Sexta-feira, 11 de novembro de 2022 - 09h10
A emergência climática que assola o planeta, tem
nome e sobrenome dos maiores responsáveis por esta tragédia anunciada. São as
emissões dos gases de efeito estufa (GEE’s) produzidas em sua grande maioria
pelas atividades da indústria dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e
gás), que chegam a produzir em toda a cadeia produtiva, desde a prospecção,
extração, transporte, conversão e uso final, em torno de ¾ de todas as
emissões.
A indústria petrolífera e suas ramificações, dentre
os combustíveis fósseis, é aquela que está levando o planeta e toda sua
biodiversidade, incluindo os seres humanos, para uma catástrofe sem
precedentes.
Reproduzindo as palavras do secretário Geral das
Organizações das Nações Unidas (ONU), diante do novo relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicando que as emissões
de 2010-2019 foram as mais altas na história da humanidade, afirmou “esta é
prova de que o mundo está em um caminho rápido para o desastre, que pode tornar
o planeta inabitável. Isso não é ficção ou exagero. É o que a ciência nos
diz que resultará de nossas atuais políticas energéticas. Estamos no caminho
para o aquecimento global de mais que o dobro do limite de 1,5 grau Celsius que
foi acordado em Paris em 2015".
Diante desta superlativa responsabilidade como
maiores causadores global das mudanças climáticas, principalmente as empresas
petrolíferas; pesquisadores da Universidade do Tohuku(1), no Japão,
analisaram os anos de 2009 a 2020, os discursos e compromissos relacionados à
transição para energia “limpa” de quatro grandes corporações, responsáveis por
mais de 10% das emissões de carbono em todo o mundo: British Petroleum (BP),
Chevron, ExxonMobil e Shell. Os pesquisadores concluíram que nenhuma destas
empresas está atualmente fazendo a transição de combustíveis fósseis para as
fontes renováveis, e que os discursos não se alinham com suas ações e
investimentos realizados.
Portanto, o papel destas empresas, concernente às
responsabilidades de poluir o planeta, tem sido lastimável, e contrário aos
propósitos das Conferências do Clima (COP´s). Com representação crescente a
cada ano nestas conferências, estes lobistas criam dificuldades, influenciam
decisões, agem para adiar o necessário banimento dos combustíveis fósseis; e
que de forma alguma, deveria ser permitido estarem presentes em tais eventos.
Uma destas empresas, a britânica BP, esteve
recentemente arrolada em um episódio, com repercussão nacional, que mostra bem
o ideário de seus mandatários, que se acham acima da lei. E que acabam
confundindo liberdade de expressão, com liberdade de agressão.
O chefão, ‘il capo’, chamado pela empresa de ‘Head
of Country’, Adriano Bastos, segundo a coluna da jornalista Mônica Bergano, da
Folha de S. Paulo, agrediu verbalmente a juíza federal baiana Clara da Mota
Santos Pimenta Alves, auxiliar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Edson Fachin. O caso teria ocorrido na sexta-feira (4/11), no interior de uma
pizzaria de Cuiabá. Segundo boletim de ocorrência registrado pela magistrada, o
executivo da BP teria se aproximado e dado início às agressões verbais
xenófobas relacionadas à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atribuindo
ao Estado da Bahia sua conquista. Um estado que ‘não produz nada’ e ‘não possui
PIB’, afirmou. Além de bravejar, que o eleitorado do petista é formado por
‘assistidos’, e de ‘funcionários públicos’ que ‘não trabalham, não fazem nada’;
pôs em dúvida (sem provas) a lisura do processo eleitoral.
Esta empresa multinacional, atua no Brasil na
produção de lubrificantes (Castrol), biocombustíveis e bioenergia (por meio da
joint-venture BP-Bunge Bioenergia), energia solar (por meio da joint-venture
Lightsource BP), exploração e produção de petróleo e gás natural (upstream),
distribuição de combustíveis de aviação (Air BP) e marítimo (BP Marine/NFX), e
comercialização de energia (BP Comercializadora de Energia). É conhecida também
como a causadora de um dos piores desastres ambientais da história dos Estados
Unidos com a explosão da plataforma Deepwater Horizon. O vazamento de petróleo
no Golfo do México em 2010 atingiu os Estados da Flórida, Alabama, Mississippi,
Louisiana e Texas. A mancha de petróleo que encobriu aves marinhas, danificou
praias e provocou enormes perdas para as indústrias de pesca e turismo.
Assim, como historicamente os países desenvolvidos
têm a maior responsabilidade pelas emissões que levam ao aumento da temperatura
global, as empresas petrolíferas têm responsabilidades pelos danos ocasionados
pelas mudanças climáticas em curso. Entre 1751 e 2017, os Estados Unidos, a
União Europeia e o Reino Unido foram responsáveis por 47% das emissões
cumulativas de dióxido de carbono, em comparação com apenas 6% dos continentes
africano e sul-americano.
É neste contexto que a fala de um alto dirigente de
uma companhia petrolífera multinacional, que tem passivos ambientais e conduta
ética e moral questionável, teve a devida repercussão. Ao questionar o
resultado das eleições presidenciais e a soberania popular, que a partir do
voto deu majoritariamente a vitória incontestável ao candidato Lula, a fala preconceituosa
e xenófoba merece toda nossa indignação, nossa repulsa. A cidadania exige que
sejam tomadas as devidas providências no sentido de responsabilizar, e impedir
que este tipo de posicionamento fique impune.
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