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Crônica

Shazam!


Ilustração: Viriato Moura - Gente de Opinião
Ilustração: Viriato Moura

Justiceiro é a alegoria da alma que mais alimentamos, como é bom se sentar em frente à TV e matar malfeitores. Escolher as armas, as vestes e os alvos é o sonho de todo mundo, os objetivos podem até ser sugeridos pelos ficcionistas, mas não substituem nossos alvos interiores. Por muitos anos alimentei o sonho de matar Caifás, a punhaladas, feito o cearense que foi levado à delegacia por estar esmurrando um judeu, gerando um esdrúxulo diálogo: – por que você estava batendo neste homem? –  Porque ele é judeu, ora bolas, foi ele que matou Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas isso foi há mais de dois mil anos. – Pois é, mas eu só vim a saber disso, ontem.

 

 Vivemos sob o império da vaidade, ela é nossa velha companheira, tão antiga quanto a civilização, humana, demasiadamente humana. Em doses corretas, é bem-vinda para a autoestima, para termos cuidados com a saúde física, a aparência e o sentir-se bem. Mas, ao longo dos anos a vaidade vem sendo estimulada, a partir da infância, com estímulos variados, no entanto o culto aos super-heróis aparece com mais vigor, como se cada criança fosse o super-herói de si mesma. Eeuu teeenhooo  aaa fooorçaaa!!!

 

Pode até ser ruim, para os estudiosos da personalidade humana, mas, como não temos polígrafos, sair por aí com o laço da verdade da Mulher Maravilha, seria sensacional, ajudaríamos a lava-jato e separaríamos o joio do trigo, nas delações premiadas. A verdade é a mais prostituta das palavras, a safada não tem limites, no exercício do disfarce e na enganação do próximo. No meio político, anda de mãos dadas com a mentira. Duas jovens, belas, em que só se diferenciam na expressão do olhar: a verdade dos olhos não engana. Pena que os juízes só enxergam o processo, doutor, olha nos olhos deles, ele e o advogado estão mentindo…

 

Nem Machado, com toda a sua competência para criar instantes dúbios, na literatura, conseguiu modificar os olhos dissimulados e oblíquos de Capitu. Matar o lobo está na vontade de toda criança, amiga de Chapeuzinho Vermelho. O mundo evoluiu, mas associar a morte aos nossos punhos justiceiros, ainda é um desejo forte. Às vezes você tem vontade de esmurrar a cara de um sujeito, mas se lembra que ele está do outro lado da telinha mágica. Esmurrar eu até esmurro, usando um saco de treinamento de boxe. Você esmurra e diz o nome do sujeito, várias vezes, é uma terapia sem igual. Já pensei em decapitar Herodes, apunhalar Caifás e queimar as mãos de Pilatos, com água fervente, mas só os encontros na Semana Santa, cercado de Judas, e fico com vergonha, encucado com os pedidos e as chagas do Cristo.     

 

Matar o leão que nasceu erroneamente em nosso interior é um remédio amargo, bom mesmo seria sair eliminando a raposada que nos governa, nos três poderes: se os espremermos na máquina dos sucos das boas intenções, não conseguiríamos meio copo. O verniz civilizatório que atende pelo nome de exploração do homem pelo homem, não resistiria ao rugido selvagem do Rei Leão, querendo botar ordem na casa. GRRRRRRR!!!

 

A vaidade doentia é uma espécie de concupiscência, que vai além do enfrentamento com as forças do corpo, exigindo o adjutório do espírito. Ela tem muitas vozes e muitas faces, é contagiante, prepotente, às vezes representa o coletivo e atende pelos nomes de Faraó, César, Hitler, ou se transforma em um vilão qualquer, ao longo dos séculos, esperando um super-herói ou o grito fantástico de Shazam, oriundo das entranhas. Todas as guerras, todas as brigas, geralmente começam com o exercício da vaidade doentia, da obsessão. Hei Hitler!!!  Você escapou dos Vingadores, se eles estivessem no passado a 2ª Guerra nem teria começado.

 

         A voz da carteirada narcisista de quem deveria servir à justiça, mas usa a espada da arrogância, pra intimidar humildes servidores, como fez o tal desembargador paulista, última atração da imprensa marrom, merece uma porrada emudecedora. Você sabe com quem está falando? Parlez-vous français? É muita cara de pau! Ele sim merecia um grito de Shazam, com direito a algemas e cela comum coletiva, na prisão de Alcatraz, com direito a um quadro da Torre Eiffel, pendurado na parede, um pouco acima do vaso sanitário, onde lavaria a boca suja. 

        

         Por ser vício do entendimento e não da vontade, a vaidade depende do discurso pra se mostrar. Essa é a razão porque a mais forte e a mais vã de todas as vaidades é a que resulta do saber. A douta ignorância de Sócrates constitui um exemplo de solução: eu só sei que nada sei, mas os demais que nada sabiam lhe administraram uma dose de cicuta. Que tal envenenar o complexo de dono da verdade. Vou incorporar o super-homem e sair por aí esmurrando o passado, começando pela Grécia. Os cretinos, Calígula e Nero, não me escaparão, morrerão na mesma fogueira das loucas assassinadas pela inquisição.

 

         Te cuida, violãozinho de terceira, os Vingadores estão por aí e eu estou exercitando o meu grito de Shazam, antes, porém, vou tomar minha dose diária de Ivermectina, pra acabar com os vermes de Brasília e pedir ao Popeye uma das suas latas de espinafre. Pum!

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