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Crônica

Viver com Paixão


Viver com Paixão - Gente de Opinião

Sem sombra de dúvida que o berço da sabedoria ocidental foi a Grécia, ali nasceu a filosofia, as primeiras manifestações da política, a democracia e todas as dimensões do amor, do ódio e da paixão, se é que é possível medir os sentimentos dentro de um ser humano, contudo as incursões ao interior humano começaram com a máxima socrática “conhece-te a ti mesmo”. Os gregos mediram a paixão, o amor e o ódio através da ficção, da literatura. Quem já leu o livro ou assistiu ao filme sobre a guerra de Tróia sabe bem com que pesos e com que medidas os gregos mediam os sentimentos. O amor, o ódio e a paixão, como derivativo de ambos, transbordam das páginas de Homero.

Modernamente se diz que as paixões humanas são três: a do amor, a do ódio e a da ignorância, interferindo no agir humano. Entretanto todos os estudos modernos derivam dos gregos. Foi Homero quem primeiro, e magistralmente, trabalhou a condição humana, mostrando os dilemas mortais, as interferências de instâncias superiores e suas consequências, personificadas nos deuses que tomam partido. Além do amor, do ódio e da paixão, a amizade, a honra e muitos outros temas abstratos também fazem parte da Ilíada, compondo um belo painel da alma humana, o que é, sem dúvida, uma das qualidades que têm determinado a longevidade da narrativa homérica na cultura universal, todavia foi a “ética grega” que permitiu aos seres humanos, enquanto detentores da capacidade de pensar, viverem plenamente, não obstante a possibilidade de caos e de desmoronamento da sociedade.

Com os gregos o homem aprendeu que um mal pequeno é um grande bem. Sabedoria era saber identificar e corrigir os próprios erros, assim como os erros da sociedade. Para o estoicismo, os indivíduos deveriam evitar as paixões, pois elas só provocam sofrimento. Os estoicos diziam que a virtude do sábio é viver de acordo com sua razão, sua natureza, e aceitar passivamente o destino e a dor.

Só não me perguntem porque os gregos não escreviam obituários. A mim me parece que eles, àquela altura da evolução humana, não compreendiam a morte. E quem a compreende, ainda hoje? Quando uma pessoa morria, os sábios faziam uma pergunta aos membros do cortejo fúnebre, ou aos familiares: “Ele viveu com paixão?” O que será viver com paixão? Segundo Aristóteles, o caminho para a felicidade consiste no desenvolvimento das virtudes intelectuais.

Viver com paixão seria viver com intensidade, não passar a vida na defensiva, lembrando que as pessoas não estão contra você, mas a favor delas? Seria perseguir os sonhos, sabendo que os nossos feitos são construídos primeiro na imaginação? Seria estabelecer metas a serem conquistadas, como se cada estágio da vida, independentemente de vitória ou derrota, fosse um constante recomeço, o fim e o início de uma era?

Para Charles Chaplin “bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e viver com ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se atreve, e a vida é muito bela para ser insignificante”. Hegel apostava na paixão: nada existe de grandioso sem paixão, como se dissesse: a paixão é o extremo dos sentimentos.

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