Domingo, 2 de fevereiro de 2025 - 13h36
Creio que o Presidente Lula, que foi um presidente pragmático em seus
dois primeiros mandatos, talvez por influência de sua esposa, tornou-se um
presidente ideológico de extrema esquerda, neste seu terceiro mandato,
cometendo, na minha avaliação de modesto advogado de província, alguns
equívocos que poderão tornar o ano de 2025 um ano de pesadelos para o Brasil.
O primeiro dos equívocos é aquele da política econômica que teima em
seguir, semelhante àquela que levou a presidente Dilma ao impeachment, de
gastar o que não tem, elevando consideravelmente a dívida pública,
descompassando as contas do Governo, propiciando o aumento da inflação e a
dramática desvalorização do real.
O país entrou na ciranda inflacionária, com o estouro do teto máximo da
meta de inflação em 2024, ou seja, 4,84% quando a meta, em sua tolerância
máxima era de 4,50%, gerando um círculo vicioso de aumento de juros, fuga de
recursos – tivemos uma das maiores saídas de dólares do país -, redução de
investimentos e imprevisibilidade de possível reversão deste processo pela
resistência de cortes de despesas que são feitas, em parte, sem recursos
próprios.
Entramos no denominado fenômeno econômico da “dominância fiscal”, em que
nem mesmo uma rígida política monetária é capaz de sustar a inflação.
A previsão, portanto, com esta mentalidade presidencial, a qual o
Ministro Fernando Haddad não consegue alterar,é de que teremos mais fugas de
capitais, resistência dos bancos estrangeiros em sugerir investimentos no país,
elevação da inflação, com a possibilidade de ocorrer o triste fenômeno da
estagflação, ou seja, estagnação desenvolvimentista e inflação.
Ronal Coase e Douglas North, dois prêmios Nobel de Economia, em seus
escritos do século passado, entendiam que, sem segurança jurídica, não há possibilidade
de prosperar a economia de mercado.
O segundo equívoco de seu governo é, portanto, trazer a Suprema Corte
para apoiá-lo, já que 7 dos 11 Ministros foram indicados por seu Partido, ou
seja, por ele ou a Presidente Dilma. Há um protagonismo maior do Pretório
Excelso a favor do Presidente Lula, com invasões de competência do Poder
Legislativo e hospedando pautas presidenciais, como de regulação das redes
sociais, marco temporal, narrativas golpistas, etc, o que gera uma insegurança
jurídica que intranquiliza parte considerável da população.
Não sem razão, como mostrou o jornal O Estado de São Paulo, em um de
seus editoriais, a credibilidade do STF, na avaliação entre “bom” e “ótimo”,
caiu de 32% para 12% na opinião pública. Isto representa que 88% do povo
brasileiro não considera a Corte nem ótima, nem boa, razão pela qual se
compreende porque, pela primeira vez, seus Ministros são obrigados a sair à rua
com muitos seguranças.
Lembro-me, nos 43 anos de Simpósios de Direito Tributário que coordenei
no Centro de Extensão Universitária, que saia com Ministros como Moreira Alves,
Oscar Corrêa, Carlos Mário Velloso, Cezar Peluso sem necessidade de qualquer
segurança, muitas vezes levando-os em meu carro às suas residências ou hotéis
sem acompanhamento de ninguém.
Mais do que isto. Nos restaurantes todos que os viam diziam com
admiração e reverência “Lá vem um Ministro do STF”. É que, à época, nem
legislavam, nem interferiam na administração pública, sendo tão somente juízes
encarregados de administrar a justiça, no máximo como legisladores negativos,
dizendo se uma lei era ou não inconstitucional, mas não legislando, até porque
a Constituição os proíbe de fazê-lo por força dos artigos 49, inciso XI e 103,
§2º.
À evidência, minhas divergências doutrinárias com os eminentes Ministros
do STF não mudam minha admiração pelos seus méritos de grandes juristas e de
idoneidade moral inquestionável. Sou apenas um professor universitário de
província, mas como cidadão com o direito de expor minha inteligência sobre a
Constituição e sobre o Direito, num país em que a liberdade de Cátedra continua
ainda sendo permitida.
O terceiro equívoco, a meu ver, que dificultará o crescimento do país
reside em não pretender seguir seu discurso de posse de pacificação nacional,
mas, ao contrário, continuar com narrativas conflitivas, mantendo o clima “Eu
contra eles” e não “Nós pelo Brasil”.
Como antigo professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
por 33 anos e emérito - título outorgado ainda em 1994 -, disse durante todo o
segundo semestre de 2022 que o risco de golpe de Estado era zero, multiplicado
por zero, dividido por zero, somado a zero. É que o curso onde lecionei desde
1990, foi criado em 1989 para aqueles coronéis dentre os quais seriam escolhidos
os generais ao fim de cada ano, para que fossem, todos eles, escravos da
Constituição.
Sabia, portanto, que nunca, nunca dariam um golpe de Estado.À evidência,
8 de janeiro foi uma baderna em que um grupo desarmando e sem líderes jamais poderia
dar um golpe de Estado. Nunca houve, na história do mundo, um golpe de Estado
sem armas e sem Forças Armadas.
Foi semelhante à baderna que o PT e o MST fizeram no Governo Temer,
invadindo e destruindo dependências do Congresso Nacional, nem o STF nem o
Governo tendo-os punido como golpistas.
Manter a narrativa, dois anos depois, na Praça dos Três Poderes
esvaziada de povo e repleta de autoridades e servidores, é não querer a
pacificação, mas pretender continuar alimentando a polarização. É de se lembrar
que o discurso em “defesa da democracia”, que quer dizer governo do povo, não
teve povo na comemoração. A manutenção desta polarização alimentada pelo
Governo, não faz bem ao Brasil.
O quarto e último ponto – não abordo outros pelo tamanho do artigo – diz
respeito à palavra de presidentes. Um presidente deve ter a liturgia do cargo,
como tiveram Fernando Henrique e Michel Temer. Cada palavra em público que diz
tem reflexos na Economia, na Política e no Exterior.
Ora, o presidente Lula não tem cautela no que diz. Quando fala em
economia criticando o mercado e os livros de economia, não pretendendo cortar
gastos, nem controlar as contas públicas, afeta imediatamente o câmbio, a
inflação e a confiança no país. Quando manda uma embaixadora à posse do
fraudulento ditador Maduro, está avalizando uma ditadura sangrenta. Quando diz
que Dilma sofreu um golpe desmoraliza seu Ministro da Justiça, que foi o
presidente do procedimento de impeachment, com aprovação do Congresso Nacional
e previsão constitucional. O mesmo ao declarar que o Presidente Temer não foi
eleito e não poderia estar na Presidência, quando sua posse seguiu
rigorosamente a Constituição.
E assim, outros deslizes como comparar o amor à democracia ao amor à amante
e não à esposa, desmoraliza a Instituição do casamento, equiparando este amor a
uma traição conjugal e, certamente, desagradando sua esposa e todas as
mulheres, menos as amantes.
São algumas reflexões que trago, na esperança de que o Presidente Lula
deixe de ser candidato ou sindicalista, quando podia dizer o que quisesse, e
lembre que é o Presidente do Brasil, em razão do qual todos os brasileiros e eu
desejaríamos quês seu Governo desse certo e não mostrasse sinais de problemas
que poderão afetar toda a Nação em seu futuro.
Ives
Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo,
UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do
Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal
Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral
(Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia),
doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das
PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do
Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Pauli
sta de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).
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