Segunda-feira, 8 de agosto de 2022 - 19h43
O Brasil é o segundo país com
a maior cobertura vegetal do mundo (o primeiro é a Rússia), e está entre os
cinco países que mais emitem gases de efeito estufa. O desmatamento está
reduzindo de forma significativa a cobertura vegetal em todos os biomas do
território nacional, o que acentua o risco de eventos climáticos extremos.
Estima-se em torno de 20 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa
desmatada por ano, em consequência de derrubadas e incêndios, na grande maioria
ilegais. O que torna o desmatamento no país a principal causa das emissões de
gases de efeito estufa.
O desmatamento ocorre
principalmente na agropecuária. Contudo, a construção de estradas,
hidrelétricas, mineração, produção de energia, e o processo intensivo de
urbanização, têm contribuído significativamente para a redução das matas. Esse
processo acarreta vários fatores negativos ao meio ambiente (e as pessoas,
certamente), entre eles se destacam: emissão de gás carbônico na atmosfera,
alterações climáticas, perda da biodiversidade, empobrecimento do solo, erosão,
desertificação, entre outros.
O que tem chamado atenção nos
últimos 10 anos, é o aumento da contribuição ao desmatamento, pelos “negócios
do vento” (e se inicia também nesta trágica trajetória, as mega usinas solares
fotovoltaicas). Grandes complexos eólicos têm se instalado no Nordeste,
em áreas do interior (mas também em áreas litorâneas), onde predomina a
vegetação do tipo caatinga, único bioma 100% brasileiro, ocupando cerca de 10%
do território nacional e 70% da região Nordeste.
Conforme cálculos do Instituto
Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), a Caatinga teve sua vegetação reduzida
pela metade devido ao desmatamento. São aproximadamente 500 mil hectares
devastados por ano, principalmente para produzir energia, criação de animais,
entre outras atividades. E agora, os complexos eólicos, com a instalação
desenfreada, sem regulamentação, e com a conivência de órgãos públicos que
deveriam cuidar deste bioma.
Hoje, através de estudos
técnicos-científicos, é possível identificar inúmeros impactos causados pela
modalidade de produzir energia elétrica em larga escala, através do conceito de
produção “centralizada”, cujos beneficiários são aqueles que literalmente
exploram este bem natural, os ventos. Na concepção capitalista prevalece o
lucro em primeiro lugar, sem a preocupação com a preservação e proteção da
natureza, deixando como herança os malefícios provocados, não só para as
populações locais, mas para todo o planeta.
O que chama a atenção é o
discurso e ações contraditórias e ambíguas dos governos estaduais nordestinos
em relação à emergência climática em curso (a responsabilidade do atual
desgoverno federal nem se fala, já que é anti-ambiental, ecocida). Ao mesmo
tempo que discursam em prol da descarbonização, promovendo a expansão das
fontes renováveis em seus territórios, estes governos se curvam às exigências
dos grandes empreendimentos. Flexibilizam a legislação ambiental, omitem na
fiscalização, permitindo assim que os complexos eólicos sacrifiquem áreas de
preservação, as serras, os brejos de altitude, os fundos e fechos de pasto, territórios
onde vivem as populações originárias (índios, quilombolas), e a própria
agricultura familiar com a neo-expropriação (http://cersa.org.br/destaque/negocios-do-vento-arrendamento-ou-expropriacao-de-terra/)
de terras para a instalação dos equipamentos desta atividade econômica,
excludente, concentradora de renda e predatória.
A contribuição ao desmatamento
da Caatinga pelos “ negócios do vento”, com um modelo de negócio sem
compromisso com a vida das pessoas e com a natureza, deve ser motivo de uma
ampla discussão na sociedade.
O enfrentamento da crise
climática exige mais fontes renováveis de energia (sol, vento, água, biomassa)
para uma matriz energética sustentável, justa e inclusiva. Mas a opção adotada,
levando em conta mega projetos eólicos, é contrário ao que a ciência propaga,
sobre a gravíssima situação que se encontra o planeta Terra, devido às escolhas
humanas erradas, em relação à produção e consumo.
A insanidade dos tomadores de
decisão na área de energia tem que ser combatida e contida, com informação,
transparência e participação, com a democratização no processo de escolhas das
políticas energéticas. E não pela ação dos lobistas que “capturam” os órgãos
públicos para seus fins, sem se importar com a população e a natureza.
Aconselho
o livro “Cárcere dos ventos” https://www.salveasserras.org/o-carcere-dos-ventos-destruicao-das-serras-pelos-complexos-eolicos/
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