Terça-feira, 3 de maio de 2022 - 11h05
Sem sombra de dúvida que o berço
da sabedoria ocidental foi a Grécia, ali nasceu a filosofia, as primeiras
manifestações da política, a democracia e todas as dimensões do amor, do ódio e
da paixão, se é que é possível medir os sentimentos dentro de um ser humano,
contudo as incursões ao interior humano começaram com a máxima socrática
“conhece-te a ti mesmo”. Os gregos mediram a paixão, o amor e o ódio através da
ficção, da literatura. Quem já leu o livro ou assistiu ao filme sobre a guerra
de Tróia sabe bem com que pesos e com que medidas os gregos mediam os
sentimentos. O amor, o ódio e a paixão, como derivativo de ambos, transbordam
das páginas de Homero.
Modernamente se diz que as paixões
humanas são três: a do amor, a do ódio e a da ignorância, interferindo no agir
humano. Entretanto todos os estudos modernos derivam dos gregos. Foi Homero
quem primeiro, e magistralmente, trabalhou a
condição humana, mostrando os dilemas mortais, as interferências de instâncias
superiores e suas consequências, personificadas nos deuses que tomam partido. Além
do amor, do ódio e da paixão, a amizade, a honra e muitos outros temas
abstratos também fazem parte da Ilíada, compondo um belo painel da alma humana,
o que é, sem dúvida, uma das qualidades que têm determinado a longevidade da
narrativa homérica na cultura universal, todavia foi a “ética grega” que
permitiu aos seres humanos, enquanto detentores da capacidade de pensar,
viverem plenamente, não obstante a possibilidade de caos e de desmoronamento da
sociedade.
Com os gregos o homem aprendeu
que um mal pequeno é um grande bem. Sabedoria era saber identificar e corrigir
os próprios erros, assim como os erros da sociedade. Para o estoicismo, os indivíduos deveriam evitar as
paixões, pois elas só provocam sofrimento. Os estoicos diziam que a virtude do sábio é viver de acordo com
sua razão, sua natureza, e aceitar passivamente o destino e a dor.
Só não me perguntem porque os
gregos não escreviam obituários. A mim me parece que eles, àquela altura da
evolução humana, não compreendiam a morte. E quem a compreende, ainda hoje? Quando
uma pessoa morria, os sábios faziam uma pergunta aos membros do cortejo
fúnebre, ou aos familiares: “Ele viveu com paixão?” O que será viver com
paixão? Segundo Aristóteles, o caminho para a felicidade consiste no desenvolvimento das virtudes
intelectuais.
Viver com paixão seria viver
com intensidade, não passar a vida na defensiva, lembrando que as pessoas não
estão contra você, mas a favor delas? Seria perseguir os sonhos, sabendo que os
nossos feitos são construídos primeiro na imaginação? Seria estabelecer metas a
serem conquistadas, como se cada estágio da vida, independentemente de vitória
ou derrota, fosse um constante recomeço, o fim e o início de uma era?
Para Charles Chaplin “bom
mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder
com classe e viver com ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se atreve, e a
vida é muito bela para ser insignificante”. Hegel apostava na
paixão: nada existe de grandioso sem paixão, como se dissesse: a
paixão é o extremo dos sentimentos.
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