Sábado, 29 de fevereiro de 2020 - 11h23
Afazeres
profissionais, levaram-me à cidade de Aveiro. Terra de moliceiros e ovos-moles.
Fui
de comboio, que ia repleto de passageiros e malas. Levava comigo pequeno saco
de viagem, com muda de roupa e objectos de higiene.
Diante
de mim, senhora, já idosa, de cabelos aloirados, sentou-se junto da janela. Na
mão trazia subscrito e papéis dobrados em quatro
Deu-me
os bons dias, num português macarrónico, de timbre italiano. Rapidamente soube,
que era de origem alemã, mas conhecia um pouco de italiano.
Para
manter conversa, perguntou-me se era italiano ou espanhol, como lhe
responde-se: que era português, mostrou expressão de espanto:
-
Mesmo português?! …
-
Sim: português do Porto. Nascido e criado nessa cidade…
-
Não parece! … Há tão poucos! … – Disse-me, atónita, em italiano pouco inteligível.
Esse
encontro e conversa comboiana, fez-me recordar: realmente é difícil ouvir falar
português, na baixa portuense. Na Rua de Santa Catarina, o pouco português, que
se pode escutar, quase sempre, tem sotaque carioca.
Certa
ocasião, ao ler crónica, numa publicação lisboeta, o autor comentava que fora
ao Bairro-Alto, e pensara, que ele é que era o turista; só ouvia palavras
estrangeiras! …
Recomendava
o cronista, que o Departamento de Turismo, colocasse nas ruas dos bairros
típicos portugueses, para os turistas poderem escutar o linguarejar lisboeta…
O
turismo é vantajoso, para o nosso País: traz-nos preciosas divisas. Mas, o
excesso, incomoda…
Todos
ficamos satisfeitos que nos venham visitar, e fiquem encantados com a hospitalidade
(já no séc. XVIII, José Gorani, dizia: “ os portugueses eram gentis e
hospitaleiros” - “Portugal”, Editorial Àtica, 1955)
É
bom para o comércio e hotelaria. Os nossos preços, em regra, são baixos,
comparados com os da Europa; portanto favorece o turismo. Além de criar
emprego, na maioria temporário.
Mas,
que os portugueses considerem-se estrangeiros, na sua própria terra, parece-me
demais! …
A
senhora, que viajou, comigo, para Aveiro, admirou-se que fosse português!
-
“ É tão raro encontrar um, em certas ruas e certos restaurantes! …”
Serão
poucos?; ou as pensões e os vencimentos, não permitem que frequentem certas
ruas e certos restaurantes?
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Formei-me em 1958 em Direito na FDUSP e desde o início da década de 60,quando cinco dos atuais Ministros ainda não tinham nascido, atuo perante a Su