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Crônica

#Patuscadas

“Ser normal é a meta dos fracassados”.


#Patuscadas - Gente de Opinião

O primeiro dia de um ano é celebrado como o dia da paz, já estamos em fevereiro/2021 e a guerra virótica ainda não acabou, mas vai sendo, aos poucos, deixada pra trás, simbolicamente, como uma vela que se apaga em homenagem a mais de dois milhões de mortos pela Covid19, na certeza de que milhares de outras continuarão sendo acesas, na cabala da vida, com a sequenciada chama solar da aurora: novas vidas, novos dias, novos sonhos, novas doenças, novas esperanças, com ou sem fogos de artifício, com ou sem beijos e abraços, mas com o conchavo da História de que tudo passará, como passaram inúmeras outras doenças ditas humanas.Ser normal é a meta dos fracassados”.

Pior que as viroses são as doenças da alma, individualistas, não passam facilmente; abastecem o ego com arrogância e promovem o culto à própria imagem, embalando o berço de Narciso, espelhado na consciência. Parece que o distanciamento obrigatório tem provocado um vazio existencial e as pessoas mais jovens se voltam para dentro, concorrendo com o imaginário: a concorrência desleal consigo mesmo e as comparações, no dia-a-dia da solidão, são alimentos doentios da alma, forçam a ultrapassagem dos limites humanos. “Cada vez mais, exige-se que a pessoa mostre o que não é, fale o que não sabe e exiba o que não tem”.

O cronista Rubem Alves dizia que ler é fazer amor com as palavras, hoje, se vivo fosse, diria que as pessoas fazem amor com as imagens, via Photoshop, Face, Instagram, Youtuber, Twitter e tantos outros aplicativos e mídias que, além de renovarem a aparência, repicam a própria imagem ao longo da internet. Apesar do cutelo virótico não escolher idade, o jovem se acha imortal: #morrer é para velhos, vamos curtir a patuscada. Nunca o ego juvenil foi tão acariciado, nunca se buscou tanto a ilusão de ser o máximo por tanto tempo. O fim antecipado ou o sofrimento além do normal, podem surpreender, alimentando neuroses, embaçando as máscaras dos super-heróis.

A palavra escrita vai sendo paulatinamente substituída pela imagem, numa espécie de modernização do ideograma oriental; alguns textos são transformados em vídeos, em podcasts, em legendas de imagens, ou em áudios específicos para fones de ouvidos. O excedente é utilizado para encher linguiça nas FMs. Se o celular é a vestimenta do cérebro, os fones são a cueca dos ouvidos, a possiblidade de filtrar o excesso de merda. Pouco se lê, pouco se escreve, muito se ouve, muito se vê. O melhor celular é o de maior resolução, não demora o que possibilitará uma selfie do ego: em vez da maçã, a capa trará um abacaxi, em três dimensões.

No futuro, todos os documentos serão incorporados ao celular, inclusive o dinheiro. Todo conteúdo de um celular estará salvo nas nuvens, assim, se você for roubado ou perder seu celular, poderá comprar outro e requerer, mediante senha, todos os documentos ali armazenados e catalogados. Ninguém tem mais dúvida que o mundo do papel está com seus dias contados e que seremos identificados por um chip introduzido na pele, imune ao clone, à moda hollywoodiana. Só nos restará vencer a morte, a última fronteira do tempo.

A supremacia jovem, em relação aos dribles na morte por Covid19, pode estar generalizando um transtorno de personalidade narcisista, com sérias consequências na infecção dos mais idosos, inclusive a morte: o senso inflado, a falta de empatia pelos idosos escondem frágil autoestima e vulnerabilidade à menor crítica, só a psicoterapia da vacina poderá acabar com este conflito entre idades. #Vacinas já!!!

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