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Papa de todos, todos, todos…


Rodrigo Luiz dos Santos - Gente de Opinião
Rodrigo Luiz dos Santos

“Nasceu na capital argentina no dia 17 de Dezembro de 1936, filho de emigrantes piemonteses: o seu pai Mário trabalhava como contabilista no caminho de ferro; e a sua mãe Regina Sivori ocupava-se da casa e da educação dos cinco filhos.” É assim que a biografia oficial de Jorge Mario Bergoglio é apresentada pelo Vaticano.

O arcebispo de Buenos Aires havia deixado seu país para o Conclave após a renúncia de Bento XVI. Desde então, nunca mais retornou à Argentina. O homem escolhido pelo Espírito Santo para governar a Igreja Católica naquela quarta-feira, 13 de março de 2013, se apresentou ao mundo como Francisco. 

Jesuíta, o novo papa disse ter vindo “do fim do mundo”, referindo-se ao fato da Argentina ser conhecida como uma das mais austrais do planeta. Sua escolha parece ter sido uma resposta à oração de João Paulo II, em 1993: “o mundo estava com saudades de Francisco”. Prece que elevou a Deus em sua visita ao Santuário do Monte Alverne, na Itália, local em que o santo italiano do século XIII recebeu os estigmas de Cristo.

Francisco de Assis recebeu de Jesus a missão de restaurar uma Igreja em ruínas. Reforma esta que tem caracterizado o Pontificado de Francisco nestes doze anos. Ao invés do Palácio Apostólico, o Papa preferiu manter-se próximo das pessoas; segundo ele, essa vida normal faz bem e o ajuda a evitar o isolamento. 

Sua proposta de descentralização de poder, resultou na criação de um Conselho de Cardeais, na nomeação de mulheres para cargos estratégicos como Dicastério para Vida Consagrada e Governo do Estado Cidade do Vaticano, além de uma consulta considerada a maior da história da Igreja para ouvir católicos do mundo todo. “Caminho de fraternidade, amor e confiança entre nós”, pediu a todos em seu primeiro discurso na Sacada da Basílica São Pedro, no Vaticano. Ali, iniciava seu caminho: “Bispo e povo”. 

Em suas audiências gerais semanais, os discursos ficaram mais curtos para dedicar mais tempo aos abraços. Sua personalidade foi marcada pela disposição em ouvir, acolher, retribuir carinho, o bom humor, abençoar gestantes, casais novos, bebês, ou simplesmente distribuir doces às crianças e tomar chimarrão.

Francisco revelou a Igreja, como uma Mãe fecunda “que não tem medo de arregaçar as mangas para derramar o azeite e o vinho sobre as feridas dos homens (cf. Lc 10, 25-37); que não observa a humanidade a partir de um castelo de vidro para julgar ou classificar as pessoas”.

Com cerca de 1,3 bilhão de membros, a Igreja Católica Apostólica Romana é formada por pecadores, necessitados da misericórdia. “Esta é a Igreja, a verdadeira Esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu Esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e beber com as prostitutas e os publicanos (cf. Lc 15). A Igreja que tem as suas portas escancaradas para receber os necessitados, os arrependidos, e não apenas os justos ou aqueles que se julgam perfeitos! A Igreja que não se envergonha do irmão caído nem finge que não o vê, antes, pelo contrário, sente-se comprometida e quase obrigada a levantá-lo e a encorajá-lo a retomar o caminho, acompanhando-o rumo ao encontro definitivo, com o seu Esposo, na Jerusalém celeste”, afirmou na conclusão da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, em 2014.

“Feito tudo para todos”, como o Apóstolo Paulo (cf. I Cor 9, 22), o “Vigário de Cristo” na terra afirmou que na Igreja Católica há espaço para todos. Podemos considerar que as palavras do “Servo dos servos de Deus” diante de milhares de jovens, em Portugal, em 2023, têm sua inspiração no Catecismo da Igreja Católica: “Pelos profetas, Deus forma o seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma aliança nova e eterna, destinada a todos os homens” (C.I.C. 64). “Todos, todos, todos” revela a aliança de Deus, em Abraão, a quem prometeu: “Em ti serão abençoadas todas as nações da terra” (Gen 12,3).

Suas primeiras palavras como Papa - “Rezem por mim” - ecoaram por onde passou. Ganharam adesão de toda Igreja e se tornaram ainda mais evidentes durante sua última hospitalização no Hospital Gemelli, em Roma. O local se tornou uma espécie de “Acampamento de Oração”, com intercessores fiéis e pessoas de boa vontade na torcida por Francisco. Intercessão que contagiou Cardeais e colaboradores da Cúria Romana na Praça São Pedro e se estenderam ao mundo todo.

Com o máximo de transparência, o Vaticano buscou comunicar boletins atualizados. A imprensa também manteve-se pronta para noticiar com “verdade, bondade e beleza”, no aguardo da melhor notícia que seria sua completa recuperação.

No entanto, Papa Francisco concluiu sua missão terrena. Desejou que seu corpo fosse sepultado na Basílica Santa Maria Maior, em Roma, próximo ao ícone de Nossa Senhora Salus Popoli Romani, diante do qual retornava para rezar após cada viagem. 

Francisco é o segundo papa mais longevo da história cristã, ficando atrás apenas de Leão XIII, que morreu aos 93 anos em 1903. Seu legado demonstra uma vida inteira dedicada a manifestar a concretude do Amor, agora  eternizado em nossos corações. 

*Rodrigo Luiz dos Santos é jornalista e membro da Comunidade Canção Nova.

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