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Crônica

Pensamento viajante


Pensamento viajante - Gente de Opinião

Os pensamentos, enquanto processo mental, determinantes na linguagem oral e escrita,  são o maior progresso na evolução cerebral dos sapiens; os viajantes, então, partem de um porto qualquer e vão em busca de outros regaços, individuais ou coletivos, cruzando informações como se fossem respostas às buscas da percepção, somando legados e ampliando o conhecimento disponível no universo. Cada cabeça é um mundo!

Buda disse que o que somos é consequência do que pensamos. Nada mais sábio! Todavia nem todo pensamento, formador de nossa opinião, é nosso. Todas as invenções, todas as conquistas da ciência e da filosofia foram/são resultantes da interação de pensamentos viajantes. Dize-me com quem viajas que descrevo tua jornada.

O pensamento viajante nos atinge pelos meios de comunicação, pelo intercâmbio com o outro, com a família, a escola, a academia, a religião, pelos raios sensitivos do ensino, da leitura, da amizade, do amor, do sonho, da utopia. Contudo, em contraponto ao bem, pode aparecer camuflado pela inveja, vaidade, desamor, conquista, poder, ira, enfim por vários rótulos da maldade, exigindo de nós uma filtragem especial ou até mesmo o isolamento destes pensamentos viajantes perniciosos, no cantinho do esquecimento. Quer aparecer? Vai procurar tua turma ou modifica de opinião.

O pensamento viajante navega pelo tempo, sem pedir licença para ingressar no cérebro, onde se misturará aos pré-existentes, todavia ele é um dos ingredientes da escolha/vontade, presente  no ‘destino’ de cada um, às vezes ele pensa que é o protagonista da peça, no teatro da nossa existência, cabe a nós estabelecermos a ordem e a importância de cada pensamento viajante em nossa trajetória de vida, para não produzirmos aberrações mutantes. Entrou num cinema, numa escola, numa sinagoga e metralhou todo mundo!!!

O ideal seria escolhermos uma hora do dia para expulsarmos certos pensamentos viajantes depressivos − melhor fechar a cortina do teatro, antes da peça começar. Somos carentes de aplausos e de novidades, porém não devemos nos render à tentação viajante de experimentar o fim, driblando a morte, na expectativa do depois, simplesmente porque um pensamento andarilho nos acenou com a ideia mística do transcendentalismo e da imortalidade telúrica: minha vida será o centro do nexo.  Sai pra lá, bicho feio! 

O culto ao bom pensamento depende muito da vigilância constante. Pensamentos exclusivistas viajam por veredas, subterfúgios e subterrâneos dos relacionamentos, fazem um mal danado se forem absorvidos por grupos incautos. Podem ser parasitas e se instalam no cérebro, criando raízes e se alimentando do ódio, do poder, do desamor, do companheirismo doentio, gerando monstros sociais, contaminando o mundo com deformidades viajantes, fundadas em ‘verdades absurdas’. Hitler, Mussolini, Lenin, Stalin, Mao, Ho e tantos outros egocentristas, são exemplos de pensamentos viajantes exclusivistas.

Nada justifica o aumento desconcertante do desgosto mundial pela leitura. Num grupo de 40 membros de uma academia de letras, excluindo a atividade profissional, quantos leem regularmente? O abandono da leitura pode promover, na juventude, especificamente, uma substituição da palavra pela imagem, por um rótulo, um símbolo, como a suástica nazista ou a foice e o martelo comunistas, que mesmo mudos, gritam, mesmo sem serem acompanhados de páginas escritas, instigam a violência, daí os movimentos neonazistas e neocomunistas, a Ku Klux Klan e tantos outros. O conhecimento, via leitura, é a Ritalina do cérebro. Mário Quintana dizia que os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.

Pode parecer uma quimera, mas, pelo andar da carruagem, antevejo o nascimento de um novo mundo, dominado pela inteligência artificial, quando o místico e o mítico perderão sentido. Uma nova Odisseia se avizinha no horizonte da galáxia, sequenciando novos booms do milênio. As conquistas de um milênio a outro são aperitivos da História. Já passamos pelo primeiro, estamos no segundo, como será o terceiro? Coitados de Júlio Verne e Nostradamus se vivessem hoje.

Pensamentos viajantes atravessam o mundo, alimentando guerras, patrocinando genocídios, atos terroristas, divulgando o amor, renovando ou melhorando ideias, criando movimentos, religiões, seitas., etc. etc. Imaginem se todo este legado histórico for substituído por gestos mecânicos e mensagens virtuais projetadas no espaço vazio pela IA de hemisfério cerebral único, frio e sem emoções. Um novo caos para nova ordem? um novo esplendor? Os Registros estarão no desenrolar evolutivo do enciclopedismo. Quem lerá?

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