Sexta-feira, 17 de julho de 2020 - 10h29
Vermelho é a puta que te
pariu, eu sou azul, marinho, claro, escuro, médio, azul. Vermelho é o pai da
rosa, não, do rosa! Vermelho é carmim, bordeaux, vermelho é sangue, grená,
comunista! Vermelho e preto, misturados, vira roxo, mata minorias, se se une ao
preto, meeengôoo, vivacor, viva a cor, viva o sabor de perder o campeonato,
viva a dor de vencer. Liverpool! Em dia de jogo, xadrez é bicolor!
Viva
você. Você é preto, preto não é cor, é conjunto, é minoria. Não sou preto, sou
pardo, pardo não é cor, sou marrom, marrom dá azar, sou cinza, moreno, moreno
não é cor. O que seria da cor se todos gostassem do visual incolor? Como com os
olhos a fruta fresca amarela. Morango é stalinista. Eu acredito no branco, o
branco acredita em mim, as crenças compartilhadas tem mais chances, num mundo
desigual.
Amarelo
é chinês, sou japonês, amarelo é sem tinta, fraco, sezão, amarelão, febril, Sucam,
sou verde malárico, mas não sou casado, amarelo ouro quer se casar, verde não,
floresta é solteira, amasiada com o vento e o clima, verde amarelo de meu
Brasil varonil, camisa preta é fascista. Toda cor tem um pouco de preto, foi na
África que tudo começou. Amarelo chinês amarela o conservadorismo direitista,
esverdeado. Mao é mau, Tsé não é, Tung será.
Branco
não tem cor, branquelo, pálido, sem cor, sem sangue, sem sentimento, sem
parceiro, não o reconheço, sou preto USA, véi. De que vale ser preto sem
branco, preto no branco, branco no preto. Xadrez! El Chapo joga xadrez no
xadrez, cheque mate tiossantista. Branco manda, preto obedece ou não. O caos
não sobrevive sozinho.
Xadrez
é quadrado, preto e branco e vice-versa, no xadrez tem mais preto porque é África.
Se fosse na China teria mais amarelo, na Noruega, mais branco, xadrez é jogo de
cor, jogo de poder, as brancas sempre começam, a rainha mata o rei, o peão dá
cheque mate, peão anda em bando, pra frente, não retrocede, bispo, na diagonal, manda tanto quanto um cavalo em
ele. A inércia da torre vai longe, enxerga os horizontes. No xadrez das cores o
patrão branco leva vantagem. Mate é chá, verde e preto, quem tem medo de vírus
não compactua a bomba alheia. Quem solta bomba vai jogar xadrez na prisão,
quiçá apareça um mate pra matar a saudade do lado de fora. Preto por dentro é
igual, vermelho. A igualdade é má, todos nascemos maus, permanecemos maus e ao
morrermos somos promovidos: - ele era tão bom!
Negro
não importa na justiça mundial, black lives matter, talvez na Somália. Justiça
é branquela, diz que não tem cor, mas avermelha, azula, amarela, empretece,
esverdeia a capa dos códigos. Briguei enciumado ao te vê vestindo xadrez, fui
parar no xilindró. O sol é quadrado no chão da cela metonímica do xadrez.
Xadrez
em cores não discrimina, decora. Vários quadrados coloridos, postos no
horizonte, expõem a existência. O tabuleiro da vida é polissêmico, lúdico,
colorido e sujo, o jogo é jogado, a escolha é escolhida, a vida é vivida, na
ordem do caos o ponto negro interfere no todo branco, sem vice-versa. Lutamos
pela coerência que produz a paz, na incerteza.
O
xadrez nunca será colorido com vidas humanas amontoadas numa cela.
O humano não tem cor, tem sentimentos, mas originariamente é mau, precisa ser
domado. Então, poderá aceitar o terrível fardo
preconceituoso do mundo e encontrar a cor da alegria, a cor do jogo. Sendo
assim, eu jogo, querendo menos, mas esperando mais.
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