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Crônica

Socorro! O trenó encolheu?


Socorro! O trenó encolheu? - Gente de Opinião

Embora o cristianismo ainda seja a maior religião do mundo, houve um declínio do cristianismo na América do Norte e na Europa Ocidental, classificada hoje como pós-cristã. Ao longo do último século, os estudiosos perceberam um deslocamento acentuado do cristianismo, do norte para o sul do planeta, com um crescimento dramático das populações cristãs na África e no Leste Asiático, concorrendo com o avanço do Islamismo. O principal questionamento que se faz hoje é: o cristianismo está encolhendo ou se deslocando? as duas coisas.

A partir de 2018, a África tornou-se o continente com o maior número de cristãos, superando a América Latina (que havia superado a Europa em 2014). A reflexão nos remete à história de sucesso do cristianismo na África, considerando que a estatística esconde o fato de que os cristãos na África, principalmente os da República Democrática do Congo, que, de 1900 a 2020, pularam de 1% para 95%, vivem em situação de miséria, com baixíssimo acesso a médicos e à água potável, com IDH insignificante e alto índice de mortalidade infantil. Não olhem pra cima, a exploração do natalismo diminuiu os presentes materiais, na proporção em que aumentou a esperança quimérica dos necessitados.

Nos países miseráveis da África e da Asia, ocorre um crescimento do cristianismo, enquanto na América do Norte e na Europa percebe-se uma diminuição na membresia das igrejas cristãs, como se os textos bíblicos, tenham se adaptado mais às populações carentes do que às abastadas: é significativo o nascimento do filho de Deus numa manjedoura, enquanto a sua frase mais festejada − é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céusdobra a esperança do pobre ter o céu como morada, pós vida miserável, aqui na terra, bastando para tanto aceitar Jesus como seu salvador. Olhem pra cima, mas não se iludam.

Nos últimos 120 anos, houve muito pouca variação na porcentagem do mundo cristão, mas, na África, esse número pulou de um dígito para 49%. Vale lembrar que em 1900, 82% de todos os cristãos viviam na Europa e na América do Norte; em 2020, esse número caiu drasticamente para 33%. Na Ásia, apesar da grande diversidade religiosa do gigantesco continente, o cristianismo cresceu de 2% em 1900 para 8% em 2020.

Outra característica interessante, além do fato de ser uma religião para carentes materiais, o cristianismo é visto no mundo, como uma religião branca. Trata-se de uma percepção razoável, pois tem sido assim em mais de mil anos: o cristianismo exportado para todo o mundo, durante séculos, envolveu predominância da raça branca, história ocidental, teologia e treinamento ocidentais. No entanto, apesar dessa percepção tradicional, com o desenrolar do tempo, o cristianismo se tornou uma religião majoritariamente não branca, espalhada nos 5 continentes, confortando os mais pobres, aumentando as igrejas da prosperidade e falando diversas línguas, inclusive o russo por causa dos cristãos ortodoxos. Olhem pra cima, o trenó está chegando e poderá destruir a Terra. Não haverá presentes suficientes para sufocar a miséria.

É fato que a Europa tem se tornado menos cristã nos últimos 120 anos, embora seja amplamente conhecido que a maioria dos cristãos formalmente filiados a igrejas, na Europa, não são participantes ou praticantes ativos. A América do Norte também experimentou um declínio, mas é o continente onde está o país com o maior número de cristãos, os Estados Unidos. O declínio do cristianismo branco nos EUA foi de alguma forma compensado pelo aumento de cristãos imigrantes, em sua maioria da América Latina.

O caso mais significativo de encolhimento do cristianismo é a região Norte da África-Ásia Ocidental, que inclui Iraque, Síria, Israel, Palestina e Turquia. Essa região esteve sob enorme pressão muçulmana, nos séculos 20 e 21, testemunhando uma queda vertiginosa em sua população cristã, de 12,7% para 4,2% em 2020. A Turquia, em particular, era 22% cristã, até 1900. Com o avanço dos muçulmanos, os cristãos turcos, hoje, são 0,2%.

O cristianismo, enquanto reduto dos ensinamentos igualitários judaico-cristãos se subdividiu em diversas vertentes, mas não superou a crise de desigualdade entre os cristãos do Norte e os do Sul: católicos, ortodoxos, protestantes e independentes, todos seguindo a tradição cristã central; alguns são evangélicos, pentecostais ou carismáticos, ou uma combinação destes. Além disso, é provável que existam cerca de 45 mil outras denominações! A família cristã global composta por 2,5 bilhões de pessoas, com cristãos presentes em quase todos os países do mundo, não é homogênea, é uma assembleia diversa, em que todos estão conectados uns aos outros pela fé, representando milhares de povos e línguas, em busca de uma pseudo salvação.

Enquanto isso o Islamismo avança, e hoje é a religião que mais cresce no planeta. Até o final deste século, se o ritmo de crescimento se mantiver, os muçulmanos irão superar os cristãos, como o maior grupo religioso da Terra.

Atualmente o mundo conta com 1,6 bilhão de pessoas que se designam muçulmanas. A maioria dos muçulmanos (62%) está na região Ásia-Pacífico. O maior país muçulmano é a Indonésia. Em 2050, o país com a maior comunidade islâmica do mundo será a Índia. No entanto a expectativa é a de que o islamismo se torne a segunda maior religião dos EUA, representando 2,1% da população do país. Já na Europa, a projeção da análise para esse mesmo ano estima que 10% da população da Europa se identificará como muçulmana.

Os componentes da fé, alheios às denominações religiosas, cada vez mais se apresentam como inerentes, resultado da evolução humana, frutos da necessidade de se ter uma morada, para os devaneios compensadores do pós mortem. Assim caminha a humanidade sob os desígnios de gigantes do humanismo, como Buda, Maomé, Jesus homem e tantos outros testificadores renascentistas do antropocentrismo.

Tomara que a evolução nos traga a síntese dos ensinamentos de todos os humanistas e sirva para nortear a humanidade, no rumo da paz, da justiça social, e do amor. Nem pra cima, nem pra baixo, liguem o GPS da racionalidade: a pandemia encolheu o trenó de Papai Noel, a igreja perdeu a hegemonia, mas o homem ainda não aprendeu a se enxergar no outro.

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