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Crônica

Promessas Mascaradas


Promessas Mascaradas - Gente de Opinião

Não sei desde quando, mas acredito que a política e o código penal já travam relações estreitas há muitos e muitos anos, se não para aplicação da letra do código, ao menos para mostrar à consciência mascarada, os erros do mandato. Eu era menino, década de 1950, e já ouvia meu pai falar em casa, no sertão da Bahia, repercutindo a voz do povo: esse prefeito é um ladrão, mas durante minha infância, nunca vi um prefeito ser preso. A regra mudou, dois mais dois já não é cinco, é quatro e meio.

Naquela época só médico, enfermeiro, ladrão e justiceiro de gibi usavam máscaras, conforme o local de trabalho de cada um, justiça seja feita, desde aquela época que a maioria dos prefeitos devia usar máscara, hoje as máscaras viralizaram devido ao medo do ceifador de cabeça de mamona, assim está mais difícil saber a intenção do mascarado. Perdeu eleitor, passa o título, você é burro ou ingênuo?

povo não tem ciência da força que exerce sobre os que de seus votos dependem, nem sequer sabe tirar proveito da situação, seja através de pressões silenciosas, seja por meio de apelos ruidosos. Voto consciente, voto ideológico, voto telha, cimento, tijolo, nada muda as características dos pilantras mal intencionados, a não ser as possíveis consequências, mas quem é que se preocupa com consequência, num país que tem indústria de recursos e a justiça corre como jabuti, atendendo quatro instâncias, sendo duas constitucionais e duas correndo por fora. Operação falso negativo deu positivo, modus operandi – porrada − mas o ministro mandou soltar, a Covid tá na área, cambio desligo, celular sujeito a hacker.   

É mais fácil atestar in loco se um prefeito é ladrão. Governador e presidente a gente precisa repercutir os noticiários da TV. Prefeito e vereador estão mais próximos dos munícipes, as obras são reguladas a conta-gotas. Ademais é costume mandar fazer obra desnecessária e gigantesca, verdadeiro elefante branco, plantado num sertão carente de tudo, ainda assim, pior que político mentindo na eleição é político mudo no mandato.

Recentemente ouvi do competente causídico Robson Oliveira, autor de uma resenha política, publicada em importantes sites jornalísticos da capital, uma história que retrata bem essa situação: Um prefeito, no carente e seco sertão de Pernambuco, inaugurava uma ponte sobre pedras e areia, que levava o nada a lugar nenhum, e, durante o discurso inflamado, dando conta da importância da obra, foi aparteado por um cidadão, já chumbado, revoltado com os argumentos falaciosos: − Construir uma ponte, qualquer ladrão constrói, quero ver fazer a água correr embaixo dela, eheheheh.

A gente sabe que furto ou roubo de político tem sinônimos sofisticados: apropriação indébita, corrupção passiva e ativa, rachadinha, propina, comissão por fora, caixa 2, peculato, mensalão, petrolão e agora covidão. Chato é esperar pelo próximo apelido, sem poder de ação. Meu campo de batalha é a rua, vou desfilar meus protestos enrolado na Bandeira Nacional.

Nem o inferno atemoriza os pilantras de colarinho branco. Bastou afrouxar as regras, por conta da presença mortal do corona, que eles apareceram em quase todos os recantos, onde chegou o dinheiro federal, para auxiliar no combate à pandemia. Os órgãos de controle que se virem para descobrir os malfeitores, aqueles que trocaram a sua reputação por um punhado de covas, que venderam a sua alma por respiradouros falsos ou superfaturados. Os aproveitadores estão em quase todos os estados e municípios, chego a pensar que são tantos ou mais até, do que o número de mortos por Covid-19.

Um secretário de saúde estava sendo revistado por um federal: − Pode me revistar, sou um homem honesto, nos meus bolsos o senhor não vai encontrar nada. O malandro ao ver a cena pública, gritou de longe: − Tá de paletó novo, hein secretário!?! 

Reputação é palavra estranha ao repertório político. Com raríssimas exceções, ao assumirem um cargo público, já se acham em casa e usam verbas públicas, como se fossem suas, essa é a regra, nos quatro cantos do país, em quaisquer dos poderes da República. Isto precisa mudar. No sertão, quando aparecia um cabra sério, arrotando honestidade, o público vibrava com a demagogia e o populismo, respondendo com enxurrada de votos. Infelizmente quando o tempo passava e as obras não apareciam, descobria-se que o cara não era assim tão honesto, era mais do mesmo. Punir um demagogo com escassez de votos, era/é difícil, ele falava/fala a língua que o povo gosta de ouvir.

Estamos chegando a mais um período eleitoral, com a data da eleição, prorrogada para meados de novembro, desta vez os candidatos poderão aparecer na TV, mascarados, confundindo ainda mais a opinião pública, escondendo a cara de pau ou o nariz de Pinóquio. O discurso é o mesmo: vou pavimentar as ruas, construir mais uma ponte, melhorar a educação e a saúde et cetera e tal. Só não dirão que, no íntimo, o que querem mesmo é estufar o bolso. Nem Freud poderia explicar o que já foi mote de campanha: rouba, mas faz!!! Até o japonês da federal foi preso. Que país esse? É o Brasil aos poucos entrando nos eixos, a qualidade do voto está mudando.

 

Não temos nada em nosso ordenamento jurídico capaz de transformar intenções em compromissos sérios e documentados, isso porque cumprir as promessas, geralmente eleitoreiras, feitas em campanha, não é tarefa fácil e sempre dependerá de uma soma de fatores e não apenas do candidato eleito. A promessa é forma de persuasão, nem sempre bem intencionada.

 

O que a gente queria era mais seriedade no uso do palavreado do convencimento, para que o eleitor, ao escolher, deixasse pitadas de desconfiança, atrás da orelha, e não se sentisse feliz, como se gostasse de ser enganado. O que está acontecendo no Rio de Janeiro não pode repercutir no resto do Brasil. Federal, procuradoria e controladoria pra cima deles. Carreguem suas armas com votos de esperança. O treinamento começa agora, em 2022 a briga vai ser mais feia. A honestidade depende de nós.

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