, fale o que não sabe e exiba o que não tem”.
O cronista Rubem Alves dizia
que ler é fazer amor com as palavras, hoje, se vivo fosse, diria
que as pessoas fazem amor com as imagens, via Photoshop, Face, Instagram,
Youtuber, Twitter e tantos outros aplicativos e mídias que, além de renovarem a
aparência, repicam a própria imagem ao longo da internet. Apesar do cutelo
virótico não escolher idade, o jovem se acha imortal: #morrer é para
velhos, vamos curtir a patuscada. Nunca o ego juvenil foi tão
acariciado, nunca se buscou tanto a ilusão de ser o máximo por tanto tempo. O
fim antecipado ou o sofrimento além do normal, podem surpreender, alimentando
neuroses, embaçando as máscaras dos super-heróis.
A palavra escrita vai sendo
paulatinamente substituída pela imagem, numa espécie de modernização do ideograma
oriental; alguns textos são transformados em vídeos, em podcasts, em legendas
de imagens, ou em áudios específicos para fones de ouvidos. O excedente é
utilizado para encher linguiça nas FMs. Se o celular é a vestimenta do
cérebro, os fones são a cueca dos ouvidos, a possiblidade de filtrar o excesso
de merda. Pouco se lê, pouco se escreve, muito se ouve, muito se vê. O melhor
celular é o de maior resolução, não demora o que possibilitará uma selfie do
ego: em vez da maçã, a capa trará um abacaxi, em três dimensões.
No futuro, todos os documentos
serão incorporados ao celular, inclusive o dinheiro. Todo conteúdo de um
celular estará salvo nas nuvens, assim, se você for roubado ou
perder seu celular, poderá comprar outro e requerer, mediante senha, todos os
documentos ali armazenados e catalogados. Ninguém tem mais dúvida que o mundo
do papel está com seus dias contados e que seremos identificados por um chip
introduzido na pele, imune ao clone, à moda hollywoodiana. Só nos restará
vencer a morte, a última fronteira do tempo.
A supremacia jovem, em relação
aos dribles na morte por Covid19, pode estar generalizando um transtorno de
personalidade narcisista, com sérias consequências na infecção dos mais idosos,
inclusive a morte: o senso inflado, a falta de empatia pelos idosos escondem
frágil autoestima e vulnerabilidade à menor crítica, só a psicoterapia da
vacina poderá acabar com este conflito entre idades. #Vacinas já!!!
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