Domingo, 30 de agosto de 2020 - 09h54
Não
sei desde quando, mas acredito que a política e o código penal já travam
relações estreitas há muitos e muitos anos, se não para aplicação da letra do
código, ao menos para mostrar à consciência mascarada, os erros do mandato. Eu
era menino, década de 1950, e já ouvia meu pai falar em casa, no sertão da
Bahia, repercutindo a voz do povo: esse prefeito é um ladrão, mas
durante minha infância, nunca vi um prefeito ser preso. A regra mudou,
dois mais dois já não é cinco, é quatro e meio.
Naquela
época só médico, enfermeiro, ladrão e justiceiro de gibi usavam máscaras,
conforme o local de trabalho de cada um, justiça seja feita, desde
aquela época que a maioria dos prefeitos devia usar máscara, hoje as máscaras
viralizaram devido ao medo do ceifador de cabeça de mamona, assim está mais
difícil saber a intenção do mascarado. Perdeu eleitor, passa o título,
você é burro ou ingênuo?
O povo não tem ciência da força que exerce sobre os
que de seus votos dependem, nem sequer sabe tirar proveito da situação, seja
através de pressões silenciosas, seja por meio de apelos ruidosos. Voto
consciente, voto ideológico, voto telha, cimento, tijolo, nada muda as
características dos pilantras mal intencionados, a não ser as possíveis
consequências, mas quem é que se preocupa com consequência, num país que tem indústria
de recursos e a justiça corre como jabuti, atendendo quatro instâncias, sendo
duas constitucionais e duas correndo por fora. Operação falso negativo
deu positivo, modus operandi – porrada − mas o ministro mandou soltar, a Covid
tá na área, cambio desligo, celular sujeito a hacker.
É mais
fácil atestar in loco se um prefeito é ladrão. Governador e presidente a gente
precisa repercutir os noticiários da TV. Prefeito e vereador estão mais
próximos dos munícipes, as obras são reguladas a conta-gotas. Ademais é costume
mandar fazer obra desnecessária e gigantesca, verdadeiro elefante branco,
plantado num sertão carente de tudo, ainda assim, pior que político mentindo na eleição é político mudo
no mandato.
Recentemente
ouvi do competente causídico Robson Oliveira, autor de uma resenha política,
publicada em importantes sites jornalísticos da capital, uma história que
retrata bem essa situação: Um prefeito, no carente e seco sertão de Pernambuco,
inaugurava uma ponte sobre pedras e areia, que levava o nada a lugar nenhum, e,
durante o discurso inflamado, dando conta da importância da obra, foi aparteado
por um cidadão, já chumbado, revoltado com os argumentos falaciosos: − Construir
uma ponte, qualquer ladrão constrói, quero ver fazer a água correr embaixo dela,
eheheheh.
A
gente sabe que furto ou roubo de político tem sinônimos sofisticados:
apropriação indébita, corrupção passiva e ativa, rachadinha, propina, comissão
por fora, caixa 2, peculato, mensalão, petrolão e agora covidão. Chato é
esperar pelo próximo apelido, sem poder de ação. Meu campo de batalha é a
rua, vou desfilar meus protestos enrolado na Bandeira Nacional.
Nem o
inferno atemoriza os pilantras de colarinho branco. Bastou afrouxar as regras,
por conta da presença mortal do corona, que eles apareceram em quase todos os
recantos, onde chegou o dinheiro federal, para auxiliar no combate à pandemia.
Os órgãos de controle que se virem para descobrir os malfeitores, aqueles que
trocaram a sua reputação por um punhado de covas, que venderam a sua alma por
respiradouros falsos ou superfaturados. Os aproveitadores estão em quase todos
os estados e municípios, chego a pensar que são tantos ou mais até, do que o
número de mortos por Covid-19.
Um
secretário de saúde estava sendo revistado por um federal: − Pode me
revistar, sou um homem honesto, nos meus bolsos o senhor não vai encontrar nada.
O malandro ao ver a cena pública, gritou de longe: − Tá de paletó novo,
hein secretário!?!
Reputação
é palavra estranha ao repertório político. Com raríssimas exceções, ao
assumirem um cargo público, já se acham em casa e usam verbas públicas, como se
fossem suas, essa é a regra, nos quatro cantos do país, em
quaisquer dos poderes da República. Isto precisa mudar. No
sertão, quando aparecia um cabra sério, arrotando honestidade, o público vibrava
com a demagogia e o populismo, respondendo com enxurrada de votos. Infelizmente
quando o tempo passava e as obras não apareciam, descobria-se que o cara não
era assim tão honesto, era mais do mesmo. Punir um demagogo com escassez de
votos, era/é difícil, ele falava/fala a língua que o povo gosta de ouvir.
Estamos chegando a mais um período
eleitoral, com a data da eleição, prorrogada para meados de novembro, desta vez
os candidatos poderão aparecer na TV, mascarados, confundindo ainda mais a
opinião pública, escondendo a cara de pau ou o nariz de Pinóquio. O discurso é
o mesmo: vou pavimentar as ruas, construir mais uma ponte, melhorar a educação
e a saúde et cetera e tal. Só não dirão que, no íntimo, o que querem mesmo é
estufar o bolso. Nem Freud poderia explicar o que já foi mote de campanha: rouba,
mas faz!!! Até o japonês da federal foi preso. Que país esse? É o Brasil aos
poucos entrando nos eixos, a qualidade do voto está mudando.
Não temos nada em nosso ordenamento jurídico
capaz de transformar intenções em compromissos sérios e documentados, isso
porque cumprir as promessas, geralmente eleitoreiras, feitas em campanha, não é
tarefa fácil e sempre dependerá de uma soma de fatores e não apenas do candidato eleito. A promessa é forma de
persuasão, nem sempre bem intencionada.
O que a gente queria era
mais seriedade no uso do palavreado do convencimento, para que o eleitor, ao
escolher, deixasse pitadas de desconfiança, atrás da orelha, e não se sentisse
feliz, como se gostasse de ser enganado. O que está acontecendo no Rio de
Janeiro não pode repercutir no resto do Brasil. Federal, procuradoria e
controladoria pra cima deles. Carreguem suas armas com votos de esperança. O
treinamento começa agora, em 2022 a briga vai ser mais feia. A honestidade depende de nós.
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