Quinta-feira, 10 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Crônica

Pobre camões; que tão mal o trataram


Humberto Pinho da Silva - Gente de Opinião
Humberto Pinho da Silva

Certa ocasião, Helena Sacadura Cabral, declarou ao: " Diário de Notícias": " Em Portugal há uma longa tradição de murmúrio. De inveja. De cobiça e de preguiça também. Os valores raramente são reconhecidos e os mais inteligentes constituem o repasto ideal para a calúnia."

Se no início deste século era assim, segundo a escritora, não foi muito diferente nos séculos passados.

Hoje todos homenageiam Camões, como o maior poeta da nossa língua portuguesa, que narrou, nos " Lusíadas", a extraordinária epopeia dos descobrimentos.

Mas, como o reconheceram no seu tempo? Como o trataram e admiraram-no?

Morreu pobre. A magra pensão que lhe concederam, era tão insignificante, que mal lhe dava para sobreviver.

Diogo Couto, em 1567, encontrou-o em Lisboa, " Tão pobre que comia de amigos.", que lhe davam a roupa que necessitava.

Conta Almeidas Garrett, pela boca do Telmo, no: " Frei Luís de Sousa": "Lá foi Luís de Camões num lençol para Sant'Ana. E ninguém mais falou nele”.

E mais adiante, à Maria: " Livro sim: aceitaram-no como tributo de um escravo. (...) Acabada a obra, deixaram-no morrer ao desamparo, sem lhes importar, com isso.... Quem sabe se folgaram? Podiam pedir-lhes uma esmola, escusavam de se incomodar a dizer que não."

E D. Francisco Manuel de Melo, no " Hospital das Letras", escreveu:

- " De nós todos se poderá queixar, porque sendo honra e gloria de Espanha, tão mal tornamos por ele, que, se não poucos o leem, são menos os que o entendem."

Certa ocasião ao folhear o meu diário, deparei com a triste noticia que o notável intelectual, Lopes de Oliveira, após ter oferecido a valiosa biblioteca à cidade de Fafe (mais de cinco mil volumes) foi convidado a residir nessa localidade.

Vive ou vivia, sozinho, cozinhando e dormindo em velha casa, infetada de ratos, receando que os roedores lhe devorem os livros. - "O Comércio do Porto", 14/12/90.

Apetece-me dizer como António Nobre: " Que desgraça nascer em Portugal" – "SÓ".

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 10 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Confissões de um ribeirinho

Confissões de um ribeirinho

O rio Madeira está muito cheio hoje. A régua de medição das enchentes está marcando quase 17 metros em Porto Velho. Essa marca é a cota de alagação,

A Estátua da Responsabilidade e o Poder Moderador

A Estátua da Responsabilidade e o Poder Moderador

Nos meus tempos de faculdade presencial, nos idos das décadas de 1960/1970, tínhamos, durante o ano letivo, praticamente 4 meses de férias – para nó

¨1 Anos - Nas trilhas do tempo

¨1 Anos - Nas trilhas do tempo

Hoje completo 61 anos. Não são apenas números, mas marcos de uma jornada que moldou quem sou. Se pudesse resumir essas seis décadas em uma palavra,

Os restos mortais de Eça; pertencem ao estado ou á família?  (Continuação)

Os restos mortais de Eça; pertencem ao estado ou á família? (Continuação)

Também Manuel Tavares Vieira, na: " Tribuna Pacense", de 27/X/2023, ao comentar a trasladação, afirma: " Não se percebe muito bem esta súbita vontad

Gente de Opinião Quinta-feira, 10 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)