Terça-feira, 13 de outubro de 2020 - 18h08
Os
pensamentos, enquanto processo mental, determinantes na linguagem oral e
escrita, são o maior progresso na
evolução cerebral dos sapiens; os viajantes, então, partem de um porto qualquer
e vão em busca de outros regaços, individuais ou coletivos, cruzando
informações como se fossem respostas às buscas da percepção, somando legados e
ampliando o conhecimento disponível no universo. Cada cabeça é um mundo!
Buda
disse que o que somos é consequência do que pensamos. Nada mais
sábio! Todavia nem todo pensamento, formador de nossa opinião, é nosso. Todas
as invenções, todas as conquistas da ciência e da filosofia foram/são
resultantes da interação de pensamentos viajantes. Dize-me com quem
viajas que descrevo tua jornada.
O
pensamento viajante nos atinge pelos meios de comunicação, pelo intercâmbio com
o outro, com a família, a escola, a academia, a religião, pelos raios
sensitivos do ensino, da leitura, da amizade, do amor, do sonho, da utopia. Contudo,
em contraponto ao bem, pode aparecer camuflado pela inveja, vaidade, desamor,
conquista, poder, ira, enfim por vários rótulos da maldade, exigindo de nós uma
filtragem especial ou até mesmo o isolamento destes pensamentos viajantes
perniciosos, no cantinho do esquecimento. Quer aparecer? Vai procurar tua
turma ou modifica de opinião.
O
pensamento viajante navega pelo tempo, sem pedir licença para ingressar no
cérebro, onde se misturará aos pré-existentes, todavia ele é um dos
ingredientes da escolha/vontade, presente
no ‘destino’ de cada um, às vezes ele pensa que é o protagonista da
peça, no teatro da nossa existência, cabe a nós estabelecermos a ordem e a
importância de cada pensamento viajante em nossa trajetória de vida, para não
produzirmos aberrações mutantes. Entrou num cinema, numa escola, numa sinagoga
e metralhou todo mundo!!!
O ideal
seria escolhermos uma hora do dia para expulsarmos certos pensamentos viajantes
depressivos − melhor fechar a cortina do teatro, antes da peça começar. Somos
carentes de aplausos e de novidades, porém não devemos nos render à tentação viajante
de experimentar o fim, driblando a morte, na expectativa do depois,
simplesmente porque um pensamento andarilho nos acenou com a ideia mística do
transcendentalismo e da imortalidade telúrica: minha vida será o centro do
nexo. Sai pra lá, bicho feio!
O culto
ao bom pensamento depende muito da vigilância constante. Pensamentos
exclusivistas viajam por veredas, subterfúgios e subterrâneos dos
relacionamentos, fazem um mal danado se forem absorvidos por grupos incautos. Podem
ser parasitas e se instalam no cérebro, criando raízes e se alimentando do
ódio, do poder, do desamor, do companheirismo doentio, gerando monstros
sociais, contaminando o mundo com deformidades viajantes, fundadas em ‘verdades
absurdas’. Hitler, Mussolini, Lenin, Stalin, Mao, Ho e tantos outros
egocentristas, são exemplos de pensamentos viajantes exclusivistas.
Nada justifica o aumento desconcertante do desgosto mundial
pela leitura. Num grupo de 40 membros de uma academia de letras, excluindo a
atividade profissional, quantos leem regularmente? O abandono da leitura pode
promover, na juventude, especificamente, uma substituição da palavra pela
imagem, por um rótulo, um símbolo, como a suástica nazista ou a foice e o
martelo comunistas, que mesmo mudos, gritam, mesmo sem serem acompanhados de
páginas escritas, instigam a violência, daí os movimentos neonazistas e
neocomunistas, a Ku Klux Klan e tantos outros. O conhecimento, via leitura, é a
Ritalina do cérebro. Mário Quintana dizia que os
verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.
Pode
parecer uma quimera, mas, pelo andar da carruagem, antevejo o nascimento de um
novo mundo, dominado pela inteligência artificial, quando o místico e o mítico
perderão sentido. Uma nova Odisseia se avizinha no horizonte da galáxia, sequenciando
novos booms do milênio. As conquistas de um milênio a outro são aperitivos da
História. Já passamos pelo primeiro, estamos no segundo, como será o
terceiro? Coitados de Júlio Verne e Nostradamus se vivessem hoje.
Pensamentos
viajantes atravessam o mundo, alimentando guerras, patrocinando genocídios, atos
terroristas, divulgando o amor, renovando ou melhorando ideias, criando
movimentos, religiões, seitas., etc. etc. Imaginem se todo este legado histórico
for substituído por gestos mecânicos e mensagens virtuais projetadas no espaço
vazio pela IA de hemisfério cerebral único, frio e sem emoções. Um
novo caos para nova ordem? um novo esplendor? Os Registros estarão no
desenrolar evolutivo do enciclopedismo. Quem lerá?
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