Domingo, 20 de dezembro de 2020 - 10h04
Sempre
que estudo a História do Brasil, admiro o último Imperador, reinante, o D.
Pedro II, pela competência e sapiência, como orientou o destino da nação,
granjeando a estima do povo simples, e a consideração dos republicanos
honestos.
Ao
pensarem depô-lo os conjurados, preocuparam-se em o proteger, ponderando: que
foi insigne estadista, acarinhado – como sua filha Isabel (espera-se que venha
a ser beatificada,) – pela gente simples, mormente, pelos pobres e
desprotegidos.
Quando
esboçavam os detalhes da revolução, na casa do Dr. Benjamim Constant, este,
opinou o dever de assegurar, ao Imperador: “ Todas as garantias e
considerações, porque é nosso político, muito digno.”
O
próprio
Chefe de Estado, o Marechal Deodoro, ao comunicar-lhe a decisão do governo
provisório, de o depor, emprega, ao longo do documento, termos amenos e
respeitosos.
Mensagem,
entregue, em mão, pelo futuro sogro de Euclides da Cunha, o Major Frederico
Sólon de Sampaio Ribeiro, ao Imperador.
Após
cortês preambulo, escreveu:
“
(…) Somos forçados a notificar-vos, que o governo provisório, espera do
vosso patriotismo, o sacrifício de deixardes o território brasileiro, com vossa
família, o mais breve tempo possível (…). O transporte vosso e dos vossos, para
porto de Europa, correrá por conta do Estado, proporcionando-vos para isso, o
governo provisório, um navio com guarnição militar precisa, efetuando-se o
embarque com a maior absoluta segurança de vossa pessoa e de toda a vossa
família.”
Para
despesas e hospedagem, ofereceram-lhe cinco mil contos.
Porém,
de madrugada, o Tenente-Coronel João Nepomuceno de Medeiros Mallet, foi
incumbido de avisar, D. Pedro II, que deveria embarcar, imediatamente,
invocando motivo de segurança.
Era
uma noite chuvosa, cerrada, escura como breu. O Imperador, indignado pela
inesperada mudança da hora de embarque, não se conteve, e alterando a voz,
vociferou:
-”
Não embarco, a essa hora, como negro fugido! …”
Mas,
embarcou… Ao chegar a São Vicente (Cabo Verde,) receoso de ser acusado, pela
mass-media, que se vendera, recusou o generoso auxílio de cinco mil contos;
atitude considerada: afronta.
Em
Lisboa, ofereceram-lhe magnifico palácio, para se hospedar. Recusou. Foi para o
hotel Bragança.
Depois…rezou,
ao ver o túmulo do pai; depositou coroa de flores, junto aos restos mortais do
amigo, Alexandre Herculano; visita Camilo Castelo Branco, e encaminha-se para a
cidade do Porto, onde a Imperatriz faleceu, na rua de Santa Catarina, no Hotel
do Porto.
Antes
de expirar num tom doloroso, quase estertorante a Imperatriz disse:
-
“Os Brasil… minha terra, tão linda… e não me deixam voltar! …”
Doente,
coberto de imensos desgostos, consternado, parte para Paris, vindo a falecer a
5 de Dezembro de 1891
Como
se trata de figura de elevada cultura, acarinhada por intelectuais de todo
mundo, o Governo Francês, realizou funeral de Chefe de Estado.
O
Presidente Epitácio Pessoa, em 1920, revogou o decreto do banimento, à Família
Imperial.
O
banimento, há muito desejado, pelo povo. Mas, já fui muito tarde…
demasiadamente tarde…
Termino,
trasladando, excerto do “retrato” de D. Pedro II, feito, em 1889, pelo Visconde
de Ouro Preto:
“Quais
as faltas, ou os crimes do Sr. D. Pedro II, que em quase 50 anos de reinado
nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou duma ingratidão, nunca vingou uma
injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar – que aboliu de facto a
pena de morte e promoveu por todos os meios ao seu alcance, o interesse, o
progresso e a grandeza da Pátria a cujo serviço sacrificou o repouso e a saúde?
“Quais
os males causados pelo príncipe que despendia em obras beneficentes ou de
utilidade pública a maior parte do que o Estado lhe oferecia para o fausto da
sua posição?
“
Que grandes erros praticou que o tornassem merecedor de deposição e do exílio,
quando, velho e enfermo, devia contar com o respeito e a veneração dos seus
concidadãos?
“
Pois trata-se como a um déspota, ou um tirano, o Chefe de Estado que soube
impor-se ao respeito e à admiração de todas as nações civilizadas, de modo que
não se sabe dizer se mais simpatias inspira às monarquias da Europa, se aos
Estados – Unidos, onde deixou um nome popular, ou ao Chile, que o escolheu para
árbitro nas suas questões mais complicadas, ou à república Argentina, à
Oriental e à do Paraguai, para cuja liberdade direta e poderosamente
contribuiu?!”
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